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Por que o mercado financeiro se animou com o resultado do 1º turno?

Por que o mercado financeiro se animou com o resultado do 1º turno?

Uma verdadeira corrida de investidores por ações, sobretudo de estatais, fez o Índice Bovespa da B3, a Bolsa de São Paulo, ter uma alta de 4,57%

Publicado em 9 de outubro de 2018 às 00:53

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(Edson Chagas )

O resultado do primeiro turno da eleição presidencial teve forte impacto no mercado nesta segunda-feira (8). Uma verdadeira corrida de investidores por ações, sobretudo de estatais, fez o Índice Bovespa da B3, a Bolsa de São Paulo, ter uma alta de 4,57%, chegando aos 86.083 pontos, maior nível desde 16 de maio e maior alta em mais de dois anos. O pleito também fez a B3 registrar o maior volume financeiro nominal da sua história, com R$ 28,9 bilhões.

Já o dólar comercial à vista fechou ontem no menor nível em dois meses, cotado em R$ 3,767, com queda de 2,40%. Com a flutuação, o real teve o melhor desempenho ante o dólar considerando uma cesta de moeda dos principais mercados emergentes.

Para economistas e corretoras de investimentos o movimento é claro: os 16 pontos percentuais de vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) sobre Fernando Haddad (PT) projetou uma visão de mercado mais otimista em relação ao próximo governo.

Essa reação, segundo o economista-chefe da Valor Investimentos, José Márcio Soares de Barros, se dá porque a candidatura do militar se apresenta para o mercado como mais possível de garantir e realizar reformas, tema caro aos investidores.

“O mercado não é político, mas nesse caso ele comprou a ideia de que é mais fácil que se tenha as reformas no comando de um Bolsonaro do que apostar numa ideia que já não deu certo no passado. Mesmo que ele apresente um risco, com a falta de clareza no programa dele, uma gestão dele seria melhor. Pode ser uma aposta errada, mas o mercado escolheu um lado em que acredita ter menos risco.”

José Márcio ressaltou que, no início da campanha, a candidatura de Bolsonaro não era a preferida do mercado, o que mudou a medida que as pesquisas indicavam a falta de competitividade – comprovada nas urnas – de Geraldo Alckmin (PSDB), que tinha um perfil mais reformista; e que a candidatura de Haddad foi ganhando força nas pesquisas, restando apenas a opção pelo presidenciável do PSL para barrar o PT. “O Bolsonaro nunca foi o candidato dos sonhos do mercado. As pautas do campo econômico não estão claras no programa de governo dele e acabou que não houve o debate delas.”

CONGRESSO

Outro ponto que contou no mercado foi o fato do PSL conseguir a segunda maior base na Câmara, com 52 deputados eleitos, o que aumenta a possibilidade de, se eleito, Bolsonaro avançar com as reformas, de acordo com operadores da B3.

“Se entendeu na candidatura dele um maior liberalismo econômico e, além disso, a força do partido na Câmara, que deve crescer com alianças, reflete também um cenário de governabilidade em torno de Bolsonaro, que permite avançar nas reformas”, analisou Gustavo Moraes Mota, da Uniletra Corretora.

Se por um lado o militar faz acenos pró-mercado, como com seu economista ‘posto Ipiranga’ Paulo Guedes, por outro, para Mota, o PT faz acenos ainda mais contundentes anti-mercado. “Se vê o PT como uma ameaça até pelo que se prega no plano de governo deles, como a revogação da PEC do teto dos gastos e da reforma trabalhista, e o fato de que se eles proporem uma reforma da Previdência, será alguma coisa bem básico, que resolve pouco.”

As ações do chamado ‘kit eleição‘ ou ‘kit Brasil’ foram mais uma vez o destaque do dia na Bolsa. Os papéis da Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras tiveram alta intensa, algo também associado à promessa de independência dessas estatais.

A tendência é que a eleição siga ditando os rumos. Mas, para os investidores, já dá para “respirar mais aliviado”, de acordo com Glauco Legat, analista da Spinelli Corretora. “Até as eleições, o mercado vinha operando com otimismo contido. Os investidores viram o cenário mais definido”. 

(Genildo Ronchi)

ANÁLISES

Voo de águia ou de galinha?

 Pedro Lang | Economista da Valor Investimentos 

Após os resultados de primeiro turno, a bolsa brasileira negociou em alta em um movimento que configurou uma nova precificação dos ativos locais. As ações das estatais foram os destaques: Petrobras fechou subindo 10,81%, Banco do Brasil subiu 9,26% e o principal foi a Cemig, que fechou em alta de 17,92% com a possibilidade de renovação no governo de Minas. Os juros futuros recuaram bem forte, com queda de 5% na curva de juros com vencimento mais longo (2023).

Na contramão desse movimento, as ações na China chegaram a cair 4% logo após quase uma semana de feriado, e as commodities refletiram esse movimento com a queda do minério de ferro e do petróleo.

Vale a reflexão: será que esse movimento todo é o início de um mercado de alta com a confirmação de Bolsonaro como o presidente do País ou é só um voo de galinha e o mercado brasileiro está prestes a realizar lucros (vender ações), com a crescente preocupação com os mercados chineses e o início de um segundo turno conturbado? A resposta é uma só: o Brasil não é para amadores.

Menos incerteza

 Ricardo Paixão | Economista 

No primeiro dia útil após o resultado oficial das urnas indicando um segundo turno entre os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, tivemos uma movimentação no mercado que merece destaque. O Ibovespa avançou 4,57% alcançando um volume recorde de R$ 28,9 bilhões. A moeda americana caiu 2,4% sendo cotada em R$ 3,76.

O mercado é fortemente impactado pelas expectativas futuras dos agentes econômicos, quanto menor é a incerteza menor será o número de investidores que irão retirar o capital de países em desenvolvimento e levarão para países com economias mais sólidas, a moeda nacional pode se valorizar e poderemos ter uma alta nas bolsas de valores.

A movimentação dos mercados no Brasil indica que ele está apostando numa vitória de Bolsonaro no segundo turno, devido ao seu desempenho no primeiro turno e a nova composição do legislativo. Embora estejamos apenas no início do segundo turno de uma eleição atípica onde a imprevisibilidade é o seu pano de fundo.

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