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Planejamento certo para garantir aposentadoria

Planejamento certo para garantir aposentadoria

Novas regras devem mudar a cultura de não guardar dinheiro

Publicado em 10 de março de 2019 às 01:26

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Delson, 67 anos, curte a aposentadoria depois de levar uma vida sem extravagâncias. (Bernardo Coutinho)

Poupar e investir são palavras que cada vez mais estarão presentes no vocabulário e na cultura dos brasileiros. Com a reforma da Previdência em trâmite no Congresso Nacional, especialistas apontam que o trabalhador precisará se atentar em como complementar ou até mesmo aumentar o valor da aposentadoria paga pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

No caminho a ser trilhado até chegar à idade mínima para se aposentar - 65 anos para homens e 62 anos para mulheres -, será preciso muita disciplinada. Mais do que nunca, para quem está no mercado de trabalho será fundamental reservar parte do seu orçamento pensando no futuro.

Já para quem entrar no mercado de trabalho depois que a reforma for aprovada, o governo pretende criar um modelo de capitalização para que o trabalhador assegure sua aposentadoria. Trata-se de uma espécie de poupança onde o dinheiro é investido individualmente.

Para se ter uma ideia de quanto o comportamento do brasileiro em relação à economia precisa mudar com a nova Previdência, segundo a pesquisa Pulso Brasil de 2018, da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), 76% dos entrevistados acreditam que dependerão do governo para se sustentar quando aposentados e 63% das pessoas não têm nenhuma forma de investimento que garanta o seu sustento na velhice.

Dependência

 

De acordo com o professor da Fucape, Fernando Galdi, a reforma vai diminuir a dependência do trabalhador para com a Previdência, já que para se aposentar com o valor integral do benefício ele terá que contribuir por pelo menos 40 anos.

“Vai demorar mais para as pessoas se aposentarem ganhando o valor integral. A proposta eleva a idade mínima para a aposentadoria e o tempo de contribuição. Por isso, é importante programar um percentual da renda para realizar algum tipo de investimento.”

De acordo um estudo realizado em mais de 30 países pela Ipsos, os brasileiros são os mais preocupados com o envelhecimento. Além de 72% da população ter medo de ficar mais velha, quase um terço dos brasileiros acredita que não vai ter dinheiro suficiente na velhice.

“As pessoas vão precisar aprender conceitos básicos sobre finanças para saberem como cuidar dos seus investimentos e onde aplicar o dinheiro que tem. Terão que compreender que o retorno real acima da inflação é fundamental, porque o investimento precisa valorizar e gerar valor agregado”, explica Galdi.

A planejadora financeira da Valor Investimento, Daniela Cade, aponta que quanto antes você começar a poupar, melhor. “O primeiro passo é começar poupando pelo menos 10% da renda mensal. O segundo, é saber onde investir esse dinheiro. Dependendo do perfil do investidor, apostar em uma carteira com maior grau de risco é melhor por trazer um retorno maior. Já outras que não conseguem poupar podem optar por uma previdência privada que desconte um determinado valor direto na conta”, aponta.

Como se planejar para a aposentadoria

Fique atento

Objetivo

Antes de qualquer coisa, tenha em mente seu objetivo. É preciso lembrar sempre que guardando um pouco hoje você pode garantir uma velhice com mais tranquilidade financeira.

Valor parcial

Homens precisarão ter no mínimo 65 anos de idade e mulheres 62 anos de idade para se aposentar. Com 20 anos de contribuição, o mínimo para os trabalhadores privados do regime geral, o benefício será de 60%, subindo 2 pontos percentuais para cada ano a mais de contribuição até os 100% com 40 anos de contribuição.

Valor integral

Para receber a aposentadoria integral e desfrutar do benefício, o trabalhador precisaria começar a trabalhar cedo. No caso de uma mulher que se aposentaria por idade aos 62 anos, ela teria que começar a trabalhar com carteira assinada aos 22 anos e contribuir pelos próximos 40 anos para ter 100% da aposentadoria.

Benefício menor

Hoje, o valor do benefício faz uma média dos salários base da contribuição, excluindo os 20% mais baixos. Já na regra proposta pela reforma, todos os salários serão considerados, o que também poderia reduzir o benefício, já que, tipicamente, trabalhadores começam a carreira com ganhos menores e vão aumentando ao longo do tempo.

Teto

Atualmente, 80% das contribuições deveriam ser feitas pelo teto do INSS. Mas, com as regras propostas pelo governo, todas as contribuições deveriam ser pelo teto, e o trabalhador deverá comprovar 40 anos de contribuição ao INSS.

Na prática, as aposentadorias devem ser menores no futuro.

Na prática

Aposentadoria

Quanto mais velho você começar a poupar, mais alto deverá ser o percentual destinado à aposentadoria. Aos 20 anos, por exemplo, será preciso, no mínimo, 10% do salário líquido mensal. Aos 30 anos, esse valor sobe para entre 15% e 20% do salário. Já aos 40 anos, o recomendado é guardar pelo menos entre 30% e 40% do salário. E, aos 50 anos, no mínimo 50% do salário recebido mensalmente.

Investimentos

Depende da idade e do perfil do investidor. Pessoas mais jovens e arrojados podem ter parte do dinheiro em ações. Mas a principal recomendação é pela renda fixa, que segue a inflação, como Tesouro IPCA+, que rende uma taxa de juros acima da inflação e garante o poder de compra do dinheiro no futuro.

