O piloto do avião da companhia aérea de Bangladesh US-Bangla que caiu no Nepal em março, matando 51 pessoas, sofreu um "estresse mental severo" durante o voo, segundo os resultados de um relatório do governo nepalês divulgado na segunda-feira, 27.
A investigação oficial revelou que o piloto de 52 anos Abid Sultan mostrava sinais de fadiga, chegou a chorar e cometeu uma série de erros técnicos em pleno voo. "Quando analisamos a conversa na CVR (a caixa-preta do avião), ficou claro que o capitão sofria de estresse mental agudo. Também parecia estar cansado e esgotado por causa da falta de sono", apontaram os investigadores.
O avião, um Bombardier Dash 8 com matrícula S2-AGU que realizava o trajeto desde Daca com 67 passageiros e 4 tripulantes a bordo, caiu no dia 12 de março em Katmandu durante a aterrissagem. Vinte pessoas sobreviveram ao acidente.
As gravações contidas na unidade de registro da cabine mostram que Sultan confirmou que o trem de aterrissagem estava desdobrado seis minutos antes de tentar aterrissar pela primeira vez. Contudo, quando o copiloto, Prithula Rashid, revisou o estado do avião, descobriu que o trem de aterrissagem não estava desdobrado.
Na segunda tentativa de aterrissagem, minutos depois, a aeronave derrapou ao chegar ao solo e sofreu uma forte colisão que provocou um incêndio.
CONDUTA DUVIDOSA
Além dos erros técnicos, o relatório afirma que o piloto fumou cigarros continuamente durante o voo, o que segundo os investigadores indica seu elevado nível de estresse.
Sultan ainda manteve um longo monólogo durante a viagem, no qual fez vários comentários ofensivos sobre um copiloto da mesma companhia que havia questionado seu profissionalismo, o que o levou a sofrer crises emocionais no voo e na fase de aterrissagem.
O piloto afirmou também que "estava muito incomodado e ferido pelo comportamento de sua companheira" e que "ela era a única razão pela qual ia deixar a companhia", segundo os investigadores.
De acordo com vários pilotos nepaleses contatados (que pediram anonimato), as conversas pessoais entre companheiros de trabalho estão estritamente proibidas nas cabines durante a aterrissagem e a decolagem.
Antes de trabalhar na US-Bangla, Sultan atuou na Força Aérea de Bangladesh e foi retirado do serviço ativo em 1993 por depressão, segundo o relatório, embora tenha sido declarado apto para o voo após ser reavaliado por um psiquiatra em 2002.
"Nenhum dos exames médicos dentre 2012 e 2017 que o comitê revisou mencionam sintomas de depressão, e ele recebeu a aprovação do assessor médico", concluíram os investigadores.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta