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Juro afasta produtores do crédito subsidiado

Juro afasta produtores do crédito subsidiado

Taxa de mercado está mais em conta que a do Plano Safra

Publicado em 10 de junho de 2018 às 22:46

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Produção de hortaliças no Estado: agricultores fugiram do financiamento subsidiado. (Arquivo - Gildo Loyola)

O produtor rural está se vendo obrigado a mudar de estratégia na hora de buscar um financiamento. Com a taxa de juros básica da economia (Selic) em seu menor índice histórico, de 6,5% ao ano, parte dos agricultores está abrindo mão dos empréstimos subsidiados pelo governo federal, que, na teoria, deveriam ser mais acessíveis.

Isso acontece porque o Plano Safra, que disponibiliza recursos para o financiamento do custo da produção de médios e grandes produtores, assim como outros programas específicos para os produtores rurais, têm taxas de juros fixas e definidas antes dos planos anuais de safra.

Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, no início da safra, em julho do ano passado, a Selic, usada como base para captação de recursos a serem emprestados, estava em 10,25% ao ano. Com isso, o juro do Plano Safra foi estabelecido, à época, em 8,5%, o que para aquele momento era vantajoso.

Ao longo dos meses, porém, a taxa básica veio despencando até o patamar atual, de 6,5%. Com o juro agrícola subsidiado fixado, houve uma busca maior por empréstimos sem o suporte público, já que o mercado acompanhou de forma mais rápida as quedas da Selic e foi tornando seu juro mais atrativo.

Dados do Banco Central apontam que de julho a março, o total de crédito rural subsidiado foi de R$ 93,7 bilhões, montante 1,6% maior que o contratado no período anterior. Já o crédito com juros de mercado cresceu 42,2%, totalizando

R$ 25,3 bilhões em financiamentos. A maior parte desse acréscimo do financiamento foi devido à utilização de recursos da Letras de Crédito da Agronegócio (LCA) e da Poupança Rural.

Alternativa

“O produtor precisou fazer uma ginástica e garimpar as melhores oportunidades porque o juro agrícola não compensava. Nossa orientação é que o produtor se oriente antes de tomar o crédito”, afirma Júlio Rocha, ressaltando ser impossível não recorrer a organismos financeiros. “No Estado, tivemos uma enchente em 2013 e depois um longo período de secas, que ainda fazem com que o produtor precise tomar crédito pelas perdas passadas”.

Para o economista Orlando Caliman, o cenário é curioso, mas não chega a ser negativo. “O próprio mercado está dando a solução para o problema e atendendo a demanda sem precisar do governo. São meios diferentes de concessão de crédito, o que dá essa outra opção”, comenta.

O Sicoob, segundo maior operador de crédito rural do Estado, teve um acréscimo de 17% de valores liberados nesta safra até abril em comparação com o ano anterior. Segundo o especialista em Produtos e Serviços da cooperativa, Eduardo Frohlich, o crédito com recursos próprios está mais barato.

“A taxa do Plano Safra está cara. Hoje, trabalhar com LCA e recurso próprio está mais em conta do que com recurso do governo, coisa que três anos atrás era difícil de imaginar. O próprio crédito rural está se financiando, então, temos boas perspectivas de crescer mais 20% no próximo ano”, diz.

Agora, que foi anunciado o Plano Safra 2018/2019, a expectativa é que o cenário de financiamento rural volte aos padrões anteriores, segundo a assessora técnica da Comissão Nacional de Política Agrícola da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Fernanda Schwantes.

“Esse ciclo de flexibilização da política monetária só foi possível graças à queda da inflação, que teve grande contribuição do campo. Por isso, agora esse tema assume importância ainda maior, pois determina em que medida a agropecuária terá acesso a juros mais condizentes com o atual patamar vigente”, afirma a técnica.

NOVA SAFRA TERÁ TAXA MENOR

Lançado nesta semana pelo governo federal, o Plano Safra 2018/2019 terá taxas de juros bem menores que as atuais, em função da Selic mais baixa.

Os recursos, que estarão à disposição dos produtores a partir de 1º de julho até 30 de junho de 2019, terão juros de 6% ao ano para os médios produtores (com renda bruta anual de até R$ 2 milhões) e de 7% ao ano para os demais produtores. As taxas para os financiamentos de investimento ficarão entre 5,25% e 7,5% ao ano.

Segundo o Ministério da Agricultura, os recursos disponibilizados nessa safra também serão maiores: R$ 194,3 bilhões. Na atual, foram liberados pelo governo R$ 190,25 bilhões.

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Do total de recursos, R$ 151,1 bilhões serão destinados ao crédito para custeio, R$ 40 bilhões para investimentos, R$ 2,6 bilhões para o apoio à comercialização e R$ 600 milhões para subvenção ao seguro rural. (Com agências)

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