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Cientistas usam imagens de satélite para combater o trabalho escravo

Cientistas usam imagens de satélite para combater o trabalho escravo

Locais relacionados com a escravidão moderna são identificados do espaço

Publicado em 19 de março de 2018 às 14:27

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O combate à escravidão moderna ganhou um aliados dos céus: imagens de satélite estão ajudando pesquisadores e ativistas a identificarem locais suspeitos de exploração do trabalho escravo. Com um sistema de inteligência artificial, eles mapearam 55.387 fornos para a produção de tijolos no Paquistão, Índia, Nepal e Bangladesh, indústria conhecida pelo emprego mão de obra forçada e infantil. O próximo passo é localizar outras estruturas relacionadas com o trabalho escravo, incluindo os campos de carvão no Brasil.

— Os fornos de tijolos no Paquistão que eu olhei, e locais como os campos carvoeiros no Brasil, são tão grandes e com padrões únicos, que percebi que poderiam ser vistos do espaço — contou ao “Guardian” Dorren Boyd, pesquisador da Universidade de Nottingham e idealizador do projeto. — Eu conversei com o Google, mas sempre foi uma questão de dinheiro. Quando vim para Nottingham há dois anos, eles disseram: “agora você tem um instituto geoespacial com pessoas que trabalharam para a agência espacial britânica”.

Os primeiros resultados foram publicados no início do mês no periódico “Photogrammetry and Remote Sensing”. De acordo com o Índice Global da Escravidão, elaborado pela Walk Free Foundation, estima que existam no mundo 40,3 milhões de vítimas da escravidão moderna, sendo 24,9 milhões em trabalhos forçados e 15,4 milhões em casamentos forçados. No Brasil, a estimativa é de 161.100 pessoas vivendo em regime de escravidão.

Entre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável está a meta de “erradicar o trabalho forçado, acabar com a escravidão moderna e o tráfico de pessoas e assegurar a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil” até 2030. Para isso, dizem os pesquisadores, são necessários dados confiáveis sobre a localização das atividades que exploram o trabalho escravo.

Neste primeiro estudo, os cientistas focaram no “cinturão do tijolo”, uma área de 1,6 milhão de quilômetros quadrados que se estende por Paquistão, Índia, Nepal e Bangladesh. As imagens analisadas são públicas, fornecidas pelo Google Earth. Para identificar cada uma das mais de 50 mil estruturas, os pesquisadores “ensinaram” um sistema de inteligência artificial com imagens padrão dos fornos.

— É normalmente uma oferta de trabalho. Dizem a imigrantes que eles podem viver e trabalhar, e que a alimentação será fornecida e eles recebem um adiantamento — explicou Boyd, sobre o funcionamento dos fornos. — Mas quando chegam ao local, encontram alguns bandidos que mantém o controle físico completo. As crianças trabalham nos fornos. Estupros de mulheres e crianças são comuns.

Além das imagens de satélite, Bales vislumbra o uso de outros dados satelitais, como análises espectroscópicas, que possam detectar os locais de minas de ouro ilegais, pelo rastreamento da contaminação de rios por mercúrio. Para Jakub Sobik, da organização Anti-Slavery Global, a identificação das indústrias associadas à escravidão moderna do espaço é útil para informar governos sobre campos desconhecidos.

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— A escravidão acontece em diferentes contextos, com governos e sistemas que são mais ou menos comprometidos em conter o problema — disse Sobik. — Isso pode ser útil num lugar como o Brasil, que tem muito mais da vontade política para mirar no trabalho infantil e forçado.

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