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Entenda dificuldade do Japão em lidar com as chuvas que já mataram 114

Entenda dificuldade do Japão em lidar com as chuvas que já mataram 114

País é famoso por administrar desastres naturais, mas território acidentado e ordens ineficazes prejudicam ação

Publicado em 9 de julho de 2018 às 13:04

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Imagem ilustrativa - Anualmente, em média, cerca de seis tufões atingem a ilha entre julho e outubro ou novembro. (Reprodução/Pixabay)

Famoso por lidar eficientemente com desastres naturais, como terremotos e tsunamis, o Japão enfrenta a intensidade das chuvas nos últimos dias. Ainda que a chuva persistente tenha aparentemente acabado, autoridades alertaram para a possibilidade de pancadas e deslizamentos repentinos.

Socorristas no Japão trabalham em peso sobre lama e ruínas, na corrida para encontrar sobreviventes após fortes chuvas torrenciais causaram enchentes e deslizamentos que deixaram ao menos 114 mortos e 61 desaparecidos no Oeste do país. Cerca de 11,2 mil lares estão sem energia elétrica, e centenas não têm mais água. Alguns motivos estão por trás da dificuldade do governo em lidar com as chuvas desta vez.

A forte precipitação veio junto de um tufão frontal que atingiu o país, que entra na sua temporada do fenônemo. Anualmente, em média, cerca de seis tufões atingem a ilha entre julho e outubro ou novembro. Desta vez, no entanto, o volume de água atingiu nível máximo 118 pontos de monitoramento do governo nas últimas 72 horas até domingo, segundo a agência de meteorologia do país.

ORDENS DE SAÍDA INEFICAZES

As autoridades emitiram ordens de retirada para cerca de 5 milhões de pessoas durante as chuvas, mas a orientação não é obrigatória. Muitos ignoraram o pedido do governo. Especialistas também criticam o sistema de alerta japonês, que acaba deixando a tarefa de disseminar as ordens a funcionários públicos locais que muitas vezes não tem experiência em gerenciamento de desastres.

— A relutância em emitir essas ordens podem resultar em atrasos. E se são emitidas em horários estranhos, ninguém fica sabendo — afirma Hirotada Hirose, expert em gestão de desastre. — Os seres humanos têm um chamado viés de normalidade, o que significa que as pessoas não tentam sair, ignorando informações negativas.

Cerca de 70% do território japonês é coberto por montanhas e morros, então muitas casas são construídas em encostas, o que coloca muitas pessoas no caminho de deslizamentos de terras e enchentes.

O governo tem um projeto de longo prazo nas áreas propensas a desastres, e até proibiu novas construções nos lugares mais vulneráveis. Mas o projeto está em andamento e muitos continuam em perigo.

— A terra no Japão é geologicamente diversa, com placas tectônicas e camadas geológicas vulcânicas. Em poucas palavras, é fraca — afirma Hiroyuki Ohno, chefe do Sabo (Controle de Erosão de Areia) e Centro Técnico de Deslizamento.

Além da geografia acidentada, muitas residências no Japão são feitas de madeira, seguindo um estilo particularmente tradicional. Isso pode ser favorável em termos de flexibilidade no caso de terremotos, mas traz menos chance de resistir a pressão produzida por enchentes ou deslizamentos.

MUDANÇA CLIMÁTICA

Muitas pessoas nas regiões afetadas pelo desastre relatam que nunca viram chuvas tão fortes assim. Cientistas alertam que uma das consequências do aquecimento global poderia ser um aumento em desastres relacionados a chuvas. Hoje, especialistas afirmam que a população deve ser retirada muito antes de ordens do governo em regiões onde há previsão de precipitação intensa.

— A frequência de desastres ligados a chuvas fortes está aumentando, e estamos enfrentando um mundo onde as regras aprendidas com a experiência já não se aplicam mais — afirma Ohno.

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