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Espírito Santo vira exportador de mão de obra qualificada

Espírito Santo vira exportador de mão de obra qualificada

23% dos capixabas que deixam o Estado têm ensino superior

Publicado em 29 de julho de 2019 às 10:36

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Vinicius se dedicou ao mestrado em administração de empresas para ter oportunidades melhores. Hoje trabalha no Paraná. "A ideia inicial de sair do Estado era ter uma perspectiva de crescimento e salário mais atrativo. Hoje, ganho quase três vezes mais do que quando gerenciava uma empresa no ES. (Arquivo pessoal)

Graduados, pós-graduados, com mestrado ou com doutorado. Pelo menos um a cada cinco capixabas que deixam o Espírito Santo têm ensino superior. O Estado está exportando mão de obra especializada de diversas áreas. Eles deixam o solo capixaba em busca de novas oportunidades, valorização profissional e crescimento na carreira.

Percentualmente, o Espírito Santo exporta mais “cérebros” do que importa. Ao todo, 23% dos capixabas com idades entre 25 e 44 anos que deixaram o Estado têm ensino superior completo. Já os capixabas que trabalham no Estado e têm o mesmo nível de formação, compõem 20% da força de trabalho no Espírito Santo.

Os dados fazem parte de um diagnóstico sobre a situação educacional capixaba entre os anos de 2013 e 2015. O estudo, produzido pelo economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor no Insper, Ricardo de Barros, ainda mostrou que 19% do total de trabalhadores de outros Estados que chegaram ao Espírito Santo têm ensino superior.

As características geográficas do Estado estão entre os principais motivos que levam à migração da mão de obra qualificada, segundo especialistas ouvidos pelo GazetaOnline.

“Devido ao fato de o Estado ser pequeno, ele acaba oferecendo menos vagas do que os demais, como São Paulo, Rio, Minas e algumas localidades no Sul do país. Isso ocorre principalmente para as áreas de engenharia”, aponta a psicóloga especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas.

Desde 2017, Mark é professor universitário em Brasília. Antes, atuava como gerente da área de inteligência competitiva. (Arquivo pessoal)
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Vi que o mestrado iria abrir horizontes e eu poderia tentar outros desafios profissionais. Na época em que acabei o mestrado, em 2008, abriu uma vaga para Brasília e me candidatei

Mark Miranda, professor universitário
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O presidente do Conselho Regional de Economia, Ricardo Paixão, lembra que o trabalhador busca por valorização. “Quanto mais qualificado, mais esse profissional vai procurar por uma localidade que esteja remunerando relativamente bem. Se ele não encontra no seu local de origem, vai para outro”, ressalta.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua (Pnad-C), realizada em 2018 pelo IBGE, 391 mil pessoas no Estado têm ensino superior completo. Este número representa aproximadamente 15,2% do total de habitantes do Estado com mais de 25 anos.

Segundo os especialistas, a busca por um mercado menos concorrido também pesa na decisão de deixar o Estado de origem. A migração de muitos profissionais de uma área para uma localidade pode saturar o mercado de trabalho para aquela profissão.

O economista Rudisom Rodrigues de Paula explica que, para criar mais oportunidades qualificadas, o Estado tem um longo caminho a percorrer. “O Espírito Santo ainda é muito voltado ao comércio exterior, principalmente com a exportação de commodities, como o minério. O Estado precisa diversificar sua base econômica, pois apenas dessa forma poderá gerar oportunidades para diferentes áreas.”

CAPIXABAS VOAM PARA OUTROS PAÍSES

José, a esposa e os filhos moram na África do Sul desde 2017 . (Arquivo pessoal)

Em busca de oportunidades de trabalho, alguns capixabas optam por alçar voos mais longos. Atravessando, algumas vezes, oceanos, eles embarcam numa viagem internacional rumo a outras culturas.

Portugal, Estados Unidos, Canadá, França e África do Sul são alguns dos muitos países escolhidos por eles como novo lar e local de trabalho.

Entre os capixabas que decidiram ir atrás do sonho e do desafio de trabalhar em outro país está José Anilton Calegari Garcia, 39 anos. Formado em engenharia elétrica, trabalhava desde 2008 como gerente de uma empresa de siderurgia no Estado.

