O setor de siderurgia do Espírito Santo corre risco de ser atingido pelo efeito Brumadinho, que tem levado a Vale a reduzir drasticamente a sua produção de minério de ferro. A companhia estima que neste ano haverá queda de no mínimo 20% nas suas vendas. Ou seja, entre 50 milhões a 70 milhões de toneladas deixarão de ser comercializadas por causa do rompimento da estrutura da Mina do Feijão e do descomissionamento de outras nove barragens.
O quadro se agravou ontem com a possibilidade de mais três estruturas se romperem, o que traz risco iminente de desabastecimento, segundo a Federação das Indústrias de Minas Gerais, que chegou a falar que nas siderúrgicas mineiras só há minério para 60 dias.
No Espírito Santo, três empresas contam com a mineradora para produzir. Uma das mais prejudicadas seria a vizinha da Vale, a ArcelorMittal Tubarão. As duas companhias juntas representam cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) local e empregam 80 mil pessoas de forma direta e indiretamente.
Conforme antecipou a colunista Beatriz Seixas, a Vale chegou a deixar de repassar minério para a siderurgia CBF, em João Neiva. A empresa Santa Bárbara, em Cariacica, também deixou de receber em alguns períodos, minério. Mas as empresas alegam que a situação já se normalizou.
A ArcelorMittal Tubarão, que produz aços laminados a quente, por meio de nota, disse que está operando normalmente e acredita que a Vale continuará a priorizar o mercado interno e seus clientes brasileiros.
SEGURANÇA
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo, Léo de Castro, disse que no momento a Vale está colocando em primeiro lugar a segurança da operação. Ela está estudando as operações, reavaliando as condições das minas e barragens para garantir a segurança. A Vale disse que está reduzindo a produção. Se isso vai afetar o Espírito Santo, ainda não sabemos. Mas a Vale está dialogando com os poderes reguladores e com os municípios onde opera, diz.
Segundo Castro, em até 40 dias a Vale vai ter um cenário mais claro sobre o abastecimento dela aos seus clientes, esclareceu ao acrescentar: Não tivemos registro de nenhuma quebra de fornecimento, mesmo com a Vale tendo que fazer uma ginástica para trazer aqui para o Estado o minério que normalmente ia para outros lugares. Se você me perguntar: tem algum risco de afetar o Estado? Lógico que tem. Mas prefiro falar sobre os fatos, e isso ainda não é.
Um especialista do setor diz que a queda da produção de minério terá mais consequências nas atividades portuárias e de exportação. É lógico que esse setor também deixa de ganhar. Mas não acredito que a Vale deixará de produzir pelotas nem que não fornecerá minério para a ArcelorMittal Tubarão, analisa.
BALANÇO
Ontem, a Vale divulgou o balanço do quatro trimestre e mostrou lucro recorde antes da tragédia de Brumadinho. O aumento foi acima do esperado por analistas. A empresa teve resultado líquido de US$ 3,786 bilhões, salto de 391% em relação ao observado no mesmo período do ano passado. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o aumento também foi expressivo e chegou a 168%. Em todo o ano de 2018, o lucro somou US$ 6,860 bilhões. O valor é 24,6% superior ao observado um ano antes.
No Relatório da Administração, a Vale disse que desde o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), decidiu tornar inativas e descomissionar as barragens a montante. Isso fez com que 60% da produção em 2018 já fosse a seco.
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