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Espírito Santo desperdiça toneladas de alimentos com estradas esburacadas

Espírito Santo desperdiça toneladas de alimentos com estradas esburacadas

Como muitas estradas ainda são de terra, quando chega o período de chuvas, elas ficam cada vez mais esburacadas e atoleiros se formam, fazendo com que caminhões e carretas tenham dificuldades para transitar.

Publicado em 13 de dezembro de 2018 às 02:36

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Caminhão enfrenta a estrada sem estrutura adequada que facilita escoamento da produção no campo. (ARI MELO/TV GAZETA)

Gargalos de infraestrutura no Espírito Santo estão fazendo com que produtores tenham dificuldades na hora de escoar suas produção. Como muitas estradas ainda são de terra, quando chega o período de chuvas, elas ficam cada vez mais esburacadas e atoleiros se formam, fazendo com que caminhões e carretas tenham dificuldades para transitar. O resultado é a demora no escoamento dos produtos, isso quando não se perdem pelo caminho, causando prejuízos de até 400 mil toneladas de alimentos perdidos.

Além isso, picos de energia causam prejuízos para os produtores de leite, já que eles precisam manter o produto cru resfriado antes do transporte. De acordo com estimativa da Federação da Agricultura do Estado do Espírito Santo (Faes), de 5% a 10% dos alimentos produzidos precisam ser doados, usados para alimentar animais ou simplesmente vão parar no lixo por causa de problemas com estradas inadequadas e falta de energia no campo.

Estado desperdiça até 400 mil toneladas de alimentos com estradas esburacadas

Em 2017, o Estado produziu mais de 4,1 milhões de toneladas de alimentos, de acordo com dados do último Senso do IBGE (2017). Segundo o presidente da Faes, Júlio Rocha, desse total, entre 200 mil e 400 mil toneladas são perdidas, já que “o produtor não consegue escoar os itens coletados devido às más condições das estradas e da falta de luz”.

No caso do produtor de frutas da Mata Atlântica Emerson Araújo e Miranda, 46 anos, está cada vez mais difícil com que os carros cheguem à sua propriedade, que fica localizada na Região de Valsugana Velha, em Santa Teresa.

“Quem vem para cá precisa passar pela ES 080, que é a continuidade da Estrada Imperial, ligando Santa Teresa a Santa Leopoldina. Há quase cinco anos prometeram que ela iria ser afastada, mas, até agora, só fizeram partes dele. Quando chove, vira um lamaçal e os buracos acabam com os carros.”

A realidade dele se assemelha com a de muitos outros produtores capixabas que trabalham com hortaliças e verduras. Quem depende da Rodovia ES 264, em Santa Maria do Jetibá, também enfrenta problemas, falta sinalização e há buracos na via.

“Por semana, vendo 20 toneladas de gengibre para exportação. Mas o escoamento da mercadoria e o volume poderiam ser maiores se a estrada fosse melhor”, desabafa Pedro Rodrigues, 33 anos, revendedor de gengibre do município.

De acordo com o presidente da Câmara Setorial da Indústria de Alimentos e Bebidas da Federação das Indústrias (Findes), Sérgio Rodrigues da Costa, o problema não está apenas na qualidade das estradas, mas também na segurança delas, já que muitas não tÇem manutenção, sinalização ou fiscalização.

O caminhoneiro Carlito conta que há locais em Santa Maria de Jetibá que devido à lama os caminhões não conseguem entrar e as carretas ficam atoladas. “De 50 motoristas que temos, só três aceitam vir fazer o transporte por aqui”, revela.

Na Grande Vitória, as localidade de São Paulo de Viana, Biriricas e Pau Amarelo, em Viana, sofrem com as más condições das estradas, segundo o presidente do Sindicato de Trabalhadores, Joel de Abreu.

PICOS DE ENERGIA

Outro problema enfrentado no interior do Estado é com relação à falta de energia. De acordo com a Faes e com o secretário de Políticas Agrícola e Meio Ambiente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetaes), José Isidoro Rodrigues, a estocagem de leite é prejudicada.

