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Hierarquia da Igreja Católica é questionada pela desigualdade de gênero

Hierarquia da Igreja Católica é questionada pela desigualdade de gênero

Conferência em Roma debate por que as mulheres importam para o Vaticano

Publicado em 5 de março de 2018 às 12:54

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Freiras. (Reprodução/Pixabay)

Para marcar o Dia Internacional da Mulher, a edição deste ano da conferência “Voices of Faith” (Vozes da Fé), que acontece nesta quinta-feira, dará espaço para as demandas das mulheres na conquista por espaço dentro da hierarquia da Igreja Católica. O evento acontece uma semana após a publicação, numa revista do jornal da Santa Sé, de um artigo denunciando a exploração do trabalho das freiras e a desigualdade de gênero nas estruturas do catolicismo.

“Nós vivemos um tempo marcado pela mudança, mas existem lugares onde a igualdade de gênero está sendo sistematicamente negligenciada. A Igreja Católica é um deles”, afirmam os organizadores da conferência, em comunicado. “As crises que devemos confrontar em nosso mundo hoje exigem líderes, mulheres e homens, que estejam preparados para pensar o impensável e que arriscarão perturbar interesses poderosos e dar assos em direção ao bem maior”.

O Papa Francisco e outros cardeais estão convidados, apesar de a edição deste ano acontecer fora do Vaticano. Nos últimos quatro anos, a “Voices of Faith” aconteceu na Academia Pontifícia das Ciências, no Vaticano, mas neste ano acontecerá na Cúria dos Jesuítas, a um quarteirão da Cidade do Vaticano. A alteração aconteceu após o cardeal Kevin Farrell vetar o nome de três palestrantes, inclunido a ex-presidente da Irlanda Mary McAleese.

— É crucial para nós trazer vozes que representam perspectivas normalmente não ouvidas no Vaticano — disse Chantal Götz, fundadora da Voices of Faith, ao “National Catholic Reporter”. — Em última análise, não vimos razão para que essas mulheres tivessem que passar por um “processo de aprovação”.

A edição deste ano da conferência tem como tema “Por que as mulheres importam”. Mary McAleese, que seria apenas uma das palestrantes, agora fará a abertura do evento, com a palestra “O tempo é agora para mudança na Igreja Católica”, seguida por uma série de apresentações que discutirão a liderança feminina dentro da Igreja. Existem pouquíssimas mulheres em altos cargos na hierarquia da Santa Sé, com destaque para Barbara Jatta, que em 2017 se tornou a primeira mulher a assumir a direção dos Museus do Vaticano.

Apesar de ser realizada anualmente desde 2014, conferência deste ano ganha importância pelo crescente movimento pela igualdade de gênero dentro da Igreja Católica. No dia 1º de março, a revista “Donne, Chiesa, Mondo”, encartada no jornal “L’osservatore Romano”, fonte oficial do noticiário da Santa Sé, denunciou a exploração do trabalho das freiras.

No artigo “O trabalho (quase) gratuito das freiras”, três religiosas contaram, anonimamente, o que as mulheres sofrem dentro da Igreja. “Empregadas a servir os homens, levantam-se de madrugada para preparar o café da manhã e vão dormir apenas após o jantar ser servido, a casa estar arrumada e a roupa lavada e passada. Neste tipo de serviço, as irmãs não têm horário contado e regulamentado e a remuneração é incerta, muitas vezes muito modesta”, contou uma delas. “Jesus veio nos libertar e aos seus olhos somos todos filhos de Deus. Mas, na vida concreta, certas freiras não vivem isso e sentem uma grande confusão e profundo desconforto”.

Enquanto isso, circula nas redes sociais o manifesto “Mulheres para a Igreja”, denunciando que “enquanto mulheres adultas, experimentamos diariamente o papel subordinado das mulheres na Igreja, o que nos faz sentir cada vez mais fora de lugar. Vemos que as mulheres na comunidade existem na medida em que resolvem problemas dos protagonistas masculinos. Todos homens. Quer seja no oratório paroquial, nos movimentos eclesiais ou nas faculdades teológicos, o modelo feminino proposto é sempre o da ‘muleta’ de apoio a figuras masculinas”.

Durante uma audiência há dois anos, o Papa Francisco foi questionado diretamente se a Igreja poderia ser mais aberta às mulheres. Como resposta, reconheceu que “as mulheres estão excluídas dos processos decisórios na Igreja: não excluídas, mas a presença das mulheres é muito fraca. Nós devemos avançar nisso”.

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— O seu trabalho, o meu trabalho, o trabalho de todos nós é servir. Muitas vezes eu consagrei mulheres que realizaram trabalho de servidão, não de servir — criticou o Papa.

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