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Famílias capixabas com renda de até R$ 40 mil se enrolam com dívidas

Famílias capixabas com renda de até R$ 40 mil se enrolam com dívidas

Nem sempre um bom salário, muito acima da média nacional, significa ter estabilidade financeira

Publicado em 13 de janeiro de 2019 às 01:30

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“Um dia eu vou ter um ótimo salário, fugir das dívidas e ter uma vida supertranquila”. Quem nunca se pegou sonhando com uma vida financeira melhor antes de dormir?

Mas para os sonhadores de plantão vai uma dica importante: nem sempre um bom salário, muito acima da média nacional, significa ter estabilidade financeira.

Existem casos na Grande Vitória em que a família tinha renda mensal de R$ 40 mil, mas ainda assim enfrentava problemas para pagar as contas no fim do mês.

Além de não conseguir pagar as dívidas, as famílias não conseguiam manter previdências privadas, ou fazer uma poupança para ajudar na aposentadoria. Quem conta um desses casos é a consultora financeira Daniela Emery Cade, da Valor Investimentos.

“Essa família chegava a gastar de R$ 42 mil a R$ 45 mil por mês. Não tinha poupança, previdência... Nenhum investimento. Mas quando fomos avaliar, vimos muitos gastos que não eram a prioridade da família, como com vestuário, telefone, supermercado, bares, restaurantes...”, comentou.

Somente depois de procurar ajuda especializada é que a família voltou para o eixo. “Dependendo das dívidas, leva tempo para a pessoa se recuperar. Por outro lado, quando a pessoa ganha bem, ela tem uma maior capacidade de poupança. Foi isso o que aconteceu e logo a família aumentou a poupança”, destacou a consultora.

Num outro caso, um casal de empresários que tinha renda familiar mensal de R$ 25 mil estava prestes a decretar a falência da empresa, conta Stella Furtado, da RS Consultoria.

“A gente viu que o casal chegava a tirar R$ 25 mil por mês da empresa para manter o padrão de vida da família e isso estava quebrando o negócio deles. Analisamos e cortamos esse valor para menos da metade, o que ainda rende um bom salário”, comentou Stella.

O contador e membro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (IBEF-ES), Haroldo Santos Filho, lembra de um cliente que chegava a gastar R$ 2 mil por mês para manter um veículo importado.

“Ele tinha uma renda boa, ganhava R$ 8 mil por mês. Mas só com o carro ele gastava R$ 2 mil, tinha vários gastos desnecessários. Fiz ele cortar tudo. Para ele, foi um sentimento de perda muito grande, mas logo ele já estava no azul de novo”, destacou.

Planejamento

Mesmo afirmando que cada caso precisa ser avaliado individualmente, os consultores são categóricos ao afirmar que a solução para as dívidas é o planejamento.

“Nós, brasileiros, ainda temos muita dificuldade de pensar a longo prazo. Além disso, compramos muito por impulso. Quando conseguimos nos planejar com as receitas e as despesas, a vida financeira não sai do trilho. A tarefa não é fácil, mas é simples”, comentou Haroldo.

COMO SE ORGANIZAR FINANCEIRAMENTE

Segurando as pontas

 

Receitas x despesas

Organize as receitas e despesas em uma planilha. Se não puder fazer isso todos os meses, separe um dia para fazer a estimativa de receitas e despesas de todo o ano.

Ao somar os valores, veja se as receitas serão suficientes para pagar todas as despesas, ou se será preciso economizar em algum item.

Decida suas prioridades

Não existe uma “receita de bolo” que funcione para todo mundo. Cada pessoa ou família precisa decidir quais são suas prioridades e passar a investir nelas.

Fuja dos supérfluos

Não é fácil, mas fugir das compras sem necessidade é uma das principais receitas para que a organização financeira seja bem-sucedida.

Poupe

Mesmo que seja pouco no mês, poupe. O hábito de poupar pode começar aos poucos.

Se bater o desespero

Calcule o prejuízo

A primeira coisa é listar todas as dívidas. É importante entender a situação de cada dívida para planejar de que forma é possível contornar a situação.

Encaixe no orçamento

É preciso calcular quanto vai ser possível pagar em cada mês. Encaixar a “parcela” da dívida como algo fixo, até que todo o prejuízo esteja zerado.

Primeiro as mais caras

Como a lista de todas as despesas já está pronta, priorize as que têm juros mais altos e que tendem a ficar mais difíceis de pagar ao longo do tempo.

 

Tente renegociar

Bater à porta dos credores é sempre uma alternativa. Tentar renegociar a dívida pode ajudar muita gente a sair do vermelho.

Procure um especialista

A ajuda profissional pode ajudar a sair do buraco, e reencontrar o trilho da segurança financeira.

DEVER DE CASA PARA CUIDAR BEM DA DESPESA

Uma das maneiras de fazer com que adultos com boas rendas mensais não se percam em dívidas é ensinar o planejamento financeiro desde cedo para as crianças. Consultores financeiros avaliam que a falta de aptidão com os números, que começa na infância, traz prejuízos na vida adulta.

