Laerte: "A maior dificuldade da pessoa trans é sempre a autoaceitação"

Laerte, artista ícone da transformação no Brasil, fala sobre aceitação como pessoa trans

Publicado em 15/06/2018 às 20h37
Atualizado em 29/01/2020 às 17h54

Textos: Diná Sanchotene, Guilherme Sillva, Mariana Perim e Siumara Gonçalves

Foto: Laerte/Reprodução Facebook

Laerte Coutinho é cartunista e chargista brasileira, considerada uma das artistas mais importantes na área no Brasil. Em 2010, aos 58 anos, ela se assumiu como mulher e optou pela prática pública do crossdressing, pessoa que usa roupas associadas ao gênero diferente daquele designado a ela na hora do nascimento.

Defensora e ícone da causa trans no Brasil, em 2012 Laerte fundou a Associação Brasileira de Transgêneras (Abrat). Nesta entrevista exclusiva, a artista detalha como lida com sua mudança de gênero.

Como ocorreu a transição? Foi difícil tomar essa decisão?

A ideia de "transição" é meio estranha para mim. Eu entendi o que era o desejo diferente que sentia e, por causa disso, acho que não precisei "transitar" mais. Não vejo o meu processo como uma sequência de etapas, um caminho progressivo em direção a uma verdade trans ou algo assim. Estou aprendendo, construindo minha expressão dentro da transgeneridade, desde 2004. As etapas dizem respeito ao entendimento dessa transgeneridade. Demorei o tempo que foi necessário, no contexto da minha vida, e ainda vou levar mais tempo!

E como percebeu isso?

Houve primeiro a aceitação da homossexualidade, que escondi por 30 e tantos anos. Depois, no estado de paz pessoal que se instalou, me reconheci na transgeneridade, de modo mais ou menos contínuo.

Quais foram as maiores dificuldades?

A maior dificuldade é sempre a autoaceitação. A partir dela todos o medos se dimensionam, todos os riscos podem ser encarados. Meus parentes, amigos e amigas, sempre me apoiaram e acolheram.

O que você diria para quem passa pela mesma situação?

Acho que não tenho uma fala geral. Cada pessoa enfrenta problemas particulares nesse processo. Para algumas pessoas é relativamente tranquilo, enquanto que, para outras, quase impossível. Repito que a fagulha principal é sempre dentro da gente, e que a clareza dela deve nos abastecer de energia para o que for necessário. Também repito que poder contar com apoio de pessoas queridas e próximas, que nos conhecem bem, é de muita importância - quando isso é possível.

O que mudou em sua vida após essa mudança?

De essencial, nada. Continuo a mesma pessoa. Só mais tranquila, me reconhecendo mais como sou agora.

Você se considera uma pessoa trans?

Eu sou uma trans, mais do que me considerar. Não é uma condição a que aspiro nem uma posição para a qual esteja me preparando. Eu sou, reconheci em mim a transgeneridade e é o que preciso.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.