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Economia do Espírito Santo desacelera e dá sinais de estagnação

Economia do Espírito Santo desacelera e dá sinais de estagnação

PIB recua 0,1% no 1º trimestre. Indústria e serviços estão no negativo

Publicado em 22 de maio de 2019 às 00:37

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No primeiro trimestre de 2019, o índice de produção industrial do Espírito Santo reduziu em 8,5%. (Divulgação)

Na contramão das expectativas de retomada de crescimento, que vinham alimentando o mercado até o final de 2018, a economia capixaba mostra sinais de desaceleração no primeiro trimestre deste ano. Os especialistas veem um cenário de fraco desempenho dos principais indicadores do Produto Interno Bruto (PIB), como indústria e serviços, e isso já traz indícios de estagnação econômica para o Estado.

Com um recuo de 0,1% do Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR), considerado uma prévia do PIB capixaba, em relação ao trimestre anterior, as perspectivas para 2019 são de cautela. Se a atividade econômica se mantiver nesse ritmo, economistas já apontam que as riquezas capixabas só devem crescer, no máximo, 0,5% até o fim do ano.

De acordo com especialistas, a desaceleração de investimentos está ocorrendo em diversos setores da economia. No primeiro trimestre deste ano, segundo indicadores econômicos do IBGE, a produção industrial do Estado teve uma queda de 8,5%, em relação ao mesmo período de 2018, enquanto o setor de serviços reduziu em 1,9%. Já a produção agrícola de 2019 deve ser 13,8% inferior a de 2018. Dentre os principais componentes do PIB, o único resultado positivo no primeiro trimestre foi o do comércio (7,9%).

O economista Eduardo Araújo aponta que, em um cenário moderado, o PIB estadual pode avançar 0,5% este ano, mas a situação pode piorar. “Há risco até de desaceleração da atividade econômica do Estado.”

Já segundo o economista e professor da UVV Mário Vasconcelos, a redução do ritmo de crescimento está diretamente relacionada à mudança no quadro de perspectiva da população e do empresariado. “Havia uma expectativa muito grande de que a economia iria deslanchar neste ano em função do novo governo, o que não aconteceu. O mercado esperava que a reforma da Previdência fosse aprovada já no primeiro semestre do ano, estamos indo para o segundo semestre e ainda não ocorreu”, comenta.

Ainda na pauta econômica, entre os pontos que precisam ser solucionados pelo governo federal estão o déficit das contas públicas e a melhoria no ambiente de negócios – o que inclui a reforma tributária. Além desses pontos, especialistas apontam que o governo deve resolver a crise político-institucional em que está inserido, que acaba respingando na desenvoltura acanhada da economia.

Já no Estado, além desses pontos, são os projetos de infraestrutura que precisam sair do papel. Entre eles, estão a duplicação das BRs 101 e 262, a implantação de novos portos e construção da ferrovia ligando Vitória ao Rio de Janeiro, segundo previa o projeto inicial.

“O mundo todo está andando para frente e nós estamos indo para trás. A situação do Estado só está melhor do que a do país porque nossa economia tem um relação forte com o mercado externo, que vem crescendo”, ressalta Vasconcelos.

DESEMPREGO

Diante de tantos números negativos, o quadro atual de desemprego é o que mais gera preocupação à população. Apenas no Estado, no primeiro trimestre deste ano, 364 mil pessoas procuravam emprego. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), divulgada na semana passada, também apontaram que desse total, 101 mil pessoas estão atrás de trabalho há mais de um ano.

“O quadro de desemprego em um cenário de indicadores negativos se agrava mais. A população capixaba em idade ativa apta a entrar no mercado de trabalho cresce cerca de 3% ao ano. Para acompanhar esse ritmo e criar novos postos de trabalho, a economia estadual teria que evoluir nesta mesma proporção”, comenta Araújo.

Ainda de acordo com o economista, com a dificuldade de se conseguir emprego há um agravamento dos problemas sociais, como o aumento da população em situação de rua. “Essa já é uma situação que o cidadão consegue ver no dia a dia.”

“Temos visto que existe no país e no Estado uma certa estagnação econômica. Quando comparamos a renda do trabalhador e indicadores de emprego, vemos uma depressão e uma dificuldade para o país recuperar as questões relacionadas a emprego e renda”, diz Eduardo Araújo.

EXPECTATIVA

Apesar da queda do IBCR no 1º trimestre de 2019, o Estado cresceu 2,01% em relação ao mesmo período do ano passado. O índice foi superior ao nacional que ficou em 0,23%. Mesmo positivo, o resultado do Espírito santo é o pior desde primeiro trimestre de 2018. Naquele período, o indicador apontou um aumento de apenas 1,07% na comparação com o ano anterior.

De acordo com a gerente do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marilia Silva, apesar de na relação trimestre a trimestre ocorrer uma redução no ritmo de crescimento, o Estado permanece com um nível de atividade superior ao apresentado pelo país.

PAÍS DEVE CRESCER MENOS DA METADE DA MÉDIA

Fábrica de automóveis: resultado da indústria no país decepcionou. (Márcia Foletto / Agência O Globo)

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), reduziu suas estimativas para o crescimento econômico global em 2019, baixando com força sua conta para a atividade no Brasil.

Para o nosso país, a OCDE reduziu em 0,5 ponto a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto, para 1,4%, menos da metade da estimativa de expansão da economia mundial, de 3,2% em 2019. Para 2020 o corte no PIB brasileiro foi menor, de 0,1 ponto, a 2,3%.

A OCDE pediu aos estados que evitem uma guerra comercial e que unam seus esforços para “revitalizar” a economia mundial. “Os governos devem agir urgentemente para revitalizar o crescimento que beneficie a todos”, disse a entidade.

Entre as economias latino-americanas, a OCDE espera que o Brasil cresça 1,4% em 2019, o México 1,6%, o Chile e a Colômbia 3,4%.

RECEIOS

O mercado nacional também está receoso com o baixo crescimento previsto para o Brasil. As expectativas de crescimento da economia este ano caíram pela 12ª semana consecutiva na pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central.

A média das previsões de uma centena de instituições do mercado para a expansão do PIB em 2019 passou de 1,45%, na semana passada, para 1,24%. A revisão para baixo se deve principalmente aos sinais de que o PIB ficou negativo no primeiro trimestre deste ano.

O dado será divulgado pelo IBGE no dia 30 deste mês, mas o cenário já é suficiente para o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, diagnosticar um quadro de depressão econômica, com a renda per capita estagnada há três anos. Segundo o economista, a reforma da Previdência não é uma “bala de prata”, mas o primeiro passo para reorganizar as contas públicas e destravar a economia.

“Se não aprovar a reforma da Previdência, se ela for desidratada, vai acabar o teto de gastos (lei que impede que despesas do governo cresçam mais que a inflação do ano anterior) e volta o problema anterior de não sustentabilidade da dívida pública. A coisa fica inadministrável. Tem que ter solução para o problema fiscal para criar perspectiva de esse risco sair”, disse.

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Pegando carona nesse cenário pessimista, a agência de classificação de risco Fitch manteve a nota de crédito do Brasil no nível “BB-“ ontem, com perspectiva estável, mas observou que “um fracasso completo do avanço da reforma da Previdência não pode ser descartado” e que sua aprovação “é necessária, mas não suficiente para melhorar significativamente a perspectiva de curto prazo das contas públicas".

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