Aos 78 anos, o agricultor Aquilau Stefanon colhe os frutos de mais de três décadas trabalhando com produtos da Mata Atlântica. Na propriedade de 70 hectares, que fica localizada em Anchieta, 14 são dedicados à preservação permanente, e no restante da área tem plantio de palmito, araçaúna, cajá-mirim, cajá, entre outras espécies. Tudo o que produz já tem destino certo, a venda por encomendas e em feiras livres.
A mesma oportunidade que ele enxergou há décadas, ainda pode ser aproveitada por outros agricultores capixabas, já que o Estado tem um forte mercado para esses produtos e a demanda pode expandir ainda mais.
Segundo dados de um estudo da The Nature Conservancy Brasil (TNC) desenvolvido pelo Centro de Desenvolvimento do Agronegócio (Cedagro), todos os anos, o Espírito Santo tem uma demanda de consumo de mais de 5,5 mil toneladas de frutas da Mata Atlântica. Os principais compradores desses produtos são fábricas de polpas e de picolés e sorvetes.
De acordo com Vanessa Girão, especialista em conservação da TNC, o bioma abrange 17 Estados brasileiros, sendo reconhecidas mais de 15 mil espécies nele. Como o Espírito Santo tem um potencial grande, por ser pequeno e de pequenas propriedades, há um perfil de diversificação de culturas existente nelas.
O estudo ainda destacou que a maior demanda de consumo no Estado é pelo caju, o que representa 26,27% do consumo total (1,4 mil toneladas). Em seguida, o cajá-manga (1,02 mil toneladas), a aroeira (1,02 mil toneladas), a palmeira jussara (869,3 mil quilos, o cajá-mirim (708 mil quilos) e a araçaúna (80,6 mil quilos).
Segundo o estudo da TNC, caju, cajá-manga e cajá-mirim são adquiridos, principalmente, na forma pré-processada, com origem de Sergipe e da Bahia.
Aquilau conhece bem esse mercado potencial e como trabalhar com ele. Um dos seus principais cultivos é o de araçaúna. A fruta roxa tem um sabor bem característico e azedinho, que lembra a goiaba e a jabuticaba. O que é colhido na plantação é transformado, dentro da própria fazenda, em polpa.
Em média, por ano, ele chega a produzir até uma tonelada de polpa. Cada barra de um quilo é vendida a R$ 10,00.
Outra fruta que Aquilau produz é o cajá-mirim, parente do cajá. Na propriedade são 30 pés plantados. Eu só mexo com as frutas tropicais. O clima daqui é propício para isso e, por isso, nenhuma fruta que eu tenho hoje tem doença, conta.
Duplo Papel
Segundo a bióloga e pesquisadora do Incaper Fabiana Ruas, é importante que os produtores enxerguem a produção de frutas da Mata Atlântica como uma maneira de realizar o reflorestamento associado à produção de renda.
Essas árvores cumprem um papel ambiental de restaurar a área degradada e também comercial, gerando renda para os donos da terra. Temos que fortalecer nossa biodiversidade, senão não teríamos porque falar que o Brasil é o país com a maior diversidade de biomas do planeta. Temos que valorizar isso.
A especialista ainda ressaltou que tem várias formas de conseguir mercado para os produtos da Mata Atlântica no Estado. O produtor pode plantar essas frutas conciliadas a outras árvores ou sozinhas. Os frutos podem ser transformados, por exemplo, em geleias e polpas para comercializar.
Saiba mais
Mata Atlântica
Bioma
A Mata Atlântica abrange 17 Estados brasileiros, sendo reconhecidas mais de 15 mil espécies
Frutos
As principais utilizações dos frutos são em doces, geleias, polpas, sucos e licores
Consumo anual no ES
Total: o Estado consome em média 5,5 mil toneladas desses produtos, sendo que grande parte vem de fora
Caju: 1,4 mil toneladas
Cajá-manga: 1 mil toneladas
Aroeira (pimenta rosa): 1 mil toneladas
Palmeira jussara (fruto): 869,3 mil quilos
Cajá-mirim: 708 mil quilos
Pitanga: 216,7 mil quilos
Jabuticaba: 154,2 mil quilos
Araçaúna: 80,6 mil quilos
Jenipapo: 2,2 mil quilos
Abiu silvestre: 1,3 mil quilos
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