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Geração compartilhada faz conta de luz cair até 80%

Geração compartilhada faz conta de luz cair até 80%

Repartir a produção solar é opção para cooperativas no Estado

Publicado em 16 de fevereiro de 2019 às 23:23

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Já pensou em ter a sua própria usina de geração de energia e compartilhar a produção com quem você quiser, mesmo a quilômetros de distância? Parece algo meio impossível, mas essa já começa a ser uma realidade no Espírito Santo. O modelo de geração compartilhada, que foi criado a partir de um marco regulatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2015, tem permitido que os consumidores economizem até 80% em suas contas de energia.

O funcionamento é mais simples do que parece: no sistema, uma unidade geradora de energia, como uma usina fotovoltaica, produz e compartilha a energia de baixo impacto ambiental com consumidores que estão na mesma área de concessão da distribuidora (como a área da EDP, por exemplo, que abrange 70 municípios do Estado). A energia gerada na usina é injetada na rede da concessionária, que depois desconta esse percentual que é lançado na fatura das unidades que compartilham a geração.

Para que um grupo consiga aderir a esse modelo, no entanto, é preciso que consumidores se unam solidariamente, ou seja, é preciso fazer um consórcio ou ser parte de uma cooperativa, conforme explica o economista Vitor Romero, que é especialista em geração compartilhada e diretor-executivo da Cleanclic, startup capixaba pioneira na gestão e monitoramento desse tipo de produção.

“Isso é ideal para locais onde não é possível ter uma usina solar, como apartamentos e áreas sombreadas, já que a usina pode estar em outro lugar. No nosso caso, a gente só trabalha com cooperativas. Então, para aderir, é preciso fazer parte de uma cooperativa existente ou até formar uma, com o investimento na usina sendo realizado pelos próprios cooperados. Outra opção é uma cooperativa fazer o investimento e comercializar os créditos gerados, como um aluguel”, afirma.

ECONOMIA

Segundo Romero, a estimativa é que a economia da cooperativa que fizer esse investimento chegue a 80% na redução da conta de luz. Já para quem alugar a participação em uma usina, esse desconto deve ser, em média, de 10%. O trabalho da startup é justamente o de fazer a gestão dessa geração monitorando o que é injetado na rede e repassado como crédito aos consumidores.

No Estado, a primeira usina fotovoltaica compartilhada existe desde o final de 2017 e foi implementada pelo Sicoob em Santa Maria de Jetibá. Com investimento de R$ 156 mil, a cooperativa de crédito instalou 48 placas solares no teto da agência da cidade que, juntas, têm capacidade de produzir 4.800 quilowatts (KWh) por mês, energia que é partilhada com outras três cooperativas da cidade: uma de transportes, outra agropecuária e uma da área de educação.

De acordo com o vice-presidente do Sicoob Espírito Santo, Arno Kerckhoff, os resultados dessa primeira usina estão indo além do esperado. “Estamos fazendo a validação se vale a pena, avaliando o payback (retorno do investimento), que deve ser em quatro anos e, com base no que já temos visto, estamos otimistas”, disse o executivo, que também preside o Sicoob Centro-Serrano.

A boa avaliação dessa primeira usina e a percepção do mercado atual, em que as placas solares estão mais acessíveis e o custo da energia elétrica aumentou, estão estimulando o Sicoob a fazer um investimento ainda maior, que deve ser detalhado em breve, para gerar energia a partir de uma usina e compartilhar essa produção com todas as agências da cooperativa no Estado. Também está em estudo um terceiro investimento, de escala ainda maior, que deverá ser feito no futuro, para repartir a geração do Sicoob com pessoas físicas e jurídicas associadas.

Como funciona?

É construída uma unidade geradora de energia, como uma usina fotovoltaica, que produz e compartilha a energia gerada com consumidores que fazem parte do grupo de compartilhamento, desde que eles estejam na mesma área de concessão da distribuidora. A energia gerada na usina é injetada na rede da concessionária, que depois desconta o que é lançado na fatura das unidades que compartilham a geração.

Serve para quem?

Ideal para locais sombreados, apartamentos ou regiões de pouca incidência de raios solares, já que as placas podem ficar até quilômetros de distância da unidade de consumo.

Quem pode aderir?

Para aderir, é preciso que esse grupo esteja unido solidariamente, ou seja, através de cooperativas, fazendo parte ou até mesmo criando uma nova.

Como faço para ter?

Basicamente existem dois modelos: o investimento pode ser feito pelos próprios cooperados que vão compartilhar a geração ou a cooperativa pode fazer o investimento e comercializar os créditos gerados, como um aluguel pela partilha.

Qual a vantagem?

O modelo resulta numa boa economia na conta de luz, já que a energia solar que foi gerada na usina compartilhada é abatida da fatura. No caso de cooperados que fizeram o investimento na própria usina, a economia mensal estimada é de 80% do total da fatura, segundo projeta a startup Cleanclic.

Só 66 NO ES ADERIRAM À TARIFA BRANCA

Tarifa com desconto para quem consome energia fora das horas de pico tem baixa adesão

Outra opção de cobrança de energia que pode representar economia nas contas é a chamada tarifa branca, modalidade que existe desde o ano passado e que, em 2019, foi ampliada. Desde janeiro, casas e pequenos estabelecimentos comerciais que consomem a partir de 250 kWh (quilowatts) de energia por mês podem pagar até 20% na conta de luz por meio da tarifa branca, segundo especialistas financeiros. No entanto, apesar da ampliação, apenas 66 consumidores capixabas aderiram ao regime.

