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Adriano Scopel: 'rei' do Instagram coleciona problemas com a Justiça

Adriano Scopel: 'rei' do Instagram coleciona problemas com a Justiça

Empresário está em alguns dos maiores escândalos do Estado, mas segue esbanjando carros, aeronaves e acessórios para seus mais de 500 mil seguidores

Publicado em 18 de dezembro de 2018 às 02:27

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Poucos são os milionários de Vitória que fazem tanta questão de exibir a fortuna como Adriano Scopel. As selfies em Ferrari, aeronaves e restaurantes de alto padrão, sempre casadas com descrições motivacionais, rendem milhares de likes dos seus mais de 500 mil seguidores. Nas legendas, o empresário gosta de destacar o valor do próprio esforço. "Homens fracos acreditam na sorte. Homens fortes acreditam em causa e efeito", escreveu em uma foto para a qual posou com um jato ao fundo.

Adriano Scopel posa para foto com avião. No Instagram, escrevia frases que valorizavam o próprio esforço. (Reprodução/Instagram)

Contudo, além de likes, carros de luxo e fãs, ele coleciona complicações com a Justiça há pelo menos dez anos. E as investigações que o citam costumam levantar indícios de que pelo menos parte da fortuna que ele hoje ostenta não é fruto apenas de trabalho árduo, mas também de crimes.

A ficha do empresário é diversificada. Vai desde sonegação fiscal e "quebra da imparcialidade de membros" do Judiciário até agressão contra mulheres e corrida ilegal com carros esportivos. No último dia 3, Scopel foi alvo da Operação Lídima, que apura atuação de quadrilha que adultera combustível no Estado. Ele ficou preso por 11 dias e só foi solto após pagar R$ 954 mil de fiança, na última sexta-feira (14).

No dia anterior ao pagamento, teve um habeas corpus indeferido no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os advogados alegaram "constrangimento ilegal e "falta dos pressupostos e motivos autorizadores" da prisão. "A custódia cautelar foi mantida para garantia da ordem pública", afirmou o ministro Ribeiro Dantas.

O carro à esquerda, um Bentley, é avaliado em mais de R$ 700 mil. Scopel postava fotos ao lado e dentro do automóvel, dirigindo por Vitória. (Reprodução/Instagram)

Fora da cadeia, o empresário pôde ir ao aeroporto, no fim de semana, ao encontro da filha, que estava fora do país há meses para um intercâmbio estudantil. Scopel usou um boné para disfarçar cabelo e barba, raspados na prisão.

PERFIL DELETADO

A Lídima apareceu no Fantástico, da TV Globo, no último domingo (16). Logo após a reportagem ir ao ar mencionando Scopel ele apagou sua conta no Instagram e a atual namorada dele removeu todas as postagens nas quais se declarava para o amado.

Automóvel da Ferrari aparece em vários posts do empresário. (Reprodução/Facebook)

Entre as fotos que saíram do ar, algumas em que ele posa com Bentley e Lamborghini, carros que custam mais de R$ 700 mil. A paixão dele por carros é antiga. No início dos anos 2000, ele participava de exibições de automobilismo na Grande Vitória e disputava provas amadoras.

O gosto pelas altas velocidades já o fez ser alvo da polícia. Em 2015, um inquérito foi aberto na Delegacia de Delitos de Trânsito por conta de um vídeo que foi parar no Facebook. A suspeita era a de que ele e a então namorada estivessem fazendo "racha" na Avenida Adalberto Simão Nader. O caso ainda tramita na Justiça. A última audiência ocorreu em abril deste ano.

MAIOR ESCÂNDALO DO JUDICIÁRIO

A chamada Operação Naufrágio, deflagrada em 2008, revelou o que é considerado o maior escândalo do Judiciário capixaba. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, tratava-se de "um modo de atuação empregado para a negociação de decisões judiciais, no âmbito do Tribunal de Justiça, para a criação de cartórios e para a influência em concursos públicos".

Até hoje, dez anos depois, o escândalo segue sem respostas da Justiça.

As investigações apontaram que Adriano e o pai dele, Pedro Scopel, sócios em um terminal portuário de Vitória, ofereceram vantagens indevidas para desembargadores para reverter uma decisão contrária aos interesses de ambos. Eles disputavam um processo contra outra empresa pelo controle da concessão de um terminal portuário.

