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Sob maior vigilância dos consumidores, marcas mudam postura no mercado

Sob maior vigilância dos consumidores, marcas mudam postura no mercado

Redes sociais deram mais voz e poder aos consumidores

Publicado em 11 de novembro de 2018 às 01:47

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“Não compre cacau produzido com mão de obra escrava.” “Não compre roupas de fábricas que subvalorizam seus funcionários.” “Não compre carnes de empresas corruptas.”

Se você é alguém que dedica alguns minutos às redes sociais, provavelmente já recebeu alguma mensagem para incentivar boicotes a marcas envolvidas em alguma polêmica.

O engenheiro Davi Torobay defende o consumo consciente. (Marcelo Prest)

Foi no finado Orkut, extinto em 2014, por exemplo, que o engenheiro eletricista Davi Torobay, 29, começou a rever seus padrões de consumo. Hoje vegano – filosofia de vida daqueles que não consomem nenhum tipo de produto que tenha origem ou seja testado em animais –, ele conta que a troca de informações em fóruns o incentivou a mudar os hábitos.

“Com o que eu encontrava na internet, eu ia me conscientizando. Hoje fujo das grandes marcas e busco consumir produtos locais. Para mim, o poder de compra é mais importante que o voto, porque o consumo é todo dia e o dinheiro causa impacto. Se deixarmos de ir a um supermercado, os responsáveis pelo negócio vão buscar os motivos das pessoas estarem deixando de ir, e vão mudar para reconquistar o cliente.”

O engenheiro ambiental Bruno Navarro, 36, também passou a adotar uma série de restrições como forma de promover mudanças. Para ele, a conscientização na hora de consumir é um processo contínuo.

“Você começa deixando de comer carne, depois diminui o consumo de descartáveis, reduz seu lixo e passa a tomar essas pequenas atitudes para diminuir os impactos. Hoje montei um espaço de co-working mais sustentável, com reaproveitamento de água e de outros materiais. A gente tenta continuar avançando”, diz.

MUDANÇAS

O comportamento mais vigilante dos consumidores tem feito com que as empresas revejam suas políticas. Um dos casos mais emblemáticos é da rede de fast food McDonald’s, que, depois de ser acusada de oferecer lanches pouco saudáveis, implementou saladas e frutas em seu cardápio.

No Brasil, gigantes que se envolveram em grandes escândalos lutam para recuperar suas reputações. A JBS, dona da marca Friboi, e a Odebrecht estão sendo investigadas por corrupção na Operação Lava Jato e passaram a adotar uma política mais transparente para se recolocar no mercado.

Para o professor da Ufes e pós-doutor em Mídia e Cotidiano, José Antônio Martinuzzo, a comunicação digital mais intensa aliada ao próprio consumismo exarcebado, tão criticado pelos mais politizados, são os fatores que geram este comportamento mais consciente nas compras.

“O consumo hoje se transformou em balizador da imagem das pessoas, que buscam marcas que lhes ‘representem’. Desiludidas com a vida política, elas apostam no consumo de marcas impregnadas de sentidos. É o consumo, logo, existo, em uma variação atualizada do filósofo René Descartes”, analisa.

Martinuzzo, no entanto, pondera que, apesar dos consumidores terem a força de empoderar marcas mais socialmente responsáveis, a atuação política não deve se resumir ao consumo.

“Reduzir nosso ativismo ou colocar toda nossa energia intelectual nesse campo é o mesmo que exercer a liberdade em uma gaiola. Achar isso suficiente é uma insanidade geral”, afirma.

RELEMBRE AS MARCAS QUE PISARAM NA BOLA E FORAM BOICOTADAS

Zara

Trabalho escravo

Em 2011, o Ministério do Trabalho flagrou condições análogas à escravidão em oficinas que costuravam para a Zara. A empresa sofreu boicotes e disse que a oficina era de um fornecedor. Ela assinou no ano passado uma parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) para promover melhorias na indústria da moda.

Nestlé, Hersheys, Mars e Kraft

Trabalho escravo

Também em 2011, um documentário mostrando o uso de mão de obra escrava infantil na produção de cacau em países africanos chocou internautas. Empresas como a Nestlé, Hersheys, Mars e Kraft eram algumas que utilizavam a matéria-prima colhida nessas condições. Após boicote de consumidores, as marcas criaram sistemas de fiscalização nestes países para dar suporte a crianças em situação de risco e impedir que elas trabalhassem em condições precárias.

JBS

Corrupção

Após a delação dos donos da marca, Joesley e Wesley Batista, na Operação Lava Jato, a JBS, detentora das marcas Friboi e Seara, passou a ser boicotada em restaurantes e por consumidores. A empresa já havia perdido a confiança durante a Operação Carne Fraca, que apurou pagamento de propina para venda de carnes irregulares. A empresa se comprometeu a cooperar voluntariamente ao MPF e adotou uma política de “tolerância zero” para qualquer tipo de suborno.

Sede da JBS envolvida em escândalos de corrupção. (Chello/AE)

Dove

Acusações de racismo

Uma campanha do sabonete Dove foi alvo de críticas nas redes sociais, acusada de ser racista. Em uma publicidade, a marca mostrava uma mulher negra que se transformava em uma mulher branca. A peça gerou revolta e a Dove pediu desculpas.

Coca-Cola, Mcdonald’s, Itaú, Adidas e Submarino

Polêmica com youtuber

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Em caso recente, na Copa do Mundo, o youtuber Cocielo tuitou que Mbappé, jogador negro da França, “conseguiria fazer arrastão na praia”. O caso irritou internautas. Marcas que o patrocinavam, como Coca-Cola, Mcdonald’s, Itaú, Adidas e Submarino cancelaram contratos.

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