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CNE anuncia vitória de Maduro e Falcón diz que não reconhecerá resultado

CNE anuncia vitória de Maduro e Falcón diz que não reconhecerá resultado

A participação divulgada pelo CNE é a mais baixa numa eleição presidencial desde que o chavismo chegou ao poder, em 1999

Publicado em 21 de maio de 2018 às 09:22

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Maduro, presidente da Venezuela . (REUTERS/Marco Bello)

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela informou na noite deste domingo que, segundo dados ainda não definitivos, o presidente Nicolás Maduro foi reeleito com 5.823.728 milhões de votos, superando amplamente seus rivais Henri Falcón (1.820.552 milhão) e Javier Bertucci (925.042). De acordo com a presidente do CNE, Tibisay Lucena, com 92,6% do total de votos apurados a participação eleitoral foi de 46% e poderia chegar a 48%.

"Trata-se de uma tendência irreversível... pedimos que o voto dos venezuelanos seja reconhecido e respeitado", declarou Lucena, menos de uma hora depois de Falcón ter anunciado sua decisão de não reconhecer o processo eleitoral.

A participação divulgada pelo CNE é a mais baixa numa eleição presidencial desde que o chavismo chegou ao poder, em 1999. E os votos obtidos por Maduro ficaram muito abaixo dos 7,5 milhões conquistados pelo presidente em sua primeira eleição, em abril de 2013, pouco depois da morte de Chávez. No total, de acordo com o CNE, neste domingo votaram 8.693.936 milhões de venezuelanos. Durante a campanha, Maduro anunciara seu objetivo de obter 10 milhões de votos, número que o próprio Chávez nunca conquistou.

O presidente disse esperar que os demais candidatos reconheçam "a vontade do povo", disse que convocará uma jornada de diálogo nacional e que o resultado alcançado "não é pouca coisa depois da guerra que fizeram contra o povo". "Quanto me subestimaram e aqui estou, vitorioso". declarou.

O candidato presidencial venezuelano Henri Falcón, principal adversário do presidente Nicolás Maduro nas presidenciais realizadas neste domingo no país, anunciou sua decisão de "não reconhecer" o processo eleitoral pelas gravíssimas irregularidades cometidas pelo governo, em cumplicidade com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Falcón considerou a eleição "ilegítima" e disse que o Palácio de Miraflores deveria convocar uma nova eleição "mas sem trapaça"

"Aqui não houve uma eleição, devem realizar uma nova eleição. Mas sem pontos vermelhos, sem voto assistido, sem chantagem e sem abusos", declarou Falcón, que também confirmou uma alta abstenção.

O candidato, apoiado pelos partidos Movimento ao Socialismo (Mas), Copei e Avançada Progressista, informou dados concretos sobre as irregularidades detectadas por sua equipe de campanha. Segundo Falcón, um ex-chavista que foi governador do estado de Lara, em 87% dos centros de votação foram instalados os chamados "pontos vermelhos", onde eleitores deviam informar que tinham votado e apresentar sua Carteira da Pátria, fornecida pelo governo. O procedimento era necessário para garantir a preservação de benefícios sociais concedidos pelo Estado. "Violaram a Constituição e as leis... contabilizamos 12.711 pontos vermelhos muito próximos dos centros de votação", explicou Falcón.

O candidato disse, ainda, que recebeu 142.589 denúncias de "voto assistido", expressão usada para referir-se ao acompanhamento por parte de membros da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) ou da Milícia Bolivariana Nacional a eleitores no momento da votação.

"Fazemos sérios questionamos a este processo, que consideramos que carece de legitimidade. Não reconhecemos este processo eleitoral", enfatizou Falcón, abrindo uma crise para o governo.

Além de não ser reconhecido por governos estrangeiros — a grande maioria da região — e importantes organismos regionais e internacionais, agora Maduro, cuja reeleição provavelmente será anunciada pelo CNE, não é reconhecido sequer por seu principal rival eleitoral.

As questionadas eleições presidenciais venezuelanas foram realizadas neste domingo em clima de apatia, desânimo social e forte tensão entre o governo do presidente e candidato à reeleição, Nicolás Maduro, seus adversários e a oposição que durante toda a campanha defendeu a abstenção. Durante todo o dia, os opositores Henri Falcón e Javier Bertucci denunciaram irregularidades no processo eleitoral, sobretudo pressões sobre eleitores que recebem ajuda social do governo. O Palácio de Miraflores negou as acusações e a sensação no país era de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciaria um resultado totalmente diferente do que observaram partidos opositores, universidades e empresas de consultoria locais. A opinião de consenso entre críticos do chavismo é de que a participação eleitoral alcançou, no máximo, 40%, a mais baixa desde que começou a autoproclamada revolução bolivariana, em 1999.

A Frente Ampla, integrada por partidos opositores, universidades, sindicatos e a Igreja, informou que a participação eleitoral ficou abaixo de 30%. Esse cenário poderia implicar que muitos chavistas castigaram o governo Maduro não votando e não optando por um candidato opositor.

