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Com tensão comercial, dólar supera os R$ 3,91 e Bolsa está em queda

Com tensão comercial, dólar supera os R$ 3,91 e Bolsa está em queda

Em começo de semestre de volume reduzido por conta do jogo da seleção brasileira, investidores reagem com cautela a incertezas sobre comércio global

Publicado em 2 de julho de 2018 às 17:44

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Dólar. (Arquivo | Agência Brasil)

A tensão dos investidores com os rumos do comércio global inibe o apetite ao risco neste começo de semestre de volume reduzido no Brasil em função do jogo da seleção brasileira. A persistente tensão comercial entre Estados Unidos e China apoia um dólar forte no exterior e um repique da moeda americana ante o real. Às 13h36, o dólar à vista subia 0,73%, aos R$ 3,9060, após ter atingido R$ 3,9195 pela manhã, subindo 1,08%.

O mau humor global prevalece nesta segunda-feira (2) na Bolsa brasileira. Às 13h11, o Ibovespa recuava 0,48% aos 72.410 pontos. Na mínima caía a 71.935 pontos, em baixa de 1,14%. A desaceleração no ritmo das perdas no mercado local coincidiu com o mesmo comportamento nas bolsas de NY.

DÓLAR

Na sexta-feira (6) devem entrar em vigor as tarifas americanas sobre US$ 34 bilhões em produtos chineses, que terão aplicação recíproca pela China em mesmo montante. No domingo, o Canadá passou a tarifar os EUA. A preocupação é com os efeitos sobre a economia global.

O ajuste ocorre em meio à possibilidade sinalizada pelo Banco Central de realizar no mês de julho leilões extraordinários de swap novo e de linha com recompra, se for necessário. Contudo, dessa vez, a autoridade não adiantou o montante que pretende ofertar nessas operações.

Para o diretor-executivo da corretora NGO, Sidnei Nehme, a estratégia está correta e pode limitar a especulação, mas não impedir a alta que é amparada pelo exterior diante do atual embate comercial, e por perspectivas de elevação do juro americano na reunião do Federal Reserve de setembro, além do cenário eleitoral interno indefinido.

"Quando conhecem o montante da atuação por determinado período, os agentes de mercado já se preparam para acolher a oferta e, naturalmente, deprimem a taxa de câmbio sem, contudo, reverter o viés de alta, e melhoram assim a estratégia de lucro nas operações, uma vez que há fundamentos para a subida do dólar", explica.

Investidores estrangeiros e tesourarias de bancos são os principais compradores desses contratos, que representam venda no mercado futuro de dólar ao investidor, que paga uma taxa de juros ao BC. Na pratica, há uma troca de variação cambial por juros.

Para operadores, o início da rolagem do vencimento de swap cambial de agosto não teve impacto na formação de preços por se tratar de contratos antigos. "Esse vencimento de swap só teria feito preço se o BC tivesse anunciado que não faria essa rolagem", afirma Jefferson Rugik, diretor da Correparti.

"Com a cautela predominando lá fora e o mercado local pequeno por causa do jogo do Brasil, qualquer demanda por dólar fez preço mais cedo, tanto para cima como para baixo", afirma Hideaki Iha, operador da corretora Fair.

A agenda semanal também justificaria uma postura mais cautelosa, afirmam esses profissionais. Além das tarifas comerciais, é esperado na sexta o relatório oficial de emprego (payroll) norte-americano e os dados da balança comercial de maio, que podem mexer com as apostas de política monetária do Fed e alimentar a discórdia comercial, apesar da previsão de queda do déficit americano com os chineses para US$ 43,8 bilhões (-US$ 46,20 bi em abril).

Para o payroll, os analistas esperam criação de 195 mil postos (+223 mil em maio) e estabilidade na taxa de desemprego, em 3,8%, e também do aumento do salário médio por hora (+0,3%), que fechou maio em US$ 26,92.

Com o feriado da independência americana na quarta-feira (4), os mercados fecharão mais cedo na terça-feira em Nova York e a ata da última reunião do Fed e os dados de criação de empregos no setor privado do país em junho foram adiados para divulgação na quinta-feira.

No mercado local, por sua vez, estão previstos também dados de produção industrial de maio, na quarta-feira, e o IPCA de junho, na sexta-feira. Ambos os indicadores devem refletir os efeitos da paralisação dos caminhoneiros sobre a economia, com retração da atividade e aceleração dos preços, sobretudo dos alimentos. A divulgação dos números de junho da balança comercial será feita na terça, em virtude do jogo da seleção brasileira.

BOLSA

Além da incerteza quanto ao comércio global, pesa contra ações brasileiras a desvalorização do petróleo nos mercados futuros de Londres e de Nova York e a depreciação do minério de ferro no mercado à vista chinês. Com isso, Petrobrás e Vale perdem valor desde a abertura da Bolsa no horário normal (10h de Brasília).

Ao contrário da desvalorização de todas as blue chips, estão em firme alta os papéis da BRF e da Eletrobrás. Quanto à empresa de alimentos, cuja direção ganhou Pedro Parente como principal executivo, a valorização decorre da avaliação positiva do mercado sobre o plano de reestruturação anunciado na noite de sexta-feira. O Credit Suisse elevou a recomendação da empresa para neutro e preço-alvo de R$ 18.

Já a XP Investimentos recomenda a compra e tem como preço-alvo R$ 25. Às 13h07, a ON da BRF subia 15,06% e liderava o ranking de maiores altas e também o das ações mais negociadas do Ibovespa. "Do lado positivo, a empresa evita fazer um aumento de capital nos atuais preços de mercado [e anuncia] foco nos mercados onde a empresa é líder", escreveram os analistas da corretora Elite. "Do lado negativo a venda de ativos deverá fazer com que a receita e Ebitda da empresa caia razoavelmente", completaram.

No caso da Eletrobrás, a apreciação decorre do otimismo de agentes do mercado quanto à possível venda das distribuidoras da companhia. Mesmo com incertezas jurídicas e indicadores financeiros ruins, as empresas da estatal representam uma grande oportunidade de negócios para os investidores. Perto do horário acima, a ON da Eletrobrás subia 3,45%. A PNB avançava 2,88%.

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No radar do investidor logo cedo, esteve o Relatório de Mercado Focus, que trouxe a redução da previsão de alta do PIB em 2019 de 2,60% para 2,50% ante 3,00% de quatro semanas atrás. O movimento mostra que a lenta retomada da atividade já evidente em 2018 segue contaminando as perspectivas para o ano que vem. Vale destacar também que o Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 1,9 ponto em junho ante maio, alcançando 90,5 pontos, segundo informou cedo a Fundação Getulio Vargas (FGV).

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