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Caverna onde meninos ficaram presos na Tailândia esconde lenda

Caverna onde meninos ficaram presos na Tailândia esconde lenda

Lenda conta que caverna é ocupada pelo espírito de uma princesa; população fez oferendas para acalmar espírito e resgatar os 12 meninos e seu treinador de futebol

Publicado em 18 de julho de 2018 às 22:28

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Meninos e treinador em caverna na Tailândia. (Reprodução)

Não muito longe da entrada da caverna de Tham Luang, onde 12 meninos tailandeses e seu treinador de futebol foram resgatados, fica uma estrada, que sobe a montanha e leva até um santuário. Os visitantes que vão ao local se ajoelham, acendem velas e incenso, rezam diante de uma estátua. A figura veste roupas tradicionais na cor rosa e é cercada por flores e oferendas.

A imagem é da princesa Jao Mae Nang Non, que traduz algo como "deusa reclinada". Seu nome está no complexo de cavernas - Tham Luang Nang Non - e na montanha do local - Doi Nang Non, e é dito que seu espírito vive nas cavernas, abaixo da montanha.

A lenda sobre a vida da princesa e como seu espírito chegou à caverna, no norte da Província de Chiang Rai, é semelhante a dezenas de outras histórias tailandesas. O sistema de crenças e folclore do país é fortemente influenciado tradições brâmanes, budistas e animistas. O conto também fala sobre o significado espiritual e mítico que as cavernas têm na Tailândia.

A história conta que nos tempos antigos, uma linda princesa se apaixonou por um garoto que trabalhava em um estábulo e engravidou dele. Sabendo que seu amor era proibido, o casal fugiu e se abrigou na caverna para descansar. Quando o rapaz saiu em busca de comida, foi pego pelo exército do rei e morto. Atormentada, a princesa se esfaqueou e sangrou até a morte, dentro da caverna.

Segundo a lenda, seu sangue se tornou a água que flui pelos canais subterrâneos, enquanto seu corpo é a montanha, cujo formato se compara ao de uma mulher adormecida.

A estudante Runchanok Nganjit contou que ouve a história da princesa desde criança e os moradores de Mae Sai acreditam que seu espírito agora protege a caverna. "Todos nós acreditamos que todos os lugares têm espíritos guardiões, lugares como montanhas, cavernas e casas. Podemos não vê-los, mas eles podem nos ver, e por isso precisamos respeitá-los quando entramos em seus lugares." Ela disse acreditar que o espírito da princesa desempenhou um papel no desaparecimento dos 12 meninos e seu treinador de futebol.

Cavernas por toda a Tailândia têm santuários, muitos deles budistas, e vários carregam histórias sobre as viagens de Buda na região e como ele apaziguou gigantes e espíritos assustadores, como explica o professor de antropologia Andrew Alan Johnson, da Universidade de Princeton.

Nos mitos da região norte do país, onde fica a caverna de Tham Luang Nang Non, há uma ligação entre cavernas e perigo, e existe também a ideia de que os espíritos femininos perigosos, os Jao Mae, podem ajudar os humanos que a eles recorrerem.

"O Jao Mae das cavernas parece sugerir algo constante sobre cavernas na imaginação humana", disse o professor. "Ali estão os espíritos que ficam na ponte entre vida e morte. De fato, se pensarmos nas mulheres como essas figuras capazes de trazer vida ao mundo, não supreende que esses espíritos sejam, em maioria, femininos, vivendo nesses espaços de limite. São locais de perigo, mas também de possibilidade."

O antropólogo cultural e especialista em budismo e poder na sociedade contemporânea tailandesa, Edoardo Siani, da Universidade de Kioto, disse que as cavernas são consideradas como possuidoras de um tipo especial de poder, e aqueles que entram nelas podem acumular tal poder. Ele explicou que é por esse motivo que praticantes religiosos ascéticos, como monges e eremitas, às vezes meditam em cavernas, que também são gênese para santuários e oferendas.

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"A razão pela qual você encontra oferendas e até santuários construídos dentro de cavernas em toda a Tailândia é porque as pessoas tentam apaziguar os espíritos ou os deuses que podem habitar as cavernas." A tradição não foi esquecida durante a busca pelos 12 meninos e seu treinador. No altar para a princesa, tailandeses colocaram refrigerantes, ovos cozidos, frutas e sobremesas. "Eu não sei o que a aborreceu", disse Naruemon Saowake, enquanto colocava os alimentos perto da estátua. "Mas faremos uma oferta para agradá-la."

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