No entanto, o temor era de que o CNE informasse um índice de participação mais elevado e uma vitória de Maduro com entre 6 e 7 milhões de votos. Em abril de 2013, um mês após a morte do ex-presidente Hugo Chávez, o atual presidente foi eleito pela primeira vez com 7,5 milhões de votos. A grande dúvida ontem era saber o que fariam Falcón e Bertucci: desconhecer o resultado ou aceitar a derrota. Ou seja, unir-se à posição da grande maioria opositora ou alinhar-se com o Palácio de Miraflores, com o objetivo de tornar-se a única oposição reconhecida pelo chavismo.

O não reconhecimento de ambos candidatos enfraqueceria uma eventual proclamação de reeleição de Maduro por parte do CNE. Governos estrangeiros, entre eles o dos Estados Unidos, já disseram considerar ilegítimo processo eleitoral venezuelano.

"O que vimos foi claríssimo: uma abstenção altíssima, algo inédito na Venezuela. Mas o governo vai mentir, mais uma vez, vai manipular os resultados", disse ao GLOBO Angel Oropeza, figura de proa da Mesa de Unidade Democrática (MUD), que não participou da eleição por considerar irregular todo o processo.

Para Oropeza, “o desafio agora é reunificar a oposição”.

"Temos de pensar caminhos, não existe outra alternativa", enfatizou.

Desde o começo da tarde, o ex-chavista Falcón e o pastor evangélico Bertucci alertaram para o que ambos consideraram “abusos” do chavismo, com destaque para o chamado “voto assistido”, através dos “pontos vermelhos” (barracas colocadas próximas aos centros de votação, onde os eleitores recebem instruções de militantes chavistas).

"O presidente disse publicamente que pagaria 10 milhões de bolívares (atualmente em torno de US$ 8) por cada voto registrado. Isso é muito dinheiro para muita gente. É comida como carne e frango, que não vem nas sacolas dos programas de ajuda social", afirmou Liliana Hernández, dirigente histórica da aliança opositora.

Mas ontem comentava-se entre dirigentes da oposição que Falcón estaria sendo pressionado para não denunciar fraude, e aceitar a provável vitória de Maduro. Sua decisão final era uma incógnita.

As denúncias opositoras foram minimizadas pelo presidente: "Existem 34 mil mesas de votação e 14 mil centros eleitorais. Sempre surge algum probleminha e isso é o que acontece."

Mais cedo, Bertucci foi mais duro que Falcón. "Não se pode reconhecer uma eleição na qual os acordos não foram respeitados", declarou.

De acordo com a MUD, foram colocados pontos vermelhos próximos a 80% dos centros de votação, em Caracas. De fato, numa volta pela cidade, O GLOBO constatou a presença dos polêmicos pontos. O sistema de disciplina é cada vez mais abrangente, apontou Nicmer Evans, integrante do movimento de chavistas críticos Maré Socialista. "Cerca de 79% dos eleitores foram forçados a mobilizar-se", assegurou Evans.

CENTROS DE VOTAÇÃO PERMANECERAM ABERTOS

Vários centros de votação permaneciam abertos neste domingo na Venezuela, após o encerramento oficial da eleição em que o presidente Nicolás Maduro busca um segundo mandato, de acordo com informações oficiais.

O processo eleitoral deveria terminar às 18h00 (19h00 de Brasília), mas algumas escolas onde havia filas de eleitores ainda permaneciam abertas em várias partes do país, de acordo com imagens da estatal VTV. Tradicionalmente, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) prolonga o dia para "garantir o direito" ao sufrágio.

À tarde, Maduro ordenou ao partido do governo que fornecesse meios de transporte para sua militância para se deslocar às urnas, após relatos sobre uma baixa participação.

Falcón também denunciou a compra de votos por parte do governo.

"Fazemos um chamado urgente às autoridades do CNE e aos integrantes da Força Armada Nacional. Isso (as irregularidades) não podem continuar acontecendo porque é uma chantagem com as pessoas mais humildes do país", acusou o ex-governador do estado de Lara.

As eleições de ontem foram as mais criticadas e menos reconhecida por setores da oposição, governos estrangeiros e organismos internacionais da era chavista. Na opinião da CIDH, em sintonia com a grande maioria dos países da região, as Nações Unidas e União Europeia (UE), "este processo eleitoral não conta com as condições mínimas necessárias para permitir a realização de eleições livres".

Bertucci evitou posicionar-se sobre reconhecer ou não a eleição presidencial venezuelana e focou seu discurso em críticas ao governo Maduro.

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"Se anunciarem que Maduro ganhou seremos alvo de mais sanções e a crise vai se acentuar. Eu continuarei nas ruas, ao lado do povo", disse o candidato, que defendeu o afastamento de Maduro do poder. "Este governo não tem capacidade de tirar o país da crise", completa. 

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