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Afinal, por que o preço da gasolina sobe rápido, mas custa a cair?

Afinal, por que o preço da gasolina sobe rápido, mas custa a cair?

Especialistas explicam os motivos para essa percepção dos consumidores

Publicado em 12 de junho de 2018 às 21:32

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Para acabar com a greve dos caminhoneiros, o governo se comprometeu em reduzir o preço do diesel nas bombas em R$ 0,46. A Petrobras também anunciou algumas quedas da gasolina na refinaria após a paralisação, graças à desvalorização do dólar. No entanto, a percepção dos consumidores é que, ao contrário dos aumentos, que são quase instantâneos, essas diminuições após anunciadas demoram para chegar de fato aos postos, ou às vezes nem chegam.

Do valor pago pelo consumidor, um terço corresponde ao preço do combustível na refinaria, no caso da gasolina, e metade, em relação ao diesel – o restante é composto de tributos federais e estaduais, distribuição e revenda. Ainda assim, a mudança dos preços no início da cadeia se mostra difícil de chegar à ponta.

Após rodar vários postos da Grande Vitória, o eletricista João Saraiva Bitencourt, que possui uma caminhonete a diesel, não encontrou em nenhum a redução prometida. “Está custando muito para baixar do jeito que falaram. Já vi lugar até 0,35 centavos mais barato, mas é raridade”, conta.

João, que já trabalhou em posto de gasolina, afirma que as reduções são raras. “Eu nunca vi grandes quedas no posto, mesmo quando anunciado. Baixar é muito difícil. Mas aumentar que é bom é todo dia, anunciou lá, mudou aqui”.

A opinião é a mesma do comerciante Richarddson Borges. “Parece que eles só repassam quando sobe, quando é redução nunca chega”, comenta ele, que tem três veículos e agora prefere usar o carro a gás do que os movidos a gasolina e a diesel.

EXPLICAÇÕES

Segundo o advogado da área de direito do consumidor Rodrigo Cristello, a percepção dos consumidores é real. Ele explica que em função do estoque já adquirido pelo posto, ele precisa ser vendido para que o novo preço seja repassado.

“A aquisição do combustível é feita em grande escala, então se há estoque, só vai haver reajuste quando o estoque acabar e ele comprar o combustível com novo preço. A prática de preços é livre, o que não pode haver é a combinação deles entre os postos, o que configura cartel”, explica.

Cristello orienta que se o consumidor perceber um aumento instantâneo após anunciada elevação na refinaria, ele deve denunciar ao Procon. “Se o aumento é instantâneo, o consumidor deve informar ao Procon, que aciona o posto para justificar o aumento. Elevar o preço sem justificativa não pode”.

Para o economista e professor da UVV Mário Vasconcelos, o repasse desses aumentos de forma rápida é uma prática de mercado para recompor margens de lucro e obter recursos para comprar o novo combustível mais caro.

“Na mesma hora que anunciam o aumento na refinaria, o posto já reage e eleva também o combustível mesmo tendo o estoque cheio do anterior. Isso para se ter condição financeira para comprar o novo combustível com o preço mais caro quando o estoque acabar. É a forma que ele tem de se proteger e lucrar ao mesmo tempo”, comenta.

SINDICATO

O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sindipostos-ES) ressaltou que após a refinaria, o combustível ainda passa pelas distribuidoras, o que determina o repasse dessas oscilações, e refutou que haja um efeito automático dos reajustes da refinaria para o posto, em função de haver as distribuidoras como intermediárias.

O Sindicato citou outros pontos que impactam essa variação, como a composição. "A gasolina e o diesel comercializados na bomba possuem 27% de etanol e 10% de biodiesel, respectivamente. E esses produtos possuem preços e variações que independem do preço de venda da Petrobras", informou.

Interfere ainda o custo do posto, como aluguel, salários e taxas, que variam de forma independente dos aumentos da refinaria. Assim, para o próprio Sindipostos, a percepção é natural porque “diferentemente das reduções, que acontecem gradualmente, a recomposição das perdas de margem por conta das reduções graduais normalmente acontecem de uma vez só”, informou.

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A orientação do sindicato é que os consumidores pesquisem e escolham sua preferência de acordo com o equilíbrio de preço, serviço e atendimento.

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