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Cultivo familiar faz a diferença no Estado

Cultivo familiar faz a diferença no Estado

Ensinamentos passados de geração em geração ajudam produtores a se destacarem no mercado

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 23:51

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Gilberto Briosch (centro) e seus pais Ana Joana e Clarindo, na Fazenda Briosch. Eles são produtores de Venda Nova. (Marcelo Prest)

Em um sítio em Venda Nova, na Região Serrana, a família Briosch, descendente de italianos, tem gado leiteiro e café. Da ordenha vem a matéria-prima para os queijos que vendem na propriedade. Já o café está ganhando outros continentes.

“Aprendi a produzir café com o meu pai, que começou o cultivo em 1976. Temos que ter o diferencial de fazer um bom produto para agregar valor à nossa produção”, conta o produtor Gilberto Briosch, 52 anos.

Cada vez mais consumidores pelo mundo exigem cafés com maior qualidade. Mas para que pequenos agricultores possam exportar o produto, um apoio é fundamental: o das cooperativas.

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O café que produzimos não chegaria ao mercado internacional se fosse só pelos nossos esforços como agricultores. Se você não tiver uma ponte, como a cooperativa, acessar o exterior é extremamente difícil

Gilberto Briosch, produtor rural
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Quem ajuda o café da família Briosch chegar a outros países é a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi). Há dois anos ela faz o elo entre os grãos produzidos no Espírito Santo e um comprador na Itália.

O café de altíssima qualidade é comprado por Michele Carisi, 51, de Treviso, na Itália. No país das massas e dos vinhos, o empresário tem uma microtorrefadora e cafeteria. Para ele, essa união de pequenos produtores para exportar grãos de qualidade é essencial. “A força só ocorre quando são unidos”, afirma.

A família é parte fundamental para produzir excelentes cafés no Estado. Os Venturim, associados a Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), trabalham desde 1882 com o grão e estão na quinta geração da cultura. O cafeicultor Lucas Venturim, 37, junto com seus dois irmãos, toma conta dos 280 mil pés de café da propriedade.

“Temos muito orgulho do que fazemos aqui, em família. Conseguimos pela primeira vez exportar nosso café, algo muito significativo. Duas clientes russas, uma campeã de barismo e outra fornecedora de café para eventos, vieram em 2017 para a competição de cafés da cooperativa e provaram o nosso. Neste ano, voltaram para conhecer o local onde era produzido e gostaram.”

SUPORTE E TREINAMENTO PARA O AGRICULTOR

Nos últimos anos, o Brasil se consolidou como um dos maiores produtores e exportadores mundiais de alimentos. Enquanto isso, o Estado vem conquistando seu espaço no exterior. Mas para que os cultivos e os mercados avancem é necessário investir cada vez mais em treinamento e suporte.

A Cooperativa de Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel) aposta no treinamento e no acompanhamento técnico para incentivar que os produtores avancem no modo de cultivar os grãos de conilon.

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Temos quase 50 técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos que realizam o acompanhamento dos nossos cooperados e ainda fazemos o dia de campo, onde levamos os cafeicultores a vivenciar a prática das novidades do setor

Onivaldo Lorenzoni, diretor-secretário da Cooabriel
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Já a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) presta consultoria técnica e treinamento sobre avicultura, cafeicultura e uso de insumos para os seus associados.

“Às vezes, o produtor tem uma pedra preciosa e precisa lapidá-la, e nós o ajudamos com isso. Também promovemos o Prêmio Café Pio Corteletti, que é uma forma de reconhecer os produtores de cafés especiais e chamar atenção deles para esse tipo de cultivo”, conta Giliarde Cardoso, gerente da Unidade Café da Coopeavi.

AGREGAR VALOR NÃO DEPENDE DE INVESTIR PESADO

Não é preciso grandes maquinários para agregar valor à produção. É o que aponta a coordenadora de Segurança Alimentar e Estruturação da Comercialização do Incaper, Rachel Quandt Dias. Por isso, o Estado pode aumentar ainda mais a produção de alimentos especiais e gourmetizados sem precisar de grandes investimentos.

Segundo ela, é possível transformar desde as folhagens até as raízes cultivadas pelo agricultor em mercadorias com valor diferenciado. “Em menor ou maior grau é possível agregar valor a todas as culturas. Com o processamento mínimo, pode ter cenouras cortadas ou minicenouras, couve cortada e coco ralado. Já quando há um processamento maior, por exemplo, o produtor faz queijos e linguiças.”

A especialista também lembra que é importante que o produtor rural procure a inspeção sanitária municipal ou estadual ou o Ministério da Agricultura, dependendo da sua produção, para ter o registro sanitário.

ANÁLISE

O desafio é como criar valor

Marcelo Boschi Coordenador do MBA de Marketing Estratégico da ESPM-Rio

A questão hoje é como um produtor rural pode criar valor sobre o que produz. Ele precisa entender os potenciais competitivos da região onde a sua propriedade está inserida. A partir desse ponto, criar uma identidade local e começar a ter padronização de processos produtivos reconhecidos, tendo selos nacionais (Sisb, Sif ou Arte).

Quando o cliente conhece e reconhece o produto como algo de valor agregado, pela construção do processo de identidade regional e de qualidade, é possível negociar um preço melhor. Sozinho é difícil para os produtores conseguirem passar por esses processos, mas quando se organizam são capazes de melhorar o planejamento. Eles conseguem construir uma identidade coletivamente. Por meio de cooperativas, cada um tem a sua produção e espaço próprios, mas que seguem produções de higiene e de controle de qualidade, elevando o valor do produto de forma coletiva.

 

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