Em busca de novas experiências, em 2017, candidatou-se, na mesma empresa em que trabalha, para atuar em uma unidade que fica na África do Sul. “Eu já pretendia deixar o Espírito Santo naquela época. Me inscrevi para ser gerente de planta da área de coqueria, que faz o beneficiamento do carvão para produzir o combustível do forno, e fui selecionado”, lembra.

Ele, a esposa Danielly dos Santos Magioni e os dois filhos – Valentina, de oito anos, e Antonio, de três anos, – embarcaram de Vitória para São Paulo e depois de São Paulo para Johanesburgo (maior cidade da África do Sul), onde mora atualmente. Para percorrer o último trajeto, levaram mais dez horas de avião.

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A experiência para o meu currículo é importantíssima. Além disso, criei a oportunidade dos meus filhos estudarem fora e aprenderem inglês. As questões profissionais e familiares pesam muito na hora de decidir viajar.

José Anilton Calegari Garcia, gerente de uma empresa de siderurgia
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Ele conta que a esposa é jornalista e gerencia mídias sociais de empresas. Mesmo estando na África, ela mantém os clientes brasileiros, já que realiza o trabalho todo on-line. “A tecnologia possibilitou isso. Mas, no primeiro momento, foi um pouco mais difícil a adaptação dela devido ao idioma. Aqui (na África do Sul) são faladas três línguas oficiais – entre dialetos e internacionais”, conta.

Segundo especialistas, quem deseja trabalhar fora do país precisa ter cautela e pensar em todos os pontos favoráveis e desfavoráveis. “O trabalhador não deve fazer mudanças brutas e impensadas, porque o custo de mudança acaba sendo muito alto. Ele precisa lembrar, além da oportunidade, dos custos que isso envolve”, comenta o economista Wallace Millis.

PROFISSIONAIS MIGRAM PARA ESTUDAREM EM OUTROS ESTADOS

Não é muito difícil conhecer alguém que tenha saído da sua cidade ou Estado natal para estudar fora. Muitos capixabas, estudantes e profissionais, deixam o Espírito Santo para se capacitar em lugares que são referência em sua área de atuação.

Por estudarem e estagiarem em outro Estado, acabam criando uma rede de relacionamentos e oportunidades por lá. O que, em muitos casos, terão dificuldade de reproduzir aqui no Espírito Santo.

A psicóloga especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas aponta que a medicina, por exemplo, é uma das áreas que mais desloca estudantes por esse motivo. 

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Quando eles terminam os estudos, acabam emendando com um trabalho. Assim, muitos não voltam para o Estado

Gisélia Freitas, psicóloga especialista em carreira
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Essa situação acontece também com o setor de finanças. O economista e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Paixão, expõe que o Espírito Santo não é um polo para esse segmento e , com isso, muitas vezes, a pessoa que busca por capacitação vai para São Paulo e dificilmente volta. “As opções para trabalhar aqui ainda são bem menores do que lá.”

Já na Região Sul do país, estudantes e profissionais são atraídos pelos polos de tecnologia. Outro exemplo é o de Minas Gerais, que recebe profissionais de vários lugares do Brasil interessados em atuar na indústria e na engenharia.

FUGA PODE CAUSAR PREJUÍZOS AO EMPREENDEDORISMO CAPIXABA

Um dos problemas da redução do número de especialistas em um Estado é a possibilidade de deixar de atrair empresas por falta de mão de obra qualificada em pesquisa, criação e desenvolvimento de tecnologias. Além disso, essa fuga também pode gerar prejuízos ao empreendedorismo.

De acordo com especialistas, a abertura de negócios pode acontecer de duas formas. A primeira leva em conta a taxa de desemprego. Quando muitas pessoas não têm trabalho formal, elas encontram no empreendedorismo uma forma de se sustentar.

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Já por outro lado, temos os negócios criados por esses cérebros. Essas pessoas conseguem ter acesso mais fácil ao capital para investimento e também são especialistas em uma área em que poderiam empreender de forma inovadora

Wallace Millis, coordenador do MBA em Gestão Comercial da UVV
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O especialista explica que uma opção para essas pessoas é pensar em escala. “Pelo tamanho do Estado, crie modelos de negócios que possam ser ampliados por outros Estados. O Espírito Santo é um ótimo lugar para se empreender e também para testar esses produtos”, comenta Millis.

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