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Economistas em NY: Governo ainda precisa mostrar ações reformistas

Economistas em NY: Governo ainda precisa mostrar ações reformistas

O discurso de otimismo se mantém, assim como o alerta de que será necessário adotar medidas impopulares logo neste primeiro ano e contar com o apoio da opinião pública

Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 21:26

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Governo Bolsonaro ainda precisa mostrar ações reformistas, avaliam economistas em NY. (Dida Sampaio/Agência Estado)

Depois de uma plataforma de campanha que conquistou a opinião pública e agradou ao mercado, com seu aceno ao liberalismo econômico, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) precisa passar para as ações e começar a entregar algumas medidas aguardadas pelos investidores, como a reforma da Previdência.

Esse diagnóstico foi desenhado por especialistas que participaram nesta quinta-feira (24), em Nova York, de um evento da Câmara de Comércio Brasil-EUA sobre cenário político e econômico para o Brasil.

O discurso de otimismo se mantém, assim como o alerta de que, para que o país retome o crescimento econômico, será necessário adotar medidas impopulares logo neste primeiro ano e contar com o apoio da opinião pública, um dos grandes pilares de sustentação do novo governo.

E um certo ceticismo de que isso esteja sendo colocado em prática. É o que expressou Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, nos cerca de dez minutos durante os quais falou.

"Fazer algo no primeiro ano é crucial, porque tem capital político. Se o governo fizer algo bom, poderíamos ter outras reformas. Mas, até agora, eu não vejo esses elementos", afirmou.

Outra preocupação de Latif é quanto ao comprometimento de Bolsonaro com as mudanças que devem ser feitas para devolver a sustentabilidade fiscal ao país.

"Eu vi um ministro da Economia [Paulo Guedes] reformista, mas eu não vi um presidente reformista. O foco da campanha infelizmente foi apenas segurança, corrupção e valores morais", afirma.

"Paulo Guedes eu estou convencida de que ele é reformista, ele sabe fazer o trabalho dele. Mas eu não sei sobre a convicção do presidente. Eu sei que ele entende que precisa de reformas, mas eu não sei quanto", complementou.

"Eu gostaria de ver sinais mais fortes de que ele está realmente comprometido com as reformas. Gostaria de ver o presidente usando o Twitter para dizer que a reforma da previdência é necessária."

Latif avalia que há a possibilidade de um bom cenário econômico para o Brasil. "Não é um cenário negativo, mas ainda vamos ter volatilidade e o Brasil com crescimento econômico menor que o mundo."

Lisa Schineller, diretora gerente para América Latina da S&P Global Ratings, também vê dificuldades para executar as medidas econômicas anunciadas pelo governo. A nota de crédito do país na agência, BB-, com perspectiva estável, evidencia as complexidades na economia, na política e no lado fiscal, ressalta.

"Quando nós olhamos para o fiscal e as dinâmicas de crescimento, esses são os lados negativos, que não são fáceis de consertar rapidamente por causa do comprometimento político que será necessário ao longo dos anos", afirmou.

A sinalização das intenções, do ponto de vista econômico, é positiva, acrescentou. "A agenda é uma continuação da agenda de Temer em muitas maneiras, com nuances diferentes, mas o trabalho forte está lá. Mas as dificuldades estão na execução. As promessas não vão elevar o rating."

Schineller vê muito trabalho do lado do governo para aprovar as propostas que buscam diminuir o déficit primário do país. Segundo ela, o plano de privatizações deveria seguir em frente, mas "não é substituto para a correção fiscal estrutural que tem que ser feita."

"Do nosso ponto de vista, o presidente Bolsonaro não foi eleito por sua agenda neoliberal, ele foi eleita por causa da corrupção, do crime, questões de segurança e do sentimento anti-PT. Ele veio com uma equipe econômica pragmática, mas não foi por isso que ele foi eleito. Então como você transpõe isso?", questiona.

O sucesso do presidente em implementar sua plataforma está diretamente ligado ao apoio que receberá no Congresso, avalia Christopher Garman, diretor-gerente para as Américas do grupo Eurasia.

"Vai ser um ambiente de opinião pública difícil de navegar", diz. "Sobre a relação com o Congresso, temos um presidente que montou um gabinete e entregou a promessa de campanha de nomear sem barganhar nomes com o congresso em troca de apoio político."

Para ele, que não está preocupado com a composição da administração, o governo deveria tentar votar rapidamente sua agenda econômica, "antes de a lua de mel acabar."

"Nossa visão é que a reforma da Previdência será aprovada na Câmara dos Deputados na primeira metade do ano", disse.

"As notícias não tão boas são que os riscos de essa administração estagnar e decepcionar não são pequenos. Nós colocamos uma probabilidade de 30% de não aprovar uma mudança constitucional para a reforma da Previdência neste ano", afirmou.

E isso tem a ver com uma dependência do sentimento da população. "Essa administração, mais do que qualquer outra administração anterior que eu possa lembrar, depende da opinião pública mais do que qualquer outra."

Para ele, será um ambiente difícil de navegar.

Outra dificuldade que o governo pode enfrentar é a decisão de nomear o gabinete sem barganhar apoio com líderes de partidos, ressaltou.

"A estratégia do governo é comprar o baixo clero barato. Eles estão indo partido a partido dizer que os parlamentares têm acesso ao ministério e podem negociar suas demandas. Eles querem cortar os intermediários, e isso não vai cair bem com esses líderes de partido no Congresso", afirmou.

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"Ninguém diz isso publicamente, mas estamos ouvindo que temos os braços cruzados nas bancadas, vamos ver. E a margem para a reforma da Previdência é muito estreita."

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