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EUA, Canadá e 14 países europeus expulsam mais de 100 diplomatas russos

EUA, Canadá e 14 países europeus expulsam mais de 100 diplomatas russos

Medida é retaliação ao Kremlin; entenda

Publicado em 26 de março de 2018 às 17:58

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Os Estados Unidos, Canadá e 14 países da União Europeia (UE) anunciaram nesta segunda-feira (26) que vão expulsar mais de 100 diplomatas russos diante do suposto envolvimento da Rússia no envenenamento do ex-espião Sergei Skripal e sua filha Yulia em Salisbury, na Inglaterra, no início do mês. Os funcionários devem sair em até uma semana. O governo americano também informou que vai fechar o consulado russo em Seattle. O Ministério do Exterior russo considerou o movimento como um "gesto provocador" e disse que o país vai responder de forma equivalente nos próximos dias.

O presidente dos EUA, Donald Trump: diplomatas russos expulsos. (Reprodução)

Os governos de Alemanha, França, Polônia e Canadá mandarão embora quatro representantes russos, enquanto serão 60 a deixar o território dos EUA. A Lituânia expulsará três diplomatas e proibirá a entrada de 44 cidadãos russos no país. Já 13 deixarão a Ucrânia. Itália, Holanda, Albânia e Dinamarca expulsarão dois diplomatas, cada; República Tcheca, três; Estônia, Finlândia, Suécia, Letônia e Romênia, um cada. A Croácia vai declarar persona non grata um diplomata russo no país.

Falando no Parlamento britânico, a primeira-ministra Theresa May agradeceu o apoio dos aliados na ação conjunta e afirmou que o Reino Unido trabalhará junto no caso. "O Reino Unido andará lado a lado com seus aliados. Agradecemos a ajuda deles."

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse que medidas adicionais podem ser tomadas no futuro: "Já hoje, 14 Estados-membros decidiram expulsar diplomatas russos", afirmou Tusk, em coletiva de imprensa na cidade de Varna, na Bulgária. "Medidas adicionais, incluindo sanções dentro da estrutura comum da UE, não podem ser excluídas nos próximos dias e meses."

Moscou nega qualquer responsabilidade pelo ataque de 4 de março contra Skripal, a primeira ofensiva com uso de agente nervoso na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. O ex-espião, que é radicado em Salisbury desde 2011, foi encontrado desacordado ao lado da filha, Yulia, no banco de um shopping após visitar um restaurante local. Uma investigação sobre o caso no Reino Unido ainda não acabou, sem conclusão anunciada. Ainda internadas, as duas vítimas do ataque podem ter sequelas graves, segundo autoridades responsáveis pelo inquérito.

Em retaliação, o governo britânico expulsou 23 diplomatas russos, e Moscou revidou com a ordem de deixar o país para o mesmo número de representantes diplomáticos britânicos, além de fechar o consulado de São Petersburgo e o British Council. O Kremlin negou qualquer envolvimento e diz que Londres está orquestrando uma campanha anti-Rússia.

Skripal, de 66 anos, é um ex-coronel preso em 2004 e condenado a 13 anos de prisão em 2006, na Rússia, por entregar informações secretas às autoridades britânicas. De acordo com a sentença, o militar era responsável por transmitir a Londres as identidades de espiões que trabalhavam secretamente na Europa, informações que chegavam ao serviço secreto do Reino Unido, o MI-6. Na época, o governo russo afirmou que Skripal praticava os vazamentos desde 1990. Em julho de 2010, ele foi um dos quatro prisioneiros libertados por Moscou em uma troca por dez espiões como parte de um acordo com o FBI, a polícia federal americana, e obteve status legal de refugiado no Reino Unido.

REINO UNIDO: PACIÊNCIA ESGOTADA

O secretário de Defesa do Reino Unido, Gavin Williamson, disse nesta segunda-feira (26) que o mundo está alinhado à postura britânica quanto ao envenenamento do ex-espião russo e que a paciência com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, está se esgotando. Na semana passada, em cúpula da União Europeia em Bruxelas, o governo britânico pedira apoio a seus aliados do bloco para prevenir o que chamou de agressões da Rússia, clamando pelos parceiros europeus a mandarem embora agentes russos suspeitos de espionagem.

Durante uma visita à Estônia, Williamson disse que o apoio ao Reino Unido é "em si mesmo uma derrota para o presidente Putin".

"A paciência do mundo com o presidente Putin e suas ações está ficando bastante curta e o fato de que, inclusive na aliança da Otan, inclusive na União Europeia, as nações se posicionaram a favor do Reino Unido... realmente penso que esta é a melhor resposta que podíamos ter", disse ele aos repórteres. "Sua intenção (do Kremlin), sua meta, é dividir, e o que estamos vendo é o mundo se unindo à postura britânica e isso em si mesmo é uma grande vitória e envia uma mensagem excepcionalmente poderosa ao Kremlin e ao presidente Putin.

O ministro do Exterior Britânico Boris Johson, que tem defendido repreensões duras à Rússia desde o início do impasse diplomático, disse que é a maior ação de países do Ocidente na história contra espiões russos:

"A extraordinária resposta internacional de nossos aliados se impõe como a maior expulsão coletiva de agentes de inteligência russos na História e ajudará a defender nossa segurança compartilhada", escreveu ele no Twitter. "A Rússia não pode quebrar leis internacionais com impunidade".

AÇÃO CONTRADITÓRIA DOS EUA

A ordem do governo americano inclui 48 funcionários na embaixada em Washington e 12 funcionários de inteligência da missão russa na sede das Nações Unidas em Nova York, e reflete a preocupação sobre atividades cada vez mais agressivas da Rússia, indicaram funcionários do governo americano à imprensa, sob condição de anonimato. Autoridades americanas afirmaram que espiões na ONU estavam abusando de privilégios residenciais sob o acordo da organização multilateral. Há mais de cem agentes russos nos EUA atualmente, e as expulsões reduzem significativamente a capacidade de infiltração russa no país.

A decisão americana contrasta com atos recentes adotados pelo presidente americano Donald Trump. Na semana passada, em conversa telefônica com Putin, o republicano ignorou as orientações de seu ex-conselheiro de Segurança Nacional, H. R. McMaster, e parabenizou o presidente russo por sua vitoriosa reeleição. Logo depois, McMaster foi substituído por John Bolton, que adota posições duras sobre a política externa americana.

A Casa Branca disse que a Rússia precisa mudar de postura caso queira melhorar suas relações. O embaixador russo em Washington, Anatoly Antonov, disse que foi uma decisão errada, sustentando que a medida estraga "o pouco que restou das relações".

O contingente expulso pelos EUA é o maior desde que o governo do ex-presidente Ronald Reagan mandou 55 diplomatas embora, em 1986, no auge da Guerra Fria. Em dezembro de 2016, o ex-presidente Barack Obama expulsou 35 agentes de inteligência da Rússia em resposta à suposta interferência russa na eleição americana daquele ano.

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Em julho passado, então, a Rússia ordenou que os Estados Unidos retirassem 755 funcionários do território russo após anúncio de novas sanções americanas. Em retaliação, os EUA fecharam o consulado russo em São Francisco e os anexos diplomáticos em Nova York e Washington.

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