> >
Falta emprego para 356 mil pessoas no Espírito Santo

Falta emprego para 356 mil pessoas no Espírito Santo

A grande fila que se viu nesta sexta-feira, em um supermercado de Vitória, é apenas um pequeno exemplo do prejuízo social provocado pelo desemprego

Publicado em 20 de outubro de 2018 às 13:57

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Fila de emprego na Vila Rubim, em Vitória. (Eduardo Dias)

A fila de mais de 3 mil pessoas disputando uma vaga de emprego nesta sexta-feira, na Vila Rubim, Vitória, é apenas um pequeno exemplo do prejuízo social provocado pelo desemprego no Brasil.

Os números revelam que o cenário do mercado de trabalho do país é desafiador. Falta emprego para quase 20 milhões de trabalhadores, sendo que 356 mil vivem no Espírito Santo, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua (Pnad-C), do IBGE.

No Estado, pessoas desocupadas (257 mil) ou subempregadas (99 mil) estão na briga pelas vagas formais que surgem. “Muita gente que estava fazendo bico, trabalhando poucas horas ou que não estava com nenhuma atividade passa a acompanhar esse processo de criação de novos postos de trabalho”, explica a economista Danielle Nascimento, da OPE Sociais, ao dizer ainda que a fila não representa todo o drama, já que mais pessoas se movimentam também pela internet à procura de uma colocação profissional.

A especialista afirma que a leve queda no desemprego, apontada pela última Pnad, não reflete a realidade de baixa inclusão de determinados perfis de trabalhadores. “É possível que os empregos abertos estejam atendendo aos mais qualificados. A recuperação não tem sido igual para todo mundo”, comenta ao acrescentar que outro fator agrava o quadro: pessoas qualificadas que também disputam com os trabalhadores de baixa escolaridade as vagas que têm apontado no mercado.

A multidão que se aglomerou numa fila ontem e depois num pequeno pavilhão estava atrás de 132 oportunidades para estoquista, embalador, fiscal de loja, caixa e açougueiro ofertadas pela rede de supermercados Extrabom. Durante a distribuição das fichas, por volta das 8h30, houve confusão. A Polícia Militar e a Guarda Civil precisaram acompanhar o caso.

O gerente de marketing da varejista, Yuri Corrêa, afirmou que a situação saiu do controle, apesar que a empresa esperava uma grande quantidade de pessoas durante a inscrição. “É a situação real do país, tem carência de emprego, as pessoas estão ansiosas para isso”, destacou ao afirmar que as pessoas poderiam também ter se candidatado pela internet. “Não dá para desconsiderar que muitas pessoas não têm internet. Mas o cadastro on-line tem o mesmo peso.”

Desempregado, Luiz Ronald Pereira Ribeiro, de 58 anos, mora no bairro Conquista, em Vitória. Sua profissão é operador de empilhadeira, mas ele está em busca de qualquer trabalho que encontrar.

“É a necessidade, as pessoas estão precisando. Tem gente desempregada há mais de ano. Eu estou há mais de dois anos sem emprego. Não dá pra ficar em casa sem dinheiro. Estou na fé, creio que vou conseguir”, declarou.

Já Sara Gomes de Jesus, de 42 anos, está procurando algum emprego como auxiliar de serviços gerais. Ela chegou no local ontem por volta de 6h30.

A cena tem ficado comum. Na última quinta-feira, 18, para garantir uma das mais de 150 vagas de empregos anunciadas pelo Sine de Aracruz, 250 pessoas dormiram em frente ao local. Com o objetivo de pegar uma senha para se candidatar a um dos empregos disponíveis, alguns trabalhadores não se importaram de pegar chuva no tempo em que ficaram na fila. (Com informações de Eduardo Dias)

Trabalho temporário pode amenizar cenário de desemprego

Se por um lado a fila gigantesca que se formou nesta sexta expôs a demanda enorme por uma recolocação no mercado de trabalho, por outro a esperança recai no comércio. Saindo aos poucos da crise e com números animadores neste ano, o setor estima que cerca de 3 mil vagas temporárias devem ser criadas no Espírito Santo neste final de ano, com a aproximação da Black Friday, Natal e verão.

Em média, as oportunidades são para três meses de duração. Segundo o diretor da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-ES), José Antônio Pupim, aproximadamente 20% dessas pessoas devem ser contratadas definitivamente.

“As empresas enxugaram bastante, reduziram o quadro. O último mês já apresentou sinais bons e a expectativa é que melhore ainda mais. Vai ser bastante positiva a geração de empregos. Pode ser que até mais de 20% acabem sendo efetivados”, disse Pupim.

A maior parte das vagas é para a função de vendedor em lojas de shoppings e de rua. Somente na Glória, importante polo comercial de moda de Vila Velha, a estimativa dos lojistas é de que 2 mil vagas temporárias sejam abertas para este período natalino de acordo com a presidente da Associação dos Comerciantes (Uniglória), Amel Aboul, que ainda destacou que o faturamento dos estabelecimentos da região chega a aumentar 60% durante o Natal.

A quantidade de currículos recebidos é tanta que, segundo Amel Aboul, comerciantes estão desconsiderando aqueles que são entregues pessoalmente. A Uniglória pede que os currículos sejam enviados para o e-mail [email protected] ou cadastrados no site www.modagloria.com.br.

Além da função de vendedor, Amel Aboul também cita outras funções que têm vagas abertas. “Tem oportunidade para auxiliar de loja, que são pessoas que dobram as roupas; precisamos de estoquistas, porque aumenta a quantidade mercadorias e, por isso, precisamos de mais pessoas e de trabalhadores mais ágeis nos estoques; e temos também vagas para seguranças”, comentou.

Análise: ponta de um iceberg

A multidão que se aglomera em busca de uma oportunidade é a ponta de um iceberg. Isso porque, para haver uma redução dos índices de desemprego, é preciso retomar os investimentos, o que não vem acontecendo, mesmo depois que a economia brasileira voltou a crescer, colocando um fim à recessão. Não dá para esperar, no curto e médio prazo, uma reversão significativa do desemprego. Quem sobreviveu à crise, cortou vagas e não deve abrir novas em grande quantidade. Além disso, a precária estrutura de ensino prejudica a formação de pessoas aptas a ingressar no mercado modificado pela tecnologia. Outro agravante é que nenhum dos candidatos à Presidência apresentou de forma clara, precisa e conclusiva, qual projeto tem para reverter essa situação. Esse assunto sequer foi abordado em alguma das falas dos presidenciáveis.

Este vídeo pode te interessar

Arilda Teixeira, economista e professora da Fucape

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais