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Aplicativos oferecem crédito mais barato que no banco

Aplicativos oferecem crédito mais barato que no banco

Empréstimos de startups acirram disputa no mercado financeiro

Publicado em 16 de março de 2019 às 23:56

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Empresas oferecem crédito online e em pouco tempo para consumidores. (Divulgação)

O mundo digital tem revolucionado as relações de consumo, a forma de a população poupar, investir e também tomar dinheiro emprestado. Como os juros dos bancos tradicionais continuam penosamente caros, o consumidor tem encontrado nas fintechs (startups que unem tecnologia ao setor financeiro) crédito menos burocrático e, melhor, mais barato.

A diferença entre as taxas oferecidas pelas novas plataformas pode chegar a ser três pontos percentuais menor do que as encontradas nas instituições financeiras convencionais.

A comparação foi realizada pelo aplicativo de educação financeira Guiabolso, que tem 5,6 milhões de usuários. Segundo o levantamento, as taxas oferecidas on-line pelas fintechs foram mais vantajosas.

Em fevereiro, entre os usuários que têm parcelas de empréstimos em bancos ou financeiras tradicionais, 82% economizariam se trocassem a dívida adquirida por um empréstimo pessoal digital. Como o valor médio das operações era de R$ 7,2 mil, com parcela média de R$ 836, a migração da dívida poderia garantir uma economia de cerca de R$ 200 por mês.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), Rafael Pereira, a entrada dos aplicativos de finanças no segmento de crédito fez com que houvesse um aumento de oferta e, com isso, o mercado vem se tornando mais competitivo. “Isso favorece ao consumidor conseguir contratar crédito a juros menores e com condições bem melhores”, comenta.

De acordo com dados do Banco Central (BC), ao final de fevereiro, as taxas médias de empréstimo pessoal sem garantia no Banco do Brasil (3,97% ao mês), Itaú (3,91% ao mês), Santander (4,61% ao mês), Caixa (4,58% ao mês) e Bradesco (5,85% ao mês) eram de, respectivamente ao mês.

Já de acordo com Guiabolso, o crédito tomado diretamente com os bancos tradicionais tinha taxa média mensal de 6,7%. A diferença se dá porque os dados do BC englobam diferentes categorias de clientes, como alta renda e private, que têm acesso a taxas melhores.

Segundo o cofundador do Guiabolso, Benjamin Gleason, algumas fintechs trabalham com juros mais baixos do que outras. Isso acontece porque o aplicativo consegue ter mais detalhes sobre a vida das pessoas que estão em busca de crédito e precificar a taxa de acordo com o perfil do cliente. “As fintechs têm taxa média de 3,7% ao mês, que é muito menor do que a do mercado”, comenta.

REGULAMENTAÇÃO

Segundo Rafael Pereira, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), as startups de crédito estão em busca de especialização na oferta de serviços de empréstimos, negociação de dívidas, pagamentos e gestão financeira.

Existem dois tipos de fintechs que são autorizadas pelo BC e que podem oferecer empréstimos às pessoas: Sociedade de Crédito Direto (SCD) e Sociedade de Empréstimo entre pessoas (SEP).

Do primeiro grupo fazem parte as empresas digitais que oferecem empréstimos com capital próprio. No segundo, estão entidades que realizam um meio de campo entre o ofertante do serviço e o contratante.

De acordo com o Banco Central, no momento, há duas SCDs autorizadas a funcionar: a QI Sociedade de Crédito Direto S.A. e a Creditas Sociedade de Crédito Direto S.A. Além delas, há ainda 9 SCDs e 3 SEPs em processo de autorização.

FINTECHS

O que são?

São empresas que promovem inovações nos mercados financeiros por meio do uso de tecnologia, com potencial para criar novos modelos de negócios. Elas podem ser SCD ou SEP.

Sociedade de Crédito Direto (SCD)

Realiza operações de empréstimo, financiamento e aquisição de direitos creditórios por meio de plataforma eletrônica, com o uso de capital próprio.

Sociedades de Empréstimo entre Pessoas

As Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEP) realiza operações de empréstimo e de financiamento entre pessoas, sem a utilização de recursos próprios. Ela opera na intermediação financeira entre operadora financeira e credor.

Regulamentação

Segundo o Banco Central, no momento, há apenas duas SCDs autorizadas: a QI Sociedade de Crédito Direto S.A. e a Creditas Sociedade de Crédito Direto S.A. Além delas, outras nove SCDs e três SEPs estão em processo de autorização.

CRÉDITO DIGITAL

Creditas

Opção 1

A empresa oferece empréstimo pessoal de até R$ 30 mil, com juros a partir de 1,15% ao mês e de 60 a 180 meses para pagar. Mas o contratante precisa deixar o imóvel como garantia. Ela é uma SCD.

Opção 2

Empréstimo pessoal, com o carro como garantia, de até R$ 5 mil com juros a partir de 1,69% ao mês e com de 18 a 60 meses.

QI TECH

Modalidade

A empresa oferece empréstimo pessoal, mas não informou as condições. Ela é uma SCD.

GUIABOLSO

Por aplicativo

O aplicativo oferece crédito digital em parceria com a BV Financeira e CBSS. A taxa de juros média praticada é de 3,7% ao mês.

Fonte: Especialistas ouvidos pela reportagem.

É PRECISO CUIDADO PARA NÃO CAIR NA CILADA DO EMPRÉSTIMO FÁCIL

Diante das inúmeras facilidades que a internet oferece, o consumidor precisa ficar atento para fazer um bom negócio e também para não se enrolar. Segundo especialistas, cuidados básicos como pesquisar sobre a empresa e ler o contrato são fundamentais.

Quando bancos, financeiras ou fintechs oferecem empréstimos com muita facilidade é bom ficar de olho. A especialista em defesa do consumidor Denize Izaíta comenta que é preciso ter cuidado com os dados pessoais nos sites e aplicativos, já que ainda não há uma lei que regulamente a utilização deles pelas empresas.

Presidente do Procon Estadual Denize Izaita. (Gazeta Online)

“Mas, por se tratar de um serviço on-line, quando falamos de crédito digital, podemos usar o decreto de 2013 que regulamenta o comércio eletrônico. Ele garante alguns direitos ao consumidor, como, por exemplo, a disponibilidade de informações sobre a empresa, como CNPJ e endereço, e a utilização de mecanismos de seguranças eficazes para o pagamento”, explica.

A especialista ainda lembra que existem muitos problemas no Brasil em relação ao modelo do mercado financeiro, que permite a criação de agentes de crédito sem exigir os mesmos critérios impostos aos bancos comerciais. “A oferta de crédito no nosso país é muito desorganizada. Ainda não temos legislação que impeça as financeiras de cometerem abusos contra os consumidores”, alerta.

Já o presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), Rafael Pereira, orienta que as pessoas que tomarem empréstimo on-line nunca façam depósitos ou pagamento antecipado para ter o crédito concedido. “Saber quem é a empresa e se ela é autorizada pelo Banco Central, informação que pode estar no próprio rodapé do contrato, e quais são as empresas que esse site é correspondente bancário são importantes para o contratante fazer um bom negócio.

CALCULANDO

De acordo com o coordenador Geral da Faculdade Pio XII, Professor Marcelo Loyola, a concessão de empréstimo é algo burocrático e necessita de uma análise rigorosa do risco de crédito do cliente, por isso se ele for facilmente ofertado a dois cliques desconfie.

“Em um cenário onde os juros estão muito altos ou onde você não está precisando de dinheiro é válido repensar a necessidade da tomada desse crédito. O recurso deve ser utilizado, mas com planejamento e desde que caiba no orçamento”, orienta. Outra dica é não fazer empréstimos com parcelas que consumam mais de 30% do orçamento mensal da família.

PROTEJA-SE

Crédito nas fintechs

Pesquise

Antes de contratar um serviço on-line faça um levantamento para verificar as melhores condições, planos e quais se adequam a sua realidade.

Referência

Cheque se a empresa possui muitas reclamações na Justiça, na Proteste, no Consumidor.gov ou em sites coletivos.

Leia o contrato

Depois de escolhido o serviço, analise o contrato, observando cada detalhe do mesmo, para confirmar se tudo que foi ajustado consta no documento.

Autorização

Pesquise para saber se o provedor daquele serviço tem autorização para executá-lo. No caso do crédito, é importante ver se tem autorização do Banco Central ou se as empresas que citam em suas páginas reconhecem os sites como parceiro. Faça essa investigação antes de passar seus dados pessoais.

BANCOS TRADICIONAIS

Valor da taxa de juros

Analise com cuidado quais são as taxas de juros e condições ofertadas e se elas cabem no seu bolso. Negociar é sempre a melhor opção.

Parcela

É preciso saber se a parcela do empréstimo cabe no seu orçamento.

Orçamento

Qualquer empréstimo que consumir mais de 30% do orçamento mensal é arriscado.

Pesquise

Pesquise taxa de juros e tarifas. Hoje há mais concorrência no setor.

Tomada

Pegue empréstimo somente em último caso, pois as taxas de juros no Brasil ainda são altas.

On-line

Crédito pessoal sem burocracia por aplicativos e internet banking são pré-aprovados e têm taxas mais caras.

Fonte: Proteste e Marcelo Loyola.

TAXAS DE JUROS PENALIZAM O CONSUMIDOR

Quem vai em busca de um empréstimo sempre pergunta: quanto vou pagar de juros por esse crédito? E não é à toa, já que esse número pode fazer com que a dívida adquirida possa dobrar de preço. Mas mesmo com a taxa Selic em baixa, o crédito ainda chega ao consumidor com juros elevados.

Segundo a Associação Brasileira de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os juros de empréstimos a pessoas físicas caíram pelo décimo segundo mês consecutivo. Porém, isso não significa que eles estão muito baixos.

A taxa em empréstimo pessoal de bancos passou de 41,09% ao ano, em março de 2013, para 55,01%, em fevereiro deste ano. Mesmo alta, segundo a Anefac, essa é a menor taxa média registrada desde dezembro de 2014 (53,05% ao ano).

Além das linhas de crédito a pessoa física, taxa do cartão de crédito, uma das mais elevadas do país, também recuou na relação mês a mês. Em janeiro a taxa estava em 270,03% ao ano e passou para 265,28% ao ano. Mesmo assim, ela está bem longe dos 192,94% ao ano praticados em março de 2013.

De acordo com o economista Luiz Antônio Saad, o spread bancário é o que vem fazendo com que as instituições financeiras continuem cobrando taxas elevadas.

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“O spread é a diferença entre o preço de compra e de venda do crédito. Para realizar o cálculo dessa taxa, o banco leva em conta os índices de inadimplência, impostos, despesas, ressarcimento e lucratividade. A partir dessa soma, o banco define qual será a taxa cobrada pelo crédito que será ofertado ao consumidor.” Segundo o especialista, também há o fato do sistema bancário se restringir a poucas empresas. “Isso confere poder para que elas determinem as taxas mais elevadas ao consumidor.”

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