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Síndrome põe crianças refugiadas em coma após traumas na Suécia

Síndrome põe crianças refugiadas em coma após traumas na Suécia

Médicos acreditam em psicogênese cultural, mas não sabem por que só ocorre no país escandinavo

Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 16:04

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primeiro caso foi registrado há vinte anos, em 1998, mas apenas agora, com a crise migratória que atingiu em cheio a Europa há três anos, esta síndrome chama a atenção do mundo. (Reprodução/Pixabay)

Um fenômeno dramático e difícil de explicar atinge as famílias refugiadas na Suécia: centenas de crianças caem em estado de coma, embora não apresentem problemas físicos de saúde, após serem informadas de que serão deportadas. Elas apenas dormem, não se movem nem respondem a estímulos externos, abatidas pelas experiências traumáticas a que foram submetidas durante vários meses ou anos. Os pesquisadores tentam entender como e por que esta condição, chamada pelos médicos de Síndrome da Resignação, acontece apenas no país escandinavo.

Quem sofre deste fenômeno são, em geral, os pequenos refugiados vindos de países soviéticos, da ex-Iugoslávia e das comunidades yazidi, minoria duramente perseguida no Oriente Médio. O primeiro caso foi registrado há vinte anos, em 1998, mas apenas agora, com a crise migratória que atingiu em cheio a Europa há três anos, esta síndrome chama a atenção do mundo. Segundo autoridades suecas, houve 169 casos relatados de "crianças apáticas" entre 2015 e 2016, mas alguns especialistas acreditam que milhares de pessoas já podem ter sentido os efeitos desta "histeria epidêmica".

Ao jornal "El País", Göran Bodegård, diretor da unidade psiquiátrica infantil do hospital universitário Karolinska, em Estocolmo, os pacientes ficam retraídos e totalmente passíveis. Não comem, bebem nem reagem a estímulos físicos ou a dores. Não se levantam nem mesmo para ir ao banheiro, e devem ser carregados pelos familiares para serem lavados, por exemplo. Os mais vulneráveis à síndrome são as crianças e adolescentes entre 7 e 19 anos, que foram forçadas a testemunhar atos de violência contra os seus próprios familiares ou a fugir de regiões tomadas por conflitos armados.

RISCO DE EFEITO DOMINÓ

Apesar de tantos casos já terem sido registrados, nenhum estudo conseguiu revelar por que outros grupos de imigrantes sob grande estresse não passam pela mesma coisa ou os motivos para que esta síndrome acontece apenas na Suécia. Os médicos acreditam que trata-se de uma psicogênese cultural, provocada por sucessões de traumas ainda na infância ou juventude; por isso, apontam que é necessário lidar urgentemente com o problema, para evitar um efeito dominó nos grupos sociais já afetados.

No ano passado, a BBC conversou com a família de uma criança de 9 anos que, há vinte meses, estava desacordada por conta da síndrome, sendo alimentada através de uma sonda. A família, originária da União Soviética, não entendia como a menina, que antes era alegre e adorava dançar, de repente caiu num estado quase vegetativo, embora os seus reflexos e pulsações estivesse normais. A médica voluntária que lhe oferecia cuidados tentava esclarecer o que poderia ter levado a esta situação extrema:

— Quando explico aos pais o que acontece, digo que o mundo foi tão terrível que ela se voltou para dentro de si mesma. Desconectou a parte consciente do seu cérebro — disse Elisabeth Hultcrantz à rede britânica.

Segundo os especialistas, os sintomas são involuntários, ou seja, não poderiam ser provocados pelos próprios pacientes. Muitos deles, inclusive, não sabiam da existência da Síndrome da Resignação antes de cair no seu sono profundo, que pode durar vários meses - os casos mais longos chegaram a se prolongar por dois anos, e a reincidência não é incomum. No entanto, há muitas pessoas céticas sobre o fenômeno, que acusam as crianças ou as suas famílias de induzirem o coma, para evitar a deportação aos seus países de origem.

Para lidar com o problema, a orientação oficial das autoridades é outorgar vistos de residência permanente para as famílias dos pacientes. No entanto, a recuperação pode ser muito mais complexa, segundo Karl Sallin, neurologista sueco que lidera as pesquisas sobre o tema:

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— Conhecem-se muitos casos de indivíduos que melhoraram sem que a família tivesse recebido uma permissão de residência, e também crianças que ficaram doentes tendo o visto. Podem passar cinco meses desde que recebem uma resposta positiva até que sejam notados sinais de melhora — explicou o médico ao "El País".

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