“Sempre falo que o problema começa na escola. Quase nenhum aluno gosta de matemática, de física, matérias que contenham contas. E isso vai desde a escola até a vida adulta. O fato de poucos alunos terem educação financeira só piora a situação”, destacou Marcos Aurélio Silveira, sócio da Adm Brasil e consultor financeiro.

“Se houvesse nas escolas uma matéria voltada para finanças pessoais, nós teríamos uma geração com disciplina financeira. Hoje, são poucos que tomam decisões de maneira racional. A educação para o consumo iria criar uma geração muito mais equilibrada”, avaliou.

Há 18 anos a ONG Junior Achievement ensina economia para crianças e adolescentes do Estado. Somente no ano passado, 18 mil estudantes da Grande Vitória e do interior do estado foram atendidos.

“A ONG é direcionada para alunos do ensino fundamental 1, 2 e ensino médio. São vários programas de educação financeira, ética, empreendedorismo e outros temas”, contou a diretora executiva do Junior Achievement no Estado, Elaine Lima.

“Nós ensinamos os alunos a trabalhar com a mesada, a poupar, programar o uso do dinheiro... Temos vários cursos lúdicos e didáticos para ensinar diversas ferramentas para os participantes. Há até a formação de uma empresa júnior para que os adolescentes peguem conceitos do empreendedorismo”, completou Elaine.

Uma das participantes da Junior Achievement no ano passado foi a estudante Rayani Gonçalves Salvador Teixeira, 16 anos. Ela foi a diretora de marketing da empresa criada.

“Eu pretendo estudar Publicidade e Propaganda. Foi uma oportunidade muito boa de conhecer a área. Isso me ajudou muito. É uma grande responsabilidade. É como se fosse uma empresa de verdade mesmo, e nos ensina a gestão de um negócio e também das nossas finanças pessoais”, comentou.

Como Participar

Escolas

A única forma de ingressar no Junior Achievement é por meio de uma escola que seja parceira do projeto. A ONG tem parcerias com secretarias de Educação que permitem a oferta dos programas.

Cronograma

O cronograma dos cursos é feito em parceria com as diretoras e pedagogas das escolas. Os cursos são ofertados nos horários das aulas. A exceção é a miniempresa, que realiza os encontros à noite.

 

Gratuito

Os programas oferecidos pelo Junior Achievement são totalmente gratuitos. Não há cobrança de mensalidade, nem dos materiais didáticos que são utilizados.

Voluntários

Os cursos são ministrados por voluntários capacitados pela ONG.

CORRIGIR PROBLEMA PODE LEVAR MUITO TEMPO, DIZ CONSULTOR

A correção de um problema nas finanças pessoais pode levar muito tempo. É isso o que comenta o sócio da Adm Brasil e consultor financeiro, Marcos Aurélio dos Santos Silveira.

“Quando as pessoas percebem que estão com problemas financeiros, geralmente, elas já estão perto do fundo do poço. E uma má escolha financeira pode levar anos para ser corrigida. A compra de um carro, por exemplo, você vai arcar com ele 4, 5 anos... Se for um imóvel, lá para 30 anos”, comentou. “Tenho um caso de uma pessoa que ficou dez anos para se reerguer”, completou.

Parte do problema, segundo Marcos Aurélio, é o fato de as pessoas postergarem o início de uma mudança para melhor.

“As pessoas são emocionais, não racionais. Elas vão deixando tudo para a última hora. Se a gente observar bem, até mesmo com questões de saúde acontece algo semelhante”, comparou o especialista em finanças.

"O IMPORTANTE NÃO É O QUANTO SE GANHA, MAS QUANTO SE POUPA"

Para as consultoras financeiras Daniela Emery Cade e Stella Furtado, o importante na composição financeira não é quanto se ganha por mês, mas sim quanto as pessoas conseguem poupar.

“O importante não é quanto se ganha, mas quanto se poupa. A pessoa pode ganhar R$ 1 milhão, mas gasta R$ 2 milhões. Por outro lado, ela pode ganhar um salário relativamente baixo e conseguir poupar um pouco todo mês”, comentou Stella.

“Uma pessoa que ganha o dobro de outra e gasta tudo não vai ter nada em dez anos. Já a pessoa que ganha metade, mas consegue fazer uma poupança, em dez anos poderá estar muito melhor do que o primeiro”, completou Daniela.

O “problema” é quando a pessoa que não poupa precisa atravessar um período de vacas magras, ou mesmo superar um contratempo. “Você pode se perder de várias formas. Uma pessoa que sempre viveu bem, mas perde o emprego, ou passa a ter uma doença, vai precisar pegar um empréstimo. Isso acaba por virar uma bola de neve. E o problema fica pior porque a pessoa que sempre gastou muito não quer dar um passo atrás”, analisou Daniela Cade.

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“O brasileiro ainda não aprendeu que se você poupar R$ 50 todo mês, com juros sobre juros, você consegue comprar um carro. Demora, mas chega lá”, resumiu o consultor Haroldo Santos Filho.

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