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Com alta do dólar, preços dos alimentos começam a ficar mais caros

Com alta do dólar, preços dos alimentos começam a ficar mais caros

Economistas já estimam inflação maior com impacto do câmbio

Publicado em 24 de agosto de 2018 às 10:31

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Economistas já estimam inflação maior com impacto do câmbio. (Divulgação)

A alta do dólar já chega à mesa do brasileiro. Com a moeda americana ultrapassando os R$ 4,10, o varejo começa a repassar o avanço da divisa aos consumidores. Já ficaram mais caros ou vão subir nos próximos dias óleo de soja, alho, azeite, pães, biscoitos e carnes, com altas a partir de 5%. Aves e suínos devem ter aumento de pelo menos 15%, segundo estimativa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Para o Natal, supermercados preveem pagar, no mínimo, mais 50% pelo quilo do bacalhau e repassar boa parte do aumento para o preço na prateleira.

- Trabalhávamos com dólar na casa de R$ 3,50 para 2018, no início do ano, quando o preço dos grãos estava 50% menor - diz Ricardo Santin, diretor executivo da ABPA.

Segundo dados da entidade, o preço do milho subiu, em média, 53% em agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado. Já o farelo de soja subiu 43%.

- Os grãos representam até 70% dos custos de produção do frango e até 75% no caso dos suínos - conta Santin.

AUMENTO DEVE SER GRADUAL

Segundo o economista André Braz, analista de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), o impacto nos alimentos vai depender da duração do avanço da moeda americana. Ele ressalta que, neste primeiro momento, serão reajustados mais rapidamente os produtos ligados ao dia a dia, como derivados de soja, milho e trigo, como pães e massas em geral, além de carnes de boi, frango e porco:

- Esse repasse, porém, tende a ser gradual, pois não há espaço para elevar os preços de uma só vez. E, como estamos na reta final do período eleitoral, tudo indica que esse aumento do dólar vai perdurar. Por outro lado, itens duráveis, como carros e eletroeletrônicos, devem ter reajustes mais lentos e em um segundo momento, pois são setores mais sensíveis a preços e muito dependentes de crédito. Nesse caso, a economia ruim funciona como uma barreira.

Claudio Zanão, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães (Abimapi), destaca que 50% da farinha de trigo usada no Brasil são importados:

- Hoje, o dólar é a maior pressão no preço dos produtos. De janeiro a julho, com a alta do trigo, os preços dos biscoitos e do macarrão subiram entre 20% e 30%.

Na Rede Unno de supermercados - que reúne as bandeiras Bramil, Campeão, Costazul, Inter, Princesa, SuperPrix e Real de Itaipu -, a alta do dólar é vista com preocupação:

- Estamos fazendo as compras de bacalhau para o Natal, e o brasileiro pode se preparar, pois o quilo, que no ano passado custava em torno de R$ 40, vai passar para mais de R$ 60 - comenta Genival Beserra, presidente da Unno.

Ele dá outros exemplos. Entre esta semana e a anterior, o óleo de soja já teve aumento de 5%; o quilo do alho importado de países como China, Espanha e Argentina passou de R$ 7,50 para R$ 8,50; e o azeite subiu 10%.

- A partir da próxima semana, esses produtos estarão mais caros - afirma Beserra.

PREVISÃO MAIOR DE INFLAÇÃO

Mesmo com as altas e com a previsão de novos aumentos, o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, pondera que a inflação deve ficar em torno de 4,5% diante da baixa atividade econômica:

- Os alimentos contribuíram com a queda da inflação (no início do ano), mas agora já começam a subir, alguns com impacto do câmbio, como o pão francês e o arroz.

Na consultoria Tendências, a estimativa de inflação de alimentos no domicílio subiu de 4,1% para 6,2% este ano.

- Os alimentos costumam ser os primeiros produtos a captar a alta do dólar - disse Márcio Milan, economista da Tendências, que também vê impacto do câmbio, em breve, nos preços de vestuário e móveis.

Para o IPCA, a Tendências também revisou sua projeção de 3,7% para 4,3%, depois de o dólar ter valorização de 16% no segundo trimestre. Mesmo assim, Milan avalia que um IPCA mais alto este ano não levará o Banco Central a rever sua política de juros, já que, mesmo mais alta, a inflação ainda ficará abaixo do centro da meta (4,5%). No mercado, há consenso de que o BC vai manter a Selic em 6,5% até pelo menos o início de 2019.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), uma prévia da inflação, ficou em 0,13% em agosto, queda de 0,51 ponto percentual em relação a julho, divulgou o IBGE nesta quinta-feira.

O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, pondera que essa volatilidade do dólar é comum em períodos pré-eleitorais. Para ele, o fato de a atividade se manter fraca deve amortecer aumentos:

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- Haverá impacto nos preços somente se o dólar não recuar do atual patamar. Se isso acontecer em alguns dias, o impacto nos preços acaba sendo mitigado. No nosso cenário-base, ainda estimamos um dólar a R$ 3,70 no fim do ano. E, para a inflação, mantemos a projeção de IPCA a 4,2%.

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