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Acordo entre EUA e México pode afetar o Brasil

Acordo entre EUA e México pode afetar o Brasil

Para analistas, exportações de autopeças ficariam prejudicadas

Publicado em 28 de agosto de 2018 às 11:54

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Porto de Vara Cruz, no México. Acordo entre EUA e México pode afetar setor automotivo do Brasil. (Reprodução/Pixabay)

Donald Trump anunciou nesta segunda-feira, em cerimônia da qual o mexicano Enrique Peña Nieto participou em teleconferência, um acordo comercial preliminar entre Estados Unidos e México que visa a substituir o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). A proposta, da qual não foram divulgados muitos detalhes, isola o Canadá, cria barreiras adicionais para o México e joga um comércio anual de US$ 1,2 trilhão em uma zona de incerteza. Peña Nieto teve de ouvir Trump celebrar sua primeira vitória em uma disputa comercial, mas esta pode ser efêmera. No Brasil, teme-se que o acordo prejudique as exportações.

Lideranças do Partido Republicano já indicaram dificuldades em aprovar no Congresso americano uma proposta sem o Canadá, o que torna pouco factível o plano de ter um novo tratado em três meses, ou seja, antes da mudança do governo mexicano.

Após 13 meses de renegociação do Nafta, em vigor há 24 anos, Trump afirmou que o novo acordo era muito bom “para os dois países”. Trump, atualmente envolvido em diversas batalhas comerciais, já havia afirmado que o Nafta era o pior acordo celebrado pelos americanos, por causar fim de empregos e empresas nos EUA.

- Vamos chamá-lo de acordo de comércio entre os Estados Unidos e o México. Vamos nos livrar do nome Nafta, ele tem má conotação - disse Trump.

A previsão é que o novo acordo fique em vigor por 16 anos, prorrogáveis por igual período, e que seja revisto dentro de seis anos. Ele aumenta de 62,5% para 75% o mínimo de conteúdo regional para a venda de automóveis sem tarifas. E determina que de 40% a 45% das autopeças, dependendo do modelo, sejam feitas por trabalhadores que ganhem ao menos US$ 16 a hora - aproximadamente o dobro da remuneração na indústria mexicana. Na prática, isso dificulta que o México compre peças mais baratas de outros países (como o Brasil) e elimina uma das vantagens competitivas dos mexicanos: os baixos salários.

- Esse acordo preliminar é muito ruim para o México, que aceitou quase tudo o que os americanos queriam. E não sabemos se haverá regras de transição - disse ao GLOBO Valeria Moy, diretora-geral do centro de estudos México, Como Vamos?.

O Brasil tende a ser afetado por causa da integração da cadeia automotiva com o México. Fontes de organismos financeiros multilaterais em Washington ressaltam que, devido à taxa de conteúdo local mais elevada, o México teria de produzir mais peças e, consequentemente, deixaria de importar do Brasil. Outro risco seria perder investimentos para o México.

Segundo dados do Sindipeças, Estados Unidos e México só perdem para a Argentina na compra de autopeças brasileiras. Em 2017, os dois países compraram US$ 1,25 bilhão do Brasil.

Luiz Augusto de Castro Neves, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), acredita que as negociações para um acordo de livre comércio entre Brasil e México, agora, devem ser revistas. Para ele, o anúncio de ontem mostra maior protecionismo em relação a países fora da América do Norte.

CONGRESSO QUER CANADÁ

Mas Monica de Bolle, diretora do Programa de Estudos Latino-Americanos da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, acha que é cedo para afirmar isso:

- É muito difícil precisar o que vai ocorrer. Com a quota mínima de produção com salário elevado, a produção mexicana perde competitividade, e, neste caso, algumas empresas podem simplesmente abandonar o México e exportar direto do Brasil aos EUA.

Ela ainda vê muitas dúvidas cercando o acordo:

- No começo do ano, Trump anunciou um acordo comercial com a Coreia do Sul, o chamado Korus. Até agora, ele não foi assinado.

Para o gerente executivo de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Diego Bonomo, o acordo, pelo menos, reduz as incertezas:

- Há várias empresas brasileiras operando nos dois mercados que estavam preocupadas de os EUA simplesmente saírem do Nafta.

O maior entrave para a aprovação do acordo, que será enviado até sexta-feira ao Congresso americano, é a exclusão do Canadá. Mais leal parceiro americano, o país foi colocado de lado por Trump após entraves nas negociações com o governo de Justin Trudeau.

- Peço ao governo que inclua o Canadá em qualquer acordo final - afirmou nesta segunda o republicano Orrin Hatch, presidente do Comitê de Finanças do Senado, o que indica que Trump tem uma longa batalha pela frente.

SEM ‘DIGITAIS’ DE AMLO

A ministra canadense das Relações Exteriores, Chrystia Freeland, estará nesta terça-feira em Washington para continuar com as negociações do Nafta.

Já Peña Nieto disse que o presidente eleito do México, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador (conhecido como AMLO), que assume em dezembro, está ciente do acordo. Fontes dizem que, para o novo presidente, pode ser interessante ver o acordo aprovado antes de dezembro. Com isso, a revisão do Nafta não teria suas “digitais”.

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Em 2017, o Nafta movimentou US$ 1,2 trilhão. Este valor é 390% maior do que o registrado em 1993, quando o acordo foi aprovado.

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