“Depois do produtor ordenhar as vacas, ele precisa armazenar aquele leite em resfriadores até chegar o caminhão para levá-lo para o laticínio. Se falta luz por um perídio de uma hora, por exemplo, ele acaba perdendo o produto”, explica José Isidoro.

Por nota, a Secretaria de Serviços Urbanos e Rurais de Viana afirmou que faz melhorias nas estradas rurais periodicamente. Nas localidades citadas, estão previstas manutenções em 2019.

O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-ES) disse que realizou um trabalho de revestimento dos pontos críticos no trecho da rodovia ES 080 entre Santa Leopoldina e Santa Teresa, mas que, para concluir o serviço, o órgão precisa de uma nova licitação até janeiro de 2019. Com relação à ES 264, estão previstas melhorias na sinalização no primeiro semestre de 2019.

Em nota, a empresa Luz e Força Santa Maria disse que é importante que os agricultores registrem os problemas pelo 08009709196. Já a EDP informou que não é possível saber se houve interrupção de energia sem o código das instalações dos clientes.

SEM LOGÍSTICA, EXPORTAÇÕES NÃO CRESCEM 

Devido às dificuldade de chegar a algumas localidades do Estado, por causa das más condições de conservação as estradas, produtores rurais dizem que ficam limitados a enviar cargas menores para a exportação. diminuindo lucros ou até tendo prejuízos. Eles afirmam que, para ser mais competitivo, o Estado precisa ter melhorar sua infraestrutura e logística.

Celson Siller, 33 anos, é produtor de gengibre da região de Rio das Farinhas, no interior de Santa Leopoldina. Ele conta que as carretas não chegam ao galpão onde armazena o produto. “A minha propriedade fica a quase 50 minutos do centro da cidade. Para chegar até ela é preciso passar por um asfalto e depois enfrentar 15 quilômetros de estrada de chão. É nesse trajeto que temos problemas”, conta.

Segundo o produtor, para conseguir carregar a carreta que leva o produto para a exportação, ele precisa transportar o gengibre em um caminhão menor e fazer de três a quatro viagens até um ponto onde a carreta consiga chegar.

“Hoje, conseguimos carregar 2 contêineres de 22 mil quilos cada um por semana. Se a estrada melhorasse, faríamos, no mínimo, mais dois contêineres semanalmente. O tempo que perdemos nesse translado e o combustível extra que gastamos poderia ser empregado para transportar mais cargas”, explica.

O vice-presidente do Sindicato do Comércio de importação e Exportação do Estado (Sindiex), Agnaldo Martins, afirma que a cada ano o Espírito Santo perde competitividade com a precariedade da infraestrutura logística.

“Não é diferente no modal rodoviário. A má conservação atrapalha as operações de exportação nos mais diversos setores, inclusive no agronegócio. Isso porque há um aumento, por exemplo, do frete – visto a necessidade de manutenção constante dos caminhões - e uma queda de eficiência, além do risco permanente de acidentes”, aponta.

MANUTENÇÃO

Para ter preços mais competitivos é preciso que o produtor consiga arcar com as despesas pela produção e tenha lucro, o que, às vezes, não ocorre. Toda semana Carina Barbosa Sezarino, 39, e o esposo, que trabalham com banana, café e aipim, saem da região de São Paulo de Viana, em Viana, para levar mercadorias à Ceasa, em Cariacica.

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Segundo ela, quando a estrada está ruim é prejuízo certo. Pelo menos três vezes neste ano o veículo que usam para o transporte das mercadorias teve que ir para a manutenção por causa da estrada. ”É muito gasto que temos trocando as peças e os pneus. Além disso, não está compensando levar para vender. O preço da banana na Ceasa está quase R$ 10 a caixa. Se tirarmos o que gastamos, fica quase nada”, relata. (Com informações de Fábio Linhares)

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