Danielle Torres, sócia-diretora da Prática de Seguros da KPMG no Brasil
Danielle Torres, sócia-diretora da Prática de Seguros da KPMG no Brasil. Crédito: Divulgação KPMG

Empresa vira referência em política de inclusão de profissionais trans

Danielle Torres já ocupava o cargo de diretora executiva antes de fazer a transição

Publicado em 12/06/2018 às 15h38
Atualizado em 29/01/2020 às 17h37

Textos: Diná Sanchotene, Guilherme Sillva, Mariana Perim e Siumara Gonçalves

Políticas de inclusão estão em alta dentro das empresas. A ideia é tratar com igualdade todos os colaboradores independentemente de gêneros, etnias, classes sociais, religiões, entre outros pontos. As discussões são necessárias e devem envolver todos os funcionários, incluindo os altos executivos das companhias.

Mas, como tratar o assunto quando uma pessoa trans decide assumir sua identidade de gênero quando está inserido dentro da empresa? O tema deve ser tratado com seriedade até para minimizar o impacto do preconceito no cotidiano. Um exemplo de como uma empresa deve atuar nesses casos vem da KPMG, de São Paulo, cujo programa de inclusão é referência para outras organizações pelo Brasil.

A sócia-diretora de Prática de Seguros da KPMG no Brasil, Danielle Torres, passou por um processo de afirmação de gênero quando já ocupava o cargo. Ela conta que, até assumir a nova identidade, foi necessário um longo caminho a ser percorrido.

"Estou no meu quinto ano de transição. Em 2011, passei pelo meu primeiro ataque de pânico. Na época, tentava compreender o porquê dessas crises, quando ao mesmo tempo cuidava de questões pessoais. Foi quando esbarrei na questão de identidade de gênero. Ninguém vira uma pessoa trans, você é assim. No começo, imaginei que lidaria com minha vida pessoal longe do trabalho, mas, aos poucos, fui percebendo que não é bem assim", conta Danielle.

A executiva lembra que para tratar as crises de pânico começou a fazer psicoterapia, o que a ajudou a descobrir que as questões não estavam relacionados ao estresse ou qualquer outra relação no âmbito profissional. Desde muito jovem, Danielle conta que tinha o hábito de escrever a partir de do ponto de vista de uma mulher.

"Durante o processo de afirmação, participei de uma palestra dada pelo sócio da empresa, Ramon Jubels, sobre inclusão e diversidade. Naquele momento, percebi que precisaria assumir quem eu era. Até que surgiu a pergunta: de que forma poderia lidar com isso na empresa? Procurei o Ramon, conversamos, fizemos diversas reuniões até chegar o momento da minha transição. Recebi todo o apoio do executivo e também da companhia. Aos poucos, fui resgatando minha identidade feminina até me assumir como Danielle", ressalta a executiva. 

Em outubro de 2017, Danielle foi reconduzida ao cargo, utilizando a nova identidade. "Poder ser quem eu sou foi um dos maiores benefícios que pude conquistar", comemora ela, que começou a trabalhar na KPMG como traniee, em 2005. Ela passou por diversos cargos até chegar a sócia diretora.

Uma outra peça importante em todo o processo de transição foi a líder do Comitê de Inclusão e Diversidade da empresa no Brasil, Patrícia Molino. "Emitimos diversos comunicados a todos os colaboradores da empresa falando sobre a temática de identidade de gênero e que tínhamos uma pessoa passando pela transição. Na correspondência, ressaltamos os valores globais de inclusão da companhia", avalia Patrícia.

A líder aponta que a transição foi conduzida com tranquilidade, na velocidade adequada ao tema. "Meu foco sempre foi ligado à excelência de entrega do meu trabalho e em representar a KPMG. A identidade de gênero é uma questão individual minha e que está um pouco mais aparente agora.

Patrícia Molino, líder do Comitê de Inclusão e Diversidade da KPMG no Brasil. Crédito: Divulgação KPMG
Patrícia Molino, líder do Comitê de Inclusão e Diversidade da KPMG no Brasil. Crédito: Divulgação KPMG

Acredito que a entrega profissional não depende de ser homem ou mulher. Estou na empresa para fazer e entregar um trabalho de excelência", observa.

Para Danielle, a dica para uma boa transição é a paciência, para que as coisas se organizem melhor. "A carga emocional é forte. Procure ter calma, ter o acompanhamento de um especialista para que todo o processo seja feito com naturalidade", orienta.

Patrícia Molino destaca que, dentro de um ambiente corporativo, há várias pessoas com crenças e valores diferentes, o que pode representar um desafio a mais na hora da afirmação de gênero. Para ela, o essencial é garantir uma ambiente inclusivo, com um espaço seguro para que haja respeito.

"Oportunidade e diretos têm que ser para todos. Isso deixa a companhia mais forte quando o ambiente é inclusivo, seguro, igualitário e respeitoso a todos. Quando a transição ocorre dentro da empresa, é preciso entender que o assunto requer cuidado. O momento é de mudança no mercado de trabalho. As pessoas precisam ser quem elas são e todos nós precisamos de respeito e atenção para ser quem somos e fazer o melhor. É importante ressaltar que assunto é novo, mas, na dúvida, respeite!", prega Patrícia.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.