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Trabalhadores resgatados atuavam em fazenda de filho de deputada

Trabalhadores resgatados atuavam em fazenda de filho de deputada

Nordestinos viviam em situação degradante em alojamento em Pedro Canário

Publicado em 24 de maio de 2018 às 00:42

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Estrutura do alojamento não tinha colchões para todos os trabalhadores. (ministério do trabalho/Divulgação)

Resgatados há uma semana em condições análogas à escravidão, cerca de 60 trabalhadores nordestinos que atuavam no Norte do Estado ainda aguardam o recebimento dos salários e o transporte para voltarem às cidades de origem. Eles atuavam na colheita de café na fazenda Córrego de Ouro, na zona rural de Pinheiros, e ficavam em dois alojamentos em Pedro Canário, onde viviam em condições degradantes.

A GAZETA teve acesso com exclusividade a depoimentos de trabalhadores que apontam o empresário Daniel Mageste Lessa, filho da deputada estadual Raquel Lessa (PROS), como o proprietário da fazenda.

Eles foram aliciados pelo empresário Nilton Cabral Rocha, conhecido como “Bola”, segundo depoimentos. Bola teria oferecido o serviço para trabalhar na colheita de café durante três meses, com alojamento e pagamento diário de R$ 70.

Um dos trabalhadores, natural do Piauí, contou que chegou em Pedro Canário no dia 3 de maio em um ônibus que levava 28 trabalhadores. Cada um teve que pagar a própria passagem, no valor de R$ 180, com promessa de serem reembolsados. Outro resgatado vindo da Bahia relatou que chegou ao alojamento em 15 de maio, em um ônibus com cerca de 50 pessoas.

Ambos contaram que os alojamentos não tinham camas, e quem não havia levado colchão dormia diretamente no chão. Eles tinham que beber água da torneira e a alimentação era cobrada, a R$ 20 por dia. Eles contam que receberam apenas um par de luvas e lonas para trabalhar.

Nos depoimentos, os trabalhadores afirmavam que não conheciam Daniel ou mesmo sabiam que ele era dono da propriedade a princípio. As Carteiras de Trabalho haviam sido recolhidas e ficaram retidas com Bola.

De acordo com o superintendente do Trabalho no Estado, Alcimar Candeias, os trabalhadores estão em um hotel em São Mateus. “Estamos fazendo a formalização e a rescisão em função das condições absolutamente degradantes. A partir disso emitimos as guias de seguro-desemprego, fazemos o cálculo rescisório para a empresa promover o pagamento, e após isso, contratar um transporte para levar os trabalhadores para suas cidades”, explicou.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu investigação para apurar o caso e está aguardando a chegada do relatório de fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho para apurar responsabilidades.

A reportagem procurou o dono da fazenda, Daniel Lessa, que disse ser vítima de um golpe assim como os trabalhadores. Ele afirmou ter contratado Nilton para recrutar trabalhadores de forma legal. “Quem contratou os trabalhadores foi o Nilton, que omitiu a mim essas informações de que a contratação foi feita fora do padrão trabalhista e que eram do Nordeste. Nem da existência desses alojamentos eu sabia”, alegou.

A deputada Raquel Lessa deu a mesma versão de Daniel e ressaltou que a terra não é de sua propriedade. “A fazenda é do meu filho, que já é de maior e tem 30 anos, e não tem nada a ver comigo, tanto que eu não estava nem sabendo”, afirmou.

A reportagem não conseguiu contatar Nilton Bola. (Com informações de Mikaella Campos)

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