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Escalada do dólar: o que explica a alta e o que muda na nossa vida

Escalada do dólar: o que explica a alta e o que muda na nossa vida

Imprevisibilidade das eleições deixam investidores sem saber o que esperar do futuro, congelando investimentos no país

Publicado em 14 de junho de 2018 às 19:35

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Dólar comercial tem chegado próximo ao patamar de R$ 4. (Bearfotos | Freepik)

O cenário ainda incerto para as eleições presidenciais tem sido um dos fatores de instabilidade do mercado brasileiro, causando a alta do dólar — que voltou a subir nesta segunda-feira (18), fechando em R$ 3,73 — e a queda da Bolsa brasileira, com o Ibovespa fechando com 69.815 pontos na última segunda, pior patamar desde agosto de 2017.

O fenômeno está aliado à alta dos juros americano, que subiu na última quarta-feira (13) de 1,75% para 2% ao ano, gerando um movimento dos investidores em direção aos títulos públicos dos Estados Unidos. Além disso, uma disputa comercial entre China e Estados Unidos, elevando tarifas de importação também tem preocupado o mercado.

No cenário interno, analistas ouvidos pelo Gazeta Online, no entanto, afirmam que o mercado está inseguro com o rumo das eleições, por conta do alto índice de indecisos e o desempenho abaixo do esperado dos candidatos de centro. A tendência é que esse descrédito só melhore a partir de 2019.

Além disso, o desempenho da atual gestão, do presidente Michel Temer (MDB), tem tornado os investidores ainda mais pessimistas, principalmente após a atuação do governo para contornar a greve dos caminhoneiros, com os problemas gerados pela adoção de uma tabela mínima de preço de fretes.

MERCADO ESTRESSADO

O professor de Finanças e Mercado Financeiro da Fucape, Fernando Galdi, explica que é comum alguma incerteza dos investidores em anos de eleição, mas que o pleito deste ano extrapola essa instabilidade em um nível muito maior que o normal. Para ele, este patamar de desconfiança é semelhante com o das eleições de 2002, quando o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT) despontava nas pesquisas.

“Na época também vivíamos um impacto bem grande do dólar e uma queda na bolsa, porque não se sabia qual seria a política econômica adotada no governo do petista. Neste ano, vários candidatos de perfis diferentes estão na disputa. Não se sabe se elegerá Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin ou Jair Bolsonaro. Cada um tem uma política econômica diferente. Tudo isso faz o investidor enxergar um país correndo riscos”, afirma.

INSTABILIDADE NO ATUAL GOVERNO

(Antonio Cruz | Agência Brasil)

Outro fator que gera desgaste no mercado é atuação de Temer durante a crise gerada pela greve dos caminhoneiros. Diversos setores criticaram a concessão de uma tabela de preços mínimos de frete, como foi pleiteado pleos caminhoneiros, sem analisar os riscos dessa medida.

“Há o risco de uma nova paralisação, já que muitos setores não aceitaram a medida. O investidor fica sem saber o que esperar e não investe”, explica Galdi.

INTERVENÇÃO DO BC NA OSCILAÇÃO DO DÓLAR É PONTO POSITIVO

Apesar da desconfiança com o governo, analistas viram com bons olhos a intervenção do Banco Central (BC) para controlar a variação do dólar. Foram anunciados na semana passada uma injeção de US$ 20 bilhões para amortizar a alta da moeda americana no mercado brasileiro, sendo que desta quantia, US$ 13 bilhões já foram injetados.

“O BC tem um volume de reservas grande e pode reduzir a flutuação do câmbio, amortecendo o impacto de oscilações muito fortes. Para os brasileiros é complicado trabalhar com um câmbio que varia muito, porque fica difícil prever os custos e os lucros se a moeda muda a toda hora. A atual gestão do Banco Central ainda tem a confiança do mercado de que essas mudanças vão de fato refletir a oferta e a demanda de moeda, trabalhando para amortecer e não para controlar a taxa de câmbio”, revela o economista Eduardo Araújo.

EFEITOS PARA O CONSUMIDOR CAPIXABA

(Carlos Alberto Silva | GZ)

A alta do dólar deve refletir principalmente nos produtos importados. Para os consumidores capixabas, o pão francês deve ficar mais caro, já que o trigo utilizado é importado. Quem planeja viagens para o exterior também vai sentir o peso no bolso.

“Vinhos importados, aparelhos eletrônicos, celulares e as viagens vão ficar mais caras para o consumidor interno. Quem investe na bolsa também precisa ter atenção, com o dólar valorizado, a tendência é que as pessoas busque investir no mercado americano, desvalorizando alguns produtos da bolsa brasileira. Talvez seja hora de se desfazer e apostar em renda fixa”, opina Araújo.

EFEITOS PARA O EXPORTADOR CAPIXABA

O outro lado da moeda é que se fica mais caro para importar, também fica mais lucrativo para vender produtos no mercado externo. Alguns dos principais commodities capixabas, como o aço, o minério de ferro e o mamão papaya, por exemplo, podem ficar com um preço mais atrativo para os produtores.

(Martinelle | Pixabay)

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“O setor público também poderá comemorar uma arrecadação maior, já que o petróleo e os royalties que provêm da exploração dele devem dar uma valorizada, por conta do preço do barril, vendido em dólares. Isso gerará um aumento na arrecadação. Por outro lado, para quem depende do combustível, pode ser mais um fator de aumento de custos no preço da bomba”, ressalta Galdi.

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