Assumir riscos para conseguir ganhar com juros em baixa

Ter uma vida mais simples para garantir uma aposentadoria tranquila é a escolha de alguns trabalhadores. Continuar com o carro velho, limitar o número de viagens de férias e guardar o dinheiro para comprar um imóvel e alugá-lo são algumas formas de reduzir os gastos no presente pensando nos reflexos que terão no futuro, especialmente pensando na aposentadoria.

Delson Bourguignon Braz, 67 anos, se aposentou pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) há 14 anos, mas não parou de trabalhar até dois anos atrás, quando resolveu dar uma pausa para cuidar do neto recém-chegado.

“Quando me aposentei, eu já tinha 35 anos de contribuição e atuava na área portuária. Se eu ficasse sem trabalhar não daria para manter a minha família. Eu estava com meus dois filhos na faculdade e resolvi sair rodando o Brasil em busca de emprego”, contou.

Com o dinheiro que Delson pagaria para ter uma previdência privada, ele preferiu investir em imóveis para aluguel e guardava o retorno financeiro que tinha. “Todo o dinheiro extra era destinada à reserva para quando eu decidisse parar de vez de trabalhar. Além disso, todos os ano tirava um mês do meu salário para essa reservada. E se eu via um emprego que me desse mais condições de poupar, eu ia atrás dele”, comenta.

Ele garante que a poupança que fez ao longo da vida não foi nenhum grande sacrifício para estar mais tranquilo agora e se beneficiar da aposentadoria e uma vida mais tranquila. “É a simplicidade que criamos com a vida. A maior parte do que tenho hoje veio do dinheiro que poupei”, conclui.

Se programe

A tendência no mercado de trabalho é que seja cada vez mais difícil continuar empregado até os 65 anos, idade mínima para se aposentar (no caso dos homens), segundo Rodrigo Feitosa, professor do curso de Administração da Fecap. “Por isso é tão importante poupar desde cedo.”

“A maioria dos brasileiros prefere gastar o que tem hoje ao invés de poupar para o futuro. Devido à evolução da tecnologia e à Indústria 4.0, já estamos vendo profissões serem extintas e outras surgirem. O mercado de trabalho está mudando cada vez mais rápido. Os jovens precisam se atentar a isso, poupar e até mesmo arriscar nos seus investimentos”, comenta.

MODALIDADES DE INVESTIMENTO

Renda Fixa

Guardando dinheiro

Caderneta de Poupança

Não há valor mínimo para guardar. Tem risco baixo e é isenta de Imposto de Renda. O ponto negativo é o baixo retorno. Atualmente, rende 70% da Selic.

Títulos públicos

Tesouro pré-fixado

Investimento mínimo de R$ 30,89. Há a cobrança de IR, entre 15% e 22,5%. Não é coberto pelo FGC, porém tem risco baixo.

Tesouro IPCA

O valor mínimo é de R$ 31,22. Tem rentabilidade acima da inflação, mas há a cobrança de Imposto de Renda (IR), entre 15% e 22,5%. Não é coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), porém tem baixo risco.

Tesouro Selic

O investimento inicial é de R$ 90,80. Nos títulos do Tesouro há a cobrança de IR, entre 15% e 22,5%. Não é coberto pelo FGC, porém tem baixo risco.

Títulos privados

Papéis de bancos

Os Certificados de Depósito Bancário (CDB) são títulos emitidos por instituições privadas. O valor da aplicação varia entre R$ 100 e R$ 2 mil, dependendo da instituição financeira. Há desconto de IR. É coberto pelo FGC, para investimento de até

R$ 250 mil, em caso de falência do banco. O risco é baixo.

Letra de Crédito do Agronegócio (LCA)

Investimento inicial de R$ 5 mil, mas pode variar de banco para banco. É coberto pelo FGC, para investimento de até R$ 250 mil e não há cobrança de IR. O risco é baixo.

Debêntures

O investimento parte de R$ 1 mil, mas pode variar. Diferentemente das normais, as debêntures incentivadas não têm cobrança do IR. Ambas não possuem FGC.

CRA

Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) têm isenção de IR e IOF para pessoas físicas. Costuma ter retorno superior ao da maioria dos investimentos de renda fixa e é de médio a longo prazo. Pode haver inadimplência e não tem FGC.

Renda variável

Fundos multimercados

Valor mínimo de investimento de R$ 1 mil. Tem imposto de renda de 15% a 22,5% sobre o ganho líquido. Não tem FGC. Investimento com risco de desvalorização.

Fundo Imobiliário

No Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) o dinheiro é aplicado em imóveis e tem sua rentabilidade vinculada no recebimento de aluguéis, além da valorização dos bens. A pessoa compra o fluxo de recebimento de crédito. É isento de IR para os investidores pessoas físicas. O investimento inicial é a partir de R$ 60. Tem desconto de IR de 20% sobre o ganho de capital. Não tem FGC. Há risco de volatilidade.

Ações

Embora seja possível comprar uma única ação que custa, em média, R$ 10, é necessário investir a partir de R$ 200 para ter retorno. O risco está na oscilação do papel devido à volatilidade do mercado financeiro. Tem desconto de IR de 15% sobre o ganho líquido. Nessa modalidade, não há FGC.

Derivativos

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É possível investir a partir de R$ 100. A modalidade é muito mais arriscada do que comprar ações, por exemplo. Além disso, tem desconto de IR de 15% sobre o ganho e não está garantido pelo FGC.

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