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Morre aos 88 anos Emídio Pais, dono de tradicional loja de Vitória

Morre aos 88 anos Emídio Pais, dono de tradicional loja de Vitória

Empresário estava internado há dois meses e sofreu uma parada cardíaca na noite da última segunda-feira. Natural de Senhorim, em Portugal, fundou uma tradicional loja em Vitória, em 1971

Publicado em 19 de junho de 2018 às 13:07

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O empresário Emídio Pais, em sua loja em Vitória. (Edson Chagas/Arquivo AG)

O empresário português Emídio Pais, dono de uma tradicional loja de material de construção de Vitória, faleceu na noite desta segunda-feira (19), após sofrer uma parada cardíaca. Emídio, que tinha 88 anos, estava internado há dois meses em um hospital após sofrer uma queda dentro da casa em que morava.

Natural de Senhorim, a 285 quilômetros de Lisboa, em Portugal, Emídio chegou ao Brasil em 1952. Trabalhou como pedreiro, limpador de fossa e desempenhou diversas atividades até abrir sua loja de material de construção, em 1971, na Avenida Leitão da Silva, em Santa Lúcia. Seu estabelecimento trazia o conceito de showroom, uma inovação para época, já que dispunha de banheiros completamente montados, como mostruário para os clientes.

A filha de Emídio, a empresária Clara Pais, descreve o patriarca como uma pessoa dedicada à família, sempre muito animado e que gostava de dançar, contar piadas e conversar com as pessoas.

“Ele era uma pessoa muito vibrante. Fez da empresa a nossa família, tanto é que os filhos ainda trabalham todos na loja. Infelizmente ele já enfrentava alguns problemas de saúde por conta da idade. Ele caiu em casa e bateu a cabeça, há dois meses. Ficou internado todo esse tempo e ontem não resistiu. A gente está passando por esse processo de luto, mas conscientes de que ele foi um homem muito bom e honesto”, afirma Clara.

Emídio será enterrado no cemitério de Santo Antônio, às 16h desta terça-feira (19). O velório será na capela do cemitério, a partir das 11h. Veja abaixo o perfil do empresário publicado no jornal A Gazeta, em maio de 2015.

EMÍDIO PAIS: UM HOMEM A FRENTE DE SEU TEMPO

Relembre abaixo a matéria sobre a trajetória de Emídio Pais publicada em A GAZETA no ano de 2015

Luísa Torre

Era 1952 quando Emídio decidiu se mudar para o Brasil com a mãe e a irmã. O sonho de viver além-mar já existia desde que ele tinha 15 anos, quando o pai morreu, mas foi adiado por Emídio devido à sua pouca idade.

Após servir ao Exército, aos 22, Emídio então chegou em Vitória com apenas uma dívida de 10 mil cruzeiros e nada mais. Foi morar com um tio, dono de uma fábrica de ladrilho e de uma loja de ferragens, onde desempenhou diversas funções, de limpeza de fossa a carregador.

A vida de Emídio, no entanto, não seria fácil. Ele teve de largar a escola ainda aos 9 anos, para trabalhar nas propriedades rurais de sua família. “Vim para cá sem saber ler nem escrever e com 10 mil cruzeiros de dívida. Meu tio financiou a nossa viagem e trabalhei com ele até pagar minha dívida. Quando paguei tudo a ele, falei: ‘o mundo é meu, não devo nada a ninguém’, e foi isso mesmo”, relembra.

A partir dali, ele conseguiu um emprego como pedreiro em Nova Almeida, na Serra. “Eu trabalhava 11, 12 horas por dia, comprei um terreno ali e no meu tempo livre construí uma casinha. Não era para morar, era para ganhar dinheiro. Eu era solteiro e queria fazer uma coisa útil e que fosse rendoso para mim”, conta.

Dali, Emídio foi ser ajudante de caminhão de bebidas, carregando pesados engradados, e depois foi auxiliar de caminhão em um fábrica de biscoitos. Foi quando surgiu a oportunidade de abrir um “secos e molhados” no novo loteamento do Ibes, em Vila Velha. Como não tinha jeito de aumentar a loja, vendeu ela e veio para a Praia do Suá, onde seu tio tinha uma lojinha de material de construção. Logo depois, comprou outro terreno na Praia do Suá e decidiu fazer ali um prédio.

Emídio começou, então, a trabalhar de 6h às 23h todos os dias sozinho, e desempenhando todas as funções na loja, de carregador a gerente. Mas, quando ele tinha 33 anos, um olhar iria roubar o coração de Emídio: a irmã de seu alfaiate, Clara, chegava de Portugal. “Eu fui na casa deles e a vi pela primeira vez. Não falamos nada, os olhos falaram mais do que nós. Com seis meses de namoro, casamos e logo vieram os filhos”, diz Emídio.

PERCALÇOS

Mas nem tudo são flores. Em 1971, uma enchente fez Emídio perder parte de seu estoque e ter parte da loja destruída. Ele chegou a pensar em concordata, mas preferiu seguir em frente. Quatro anos depois, o amor de sua vida, Clara, morreria em um acidente de carro.

Porém, focado no trabalho árduo, a loja prosperava e Emídio comprou então um depósito do material de construção (no local onde é atualmente a loja, na Leitão da Silva), onde abriu também uma lojinha. “Começou a vender mais no depósito do que na loja”, diz. Foi quando, em 1981, ele inaugurou um showroom, onde exibia banheiros totalmente equipados, uma inovação para a época. Hoje a loja conta com 10 mil metros de área construída e mais de 15 mil itens no mix de produtos, focados em acabamento, além de empregar 80 pessoas.

Além dos filhos, dois netos trabalham no espaço com Emídio. Agora, o plano é expandir a loja para Laranjeiras, na Serra, onde o empresário estuda comprar um terreno para depósito e, quem sabe, abrir uma filial ali.

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