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Venezuela ameaça represálias contra Europa após sanções a autoridades

Venezuela ameaça represálias contra Europa após sanções a autoridades

Regime mira empresas espanholas no país, e cogita expulsar diplomatas 'imperialistas'

Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 12:11

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Nicolás Maduro. ( Reprodução)

A Venezuela ameaça responder às novas sanções contra sete altas autoridades do seu governo, anunciadas na segunda-feira pela União Europeia (UE), com represálias ao bloco. Segundo Diosdado Cabello, o número dois do chavismo e um dos afetados pelas novas medidas punitivas, o regime pode aplicar medidas similares contra nações europeias, com a expulsão de diplomatas ou de funcionários europeus no território venezuelano. Um dos alvos principais é a Espanha, que, segundo Cabello, pode ver as suas empresas no país sul-americano expulsas.

— Temos todo o direito de fazer exigências. Se eles não nos querem, nós também não os queremos — disse Cabello.

Anteriormente, o governo do presidente Nicolás Maduro rechaçara as sanções, acusando a UE de subordinar-se à “racista e supremacista” Casa Branca de Donald Trump. Em nota, a Chancelaria venezuelana tachou as medidas de ilegais, e a UE, de “instrumento a serviço das pretensões imperialistas do governo americano”.

A UE já havia embargado, em novembro passado, a venda de armas e materiais utilizáveis em repressão interna. Mas, agora, pela primeira vez aplica punições individuais contra membros do governo — Maduro e vários dos seus aliados já foram alvo de sanções de EUA e Canadá. Os ativos financeiros das autoridades na Europa serão congelados, embora não esteja claro se, de fato, possuem bens no continente. Segundo Carlos Romero, cientista político da Universidade Central da Venezuela (UCV), as punições são eficazes para um estágio inicial de pressão:

— É um mecanismo que, na sua primeira etapa, é inteligente, porque se dirige a um grupo de pessoas associadas ao presidente Maduro. Não prejudicam o país como um todo — explicou o professor ao GLOBO. — É um passo anterior a um tipo de pressão de caráter mais geral, caso não haja mais negociação sobre as eleições presidenciais.

Com as sanções, ficarão proibidos de viajar aos países do bloco o ministro do Interior, Néstor Reverol; o diretor do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), Gustavo González; e o ex-comandante da Guarda Nacional Bolivariana Antonio Benavides. Os três são responsabilizados por graves violações de direitos humanos e repressão à oposição. Já Cabello é acusado de utilizar meios de comunicação para fazer ataques e ameaças. O braço-direito de Maduro disse que as sanções não lhe afetavam, uma vez que não tem ativos ou capitais na Europa, mas são um "golpe no coração do diálogo".

Também pesa contra Cabello sua participação na Assembleia Nacional Constituinte, formada por aliados de Maduro para governar com mão de ferro. A instituição do órgão teria sido a gota d’água para que a UE aprovasse novas sanções, e o chanceler espanhol, Alfonso Dastis, disse que as punições são irreversíveis até que haja avanços nas conversas com a oposição.

Já a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, é alvo das medidas por ter facilitado o estabelecimento da Constituinte, sem garantir a imparcialidade do órgão. Os outros afetados pelas punições foram Maikel Moreno, presidente do Tribunal Superior de Justiça, e Tarek William Saab, apontado procurador-geral pela Constituinte.

— Simbolicamente, as sanções contra Cabello são muito importantes. Reforçam que a UE tem uma posição muito clara na reclamação pela recuperação democrática — diz Romero. — O próximo passo é a suspensão das relações comerciais e internacionais com a Venezuela. A UE está atuando coletivamente, e um eventual embargo econômico afetaria todos os venezuelanos. Por enquanto, o governo não deu demonstração de que mudará sua tendência centralizadora. Continua a repressão e os insultos à oposição, com ofertas vagas que fazem perder-se a confiança.

OPOSIÇÃO EM FAVOR DE PILOTO MORTO

Enquanto isso, o Parlamento venezuelano, de maioria opositora, exige que o governo indenize as famílias de Óscar Pérez, ex-policial rebelde, e seis de seus aliados mortos por forças de segurança num episódio denunciado por opositores e ONGs de direitos humanos como execução extrajudicial. No domingo, o dissidente foi sepultado nu em Caracas, contra a vontade da viúva e da mãe, sete meses após atacar prédios públicos com um helicóptero roubado.

Na segunda-feira, houve protestos na capital venezuelana contra a morte dos sete rebeldes no início da semana passada.

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— Os filhos dos massacrados têm que ser devidamente indenizados, assim como os parentes, as viúvas, os pais — disse a deputada Delsa Solórzano.

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