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Preconceito driblado na hora de contratar profissionais

Preconceito driblado na hora de contratar profissionais

Empresas inovam na seleção para evitar discriminação de candidatos

Publicado em 15 de setembro de 2018 às 23:21

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A psicóloga Vânia Goulart diz que quanto mais uma empresa aposta na diversidade, mais produtiva ela é. (Carlos Alberto Silva)

Selecionar um candidato sem levar em consideração cor da pele, gênero, experiências ou faculdade onde estudou: é a chamada contratação às cegas que, aos poucos, está sendo utilizada no Brasil e também no Espírito Santo. A ideia é que nas etapas que antecedem a entrevista, por exemplo, sejam consideradas apenas as características técnicas, competências, habilidades e tendências comportamentais de um profissional.

A prática tem como objetivo ampliar a diversidade dentro das organizações, tentando eliminar ao máximo os preconceitos existentes na hora da seleção. De acordo com especialistas, este é um método de recrutamento que prioriza a capacidade e as aptidões, deixando de lado questões pessoais.

O processo de recrutamento é feito por meio de um software de seleção contratado pela empresa, que disponibiliza as oportunidades e inscrições por meio de um site. Depois disso, o candidato entra na plataforma e preenche todos os dados solicitados. A companhia então recebe um currículo com base nas habilidades e competências que o profissional preencheu, sem nenhuma informação pessoal. O sistema faz um filtro de acordo com as informações básicas, sem entrar no mérito das características pessoais.

Já a etapa de entrevistas é feita por uma empresa terceirizada de Recursos Humanos, que vai definir que tipo de perguntas serão feitas focando nas habilidades técnicas necessárias para o preenchimento da vaga.

“O objetivo é perceber se o perfil daquele profissional pode cumprir com as especificidades do cargo e superar as expectativas da organização sem levar em conta sua aparência e seus gostos, por exemplo”, afirma a especialista em gestão de pessoas e RH Poliane Tonini.

Dentre as vantagens da contratação às cegas está a valorização da diversidade, priorizando as competências profissionais e comportamentais de um candidato. Segundo a especialista em carreiras Gisélia Curry, é preciso que este formado esteja alinhado com os valores e a cultura da empresa.

“O recrutamento às cegas não pode ser feito por modismo. As equipes precisam estar preparadas para a diversidade e a inserção social, que é a proposta deste tipo de recrutamento, onde são deixados de lado os aspectos pessoais e analisadas as habilidade técnicas”, diz.

RESULTADO

A maioria das empresas ainda quer escolher o profissional de acordo com a faculdade que ele estudou. No entanto, aos poucos, essa cultura pode ser modificada por meio de processos de seleção mais modernos. A psicóloga Vânia Goulart lembra que bairro onde uma pessoa mora, idade e instituição de ensino são características que não garantem a qualidade profissional de determinado colaborador.

“Sabemos que há uma grande melhoria nos processos produtivos quanto há uma maior diversidade dentro das companhias. O recrutamento às cegas é uma forma de evolução. É preciso que as pessoas estejam abertas ao novo para conhecer e modificar suas equipes. O que faz a diferença é o comportamento e as habilidades dos colaboradores”, destaca.

INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE AO SELECIONAR

Jaciara Pinheiro diz que empresas passaram a usar aplicativos para achar talentos. (Divulgação)

Recomendar séries de acordo com o que o cliente já assistiu é comum nos serviços de streaming. A novidade agora é que ferramenta semelhante começa a ser implantada também nos processos seletivos.

O mercado já utiliza esse tipo de plataforma para confrontar dados enviados pelos usuários com o perfil de funcionário que as empresas buscam. O objetivo é ser mais assertivo no “match” entre candidato/vaga. A ideia, neste caso, é recomendar oportunidades condizentes com o perfil do candidato, com base no que ele informa ao sistema.

A metodologia está sendo usada no processo seletivo de estagiários da Vale. A proposta é que haja um alinhamento maior entre os valores do candidato e os da empresa.

A psicóloga Jaciara Pinheiro cita que também há outras propostas para encontrar o funcionário ideal. “Uma startup capixaba criou um aplicativo, que funciona como o tinder (aplicativo de paquera), para buscar pessoas ligadas à área comercial.” Segundo ela, o app verifica uma série de requisitos entre eles quais são os valores que o candidato e a empresa têm em comum.

Todas essas novidades aconteceram junto com a própria evolução do mercado de trabalho nos últimos anos. Como não poderia deixar de ser, os processos de seleção precisaram se modernizar para escolher os melhores profissionais.

Mais um exemplo disso são as dinâmicas de grupo que acontecem antes das entrevistas. Por meio dela, o candidato pode demonstrar seu comportamento e percepções, sem precisar contar o histórico de vida dele.

“Ainda existe muito processo padrão, mas a tendência é de modernização afim de reduzir o preconceito dentro das organizações. Modelos de contratação, como o que é feito às cegas, vão ganhar espaço. No entanto, é preciso comunicar o modelo do processo seletivo, dizer que será uma seleção aberta, onde o objetivo é saber quem é aquela pessoa, deixando a relação transparente”, destacou a diretora executiva de capital humano da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Fabíola Sarmento.

Para ela, o processo diferenciado tem como objetivo conhecer o candidato como um todo, o que ele faz, o que ele gosta, deixando-o mais tranquilo.

“Se a gente quer um processo aberto, às cegas, tem que explicar o porquê, caso contrário não vai dar certo. A grande questão é a isenção de preconceitos, dar oportunidades iguais a todos, mesmo que ainda timidamente.”

SAIBA MAIS

Contratações às cegas

O que é?

É um método de recrutamento que visa diminuir as chances das empresas e recrutadores discriminarem os candidatos por preconceitos ou por falta de foco em seus aspectos profissionais. O modelo foi criado na Europa e também é bastante usado nos Estados Unidos.

Está caracterizado pela valorização do comportamento humano, associado a modelos de empresas que prezam pela diversidade e inclusão no ambiente de trabalho.

Como funciona

 A plataforma elimina informações que possam caracterizar discriminação. A empresa contrata um software de seleção, sendo que o candidato precisa entrar na plataforma e preencher os dados solicitados. A companhia recebe o currículo cego, ou seja, sem as informações pessoais do profissional. É feita uma triagem e a análise é feita com base nas habilidades e nas competências que a pessoa preencheu. A entrevista presencial é realizada por um serviço terceirizado de recursos humanos, que foca as perguntas nas habilidades técnicas que estão definidas para a função.

Vantagens

Uma das vantagens é aumentar o rendimento da seleção, permitindo que o candidato seja avaliado de forma anônima. A iniciativa tem como objetivo eliminar os vícios e preconceitos entre os recrutadores. Além de ganhos de diversidade, o garimpo de profissionais sem detalhes de perfil garante que as empresas façam escolhas mais assertivas nas admissões.

Entrevistas

A seleção às cegas não impede de a empresa realizar entrevistas presenciais posteriores, nas fases finais do processo seletivo. Isso é bastante positivo, porque apresenta ao candidato a cultura da empresa e seus valores.

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Fonte: Empregare.com.

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