Antes de caírem na Naufrágio eles foram alvos de outra operação, a Titanic. Os investigadores identificaram que pai e filho "promoviam a internalização de mercadoria estrangeira subfaturada, notadamente motocicletas e automóveis de luxo, iludindo o recolhimento dos tributos devidos aos cofres públicos".

As suspeitas começaram depois que os investigadores passaram a investigar denúncia de registro irregular de embarcações junto à Marinha. Adriano Scopel havia comprado de uma terceira pessoa uma lancha usada por ninguém menos do que Juan Carlos Abadía, um dos maiores traficantes colombianos, preso em 2007.

Na época, o advogado de Scopel apresentou certidões negativas do proprietário anterior para sustentar que o empresário capixaba comprou a embarcação legalmente e de boa-fé. A lancha era avaliada em R$ 3 milhões.

A Justiça Federal condenou Scopel na Titanic por crimes como corrupção e formação de quadrilha. Há ramificações do caso tramitando no Tribunal Regional Federal da 2ª Região.

Na época da Naufrágio, advogados de Scopel rechaçaram as acusações. "Não existe o mínimo de suporte probatório na denúncia para a acusação de corrupção tanto de Adriano quanto de Pedro Scopel", declarou para A GAZETA um dos profissionais.

MULHERES

Antes de ser preso na Operação Lídima, Adriano Scopel precisou, mais uma vez prestar esclarecimentos à polícia. Ele foi acusado pela ex-esposa, de 25 anos, de agressão física. Há processos tramitando na Justiça. Ela contou que, durante uma festa, recebeu socos no rosto e na cabeça, além de ter sido arrastada pelos cabelos.

Não foi a primeira vez. Em 2006, após um acidente de trânsito na Orla de Camburi, imagens de uma câmera de segurança mostraram Scopel agredindo uma dentista com tapas, socos, empurrões e puxões de cabelo.

TRABALHO NO ASILO

Em um dos processos respondidos por Scopel, a Justiça Federal determinou que ele prestasse serviços comunitários. Em maio de 2017, foi enviado para trabalhar no Asilo de Vitória. Foi muito elogiado pelo gestor da instituição.

Em relatório enviado ao juiz federal sobre as atividades desempenhadas pelo empresário, o gestor contou ter atribuído a Scopel a tarefa de arrecadar recursos para o asilo, que enfrentava dificuldades financeiras.

Também coube ao empresário arrecadar dinheiro para a reforma de um banheiro, bem como providenciar profissionais para atividade e acompanhar a execução do serviço. "Tem sido de grande valia essa prestação de serviços que vem contribuindo enormemente com esta instituição filantrópica", escreveu o gestor ao magistrado.

POLÍTICA

Apesar das complicações judiciais, Adriano Scopel atua em um importante terminal portuário de Vitória e é um empresário importante da cidade. Quando o novo aeroporto da Capital foi inaugurado, em março, ele foi convidado para sentar nas cadeiras da frente, com outros empresários e próximo a políticos.

Adriano Scopel durante a solenidade de inauguração do aeroporto de Vitória, no dia 30 de março, da qual participou o presidente Michel Temer e diversas autoridades. (Reprodução/Instagram)

Ele não é filiado a partidos ou disputou eleições. Este ano, apenas doou R$ 30 mil para a campanha de Rose de Freitas (Podemos) ao governo do Estado. O pai dele, Pedro, repassou outros R$ 17 mil.

Já em 2014 uma das empresas de Adriano doou R$ 340 mil para seis candidatos. Rose recebeu a maior parte, R$ 100 mil. Não há indícios de ilegalidades nas doações eleitorais, previstas nas legislações dos respectivos anos.

TRAGÉDIA

Em 2010, Adriano Scopel vivenciou uma dolorosa tragédia familiar. Um dos filhos dele, de 8 anos, morreu após um grave acidente sofrido durante a festa de aniversário de dois anos de um dos irmãos, outro filho do empresário. O menino caiu após se pendurar na trave de um campinho do cerimonial. Ele foi socorrido, mas não resistiu. A causa da morte foi um edema cerebral provocado pela queda.

O OUTRO LADO

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A reportagem procurou por dois advogados de Scopel que atuam em processos diferentes contra ele, para que se manifestassem. Os recados foram deixados para ambos, mas nenhum dos dois retornou os contatos.

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