Como é opcional, esse novo modelo de tarifação precisa ser solicitado pelo cliente à concessionária de energia. E isso precisa ser bem avaliado, já que um desconto efetivo só acontecerá para aqueles que conseguirem consumir a maior parte da energia fora dos horários de pico, concentrados entre 17 horas e 21h59. Pelo sistema, o cliente paga valores diferentes em função da hora e do dia da semana em que ele está usando a energia.

Antes, havia apenas uma tarifa, a convencional, que tem um valor único para cada kWh. Agora, com a tarifa branca, existem três preços diferentes: um para o horário de ponta, um para o intermediário e outro para o fora de ponta. Dessa forma, cabe ao consumidor escolher qual regime tarifário é mais adequado para o seu dia a dia.

Dos 66 capixabas que aderiram até agora, 65 estão na área de concessão da EDP Espírito Santo (que atende 1,5 milhão de consumidores em 70 cidades do Estado) e um na área da Empresa Luz e Força Santa Maria (ELFSM – que atende 110 mil clientes em 11 municípios capixabas). Ambas empresas não informaram quantos consumidores têm consumo apto para aderir ao regime (a partir de 250 kWh).

ADESÃO

Apesar do número de optantes pela tarifa branca ser bem baixo, ainda não se dá para falar em falta de sucesso do formato segundo o gerente da CAS Tecnologia, Octavio Brasil, empresa que atua na assistência às concessionárias no monitoramento do consumo.

“É uma novidade ainda. E claro, é uma questão de consumo. A tarifa branca é opcional e, ao ir na concessionária, o consumidor é orientado se para ele vale a pena ou não. Isso não é, por exemplo, para aquele consumidor padrão que trabalha de dia e fica em casa à noite, consumindo mais energia nesse horário. Não vai ter um boom de adesões na minha visão, mas, aos poucos, a medida em que cada um analise seu consumo pessoal, vai crescendo aos poucos”, explica.

Como a média de consumo de clientes residenciais é baixa (na EDP a média é de 153,8 kWh/mês e na ELFSM 160 kWh/mês para esse perfil de consumo), por agora, a tarifa branca tende a abranger e beneficiar mais os estabelecimentos comerciais pequenos e médios. Inclusive, para muitos que funcionam até as 18 horas, a nova modalidade é recomendada.

DESISTÊNCIAS

A condição para que o sistema possa valer a pena, que é o consumo fora dos horários de ponta, deve ser observada, ressalta Octavio, já que nos horários de ponta, a tarifa média é 96% mais cara que a convencional. Ou seja, quem aderir à tarifa branca e não mudar o perfil de consumo pode ver a conta de luz, ao invés de cair, subir de preço.

Alguns consumidores do Estado, inclusive, já experimentaram esse modelo e, ao ver que não compensou, voltaram para a tarifa convencional. Na ELFSM, um cliente desistiu da tarifa branca. Já a EDP não forneceu esse número.

O que é?

A tarifa branca é uma nova opção que sinaliza aos consumidores a variação do valor da energia conforme o dia e o horário do consumo.

Valor

Nos dias úteis, o valor da tarifa branca varia em três horários: ponta, intermediário e fora de ponta. Na ponta e no intermediário, a energia é mais cara. Fora de ponta, é mais barata. Nos feriados nacionais e nos fins de semana, o valor é sempre fora de ponta.

Avaliação

Comparada com a tarifa convencional, a tarifa branca pode resultar em redução na conta de luz na medida em que houver possibilidade de deslocar o consumo de energia do período de ponta para o de fora de ponta. Caso não consiga evitar o consumo no horário de ponta, a adesão à tarifa branca pode resultar em uma conta maior: nessa situação, é mais vantajoso continuar na tarifa convencional.

Quem pode aderir?

Desde 01/01/2018: quem tem consumo acima de 500 KWh/mês

Desde 01/01/2019: quem tem consumo acima de 250 KWh/mês

A partir de 01/01/2020: todos os consumidores

MAIOR ADESÃO E ISENÇÃO DE ICMS DEVEM IMPULSIONAR MICROGERAÇÃO

Uma das expectativas de especialistas em energia é que a tarifa branca, se engrenar, deve impulsionar a microgeração de energia pelos próprios consumidores e, assim aliviar o parque gerador do país. Isso porque, com essa geração sendo feita por placas solares, por exemplo, o cliente não precisaria mudar seus hábitos de consumo e horários, já que o desconto que é obtido com a energia fotovoltaica produzida compensaria a tarifa maior da noite.

Segundo o diretor de relacionamentos e negócios da empresa W-Energy, Wagner Cunha Carvalho, até mesmo a geração compartilhada deve ser beneficiada se a tarifa branca for mais difundida. “Existe uma expectativa de crescimento da cogeração distribuída para reduzir o consumo e ganhar descontos nas concessionárias”, destaca o executivo.

Outro fator que gera expectativas para o aumento no número de microgeradores no Estado é a isenção, que foi concedida há um ano do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para micro e minigeração de energia distribuída. Até então, quem gerava sua própria energia no Espírito Santo era tributado quando consumia a carga excedente de sua produção que foi injetada na rede distribuidora.

Na micro ou minigeração, o consumidor produz a própria energia, por meio de painéis solares e pode injetar a energia excedente na rede da distribuidora. Isso possibilita gerar energia nos horários de ponta, trazendo redução de gastos em relação à tarifa convencional. De acordo com a Aneel, atualmente existem mais de 53 mil unidades consumidoras usando o sistema de micro ou minigeração distribuída e gerando um total de 660,13 megawatts (MW) de energia. A maior parte delas usa placas solares para gerar energia elétrica. Só no Estado são cerca de 600 microgeradores.

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