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Tuíte de Trump sobre 'matança de fazendeiros' derruba moeda sul-africana

Tuíte de Trump sobre 'matança de fazendeiros' derruba moeda sul-africana

Presidente americano disse ter mandado seu secretário de Estado investigar desapropriações de terra no país

Publicado em 23 de agosto de 2018 às 12:48

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O presidente dos Estados Unidos Donald Trump. (Gage Skidmore | Flickr)

O governo da África do Sul deixou claro nesta quinta-feira (23) seu mal-estar com um tuíte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que mandou seu secretário de Estado, Mike Pompeo, investigar as "desapropriações de terras e fazendas de brancos" e o "assassinato de fazendeiros" naquele país. Os tuítes eram uma referência projeto de reforma agrária que está sendo discutido no Congresso sul-africano, onde não ocorre nenhuma matança de fazendeiros.

Na mensagem publicada na noite quarta-feira em seu Twitter, Trump contou ter solicitado a Pompeo que "estudasse com cuidado as apreensões e desapropriações de terras e fazendas na África do Sul e o assassinato em larga escala de fazendeiros. 'A África do Sul agora está tomando terra de fazendeiros brancos'", disse, referindo-se a uma reportagem que havia sido exibido sobre o tema na Fox News. No tuíte, o presidente americano marcou um apresentador e a Fox, sua emissora favorita.

Com as declarações do presidente americano, a cotação do rand, a moeda sul-africana, caiu 1,5 ponto percentual nas bolsas de valores.

 

O governo de Pretória logo respondeu, também no Twitter, que a "África do Sul rejeita totalmente esta visão estreita que pretende dividir a nação e nos recorda nosso passado colonial". "A África do Sul vai acelerar o ritmo da reforma de uma maneira prudente e inclusiva, que não divida a nação", completou o governo em seu tuíte.

O Ministério das Relações Exteriores sul-africano vai pedir à embaixada americana em Pretória esclarecimentos sobre as declarações de Trump, alertou a porta-voz do presidente Cyril Ramaphosa, acrescentando que o presidente americano estava "mal informado" sobre o assunto.

— É lamentável que o tuíte [de Trump] seja baseado em informações falsas — declarou a chanceler sul-africana, Lindiwe Sisulu.

TEMA ESPINHOSO NO PAÍS

O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. (Reprodução/Twitter)

O tuíte de Trump lançou mais lenha na fogueira de um tema altamente polêmico para Pretória. Com a aproximação das eleições gerais de 2019, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa prometeu acelerar a reforma agrária, com o objetivo de "reparar a grave injustiça histórica" cometida contra a maioria negra da população do país durante o período colonial e o apartheid, que terminou oficialmente em 1994.

No início deste mês, o partido do governo da África do Sul, o Congresso Nacional Africano (CNA), anunciou que iria prosseguir com os planos de emendar a Constituição do país para permitir a desapropriação de terras em compensação.

Atualmente, a minoria branca, que representa 8% da população da África do Sul, ainda possui 72% das fazendas, contra apenas 4% dos negros (80% da população).

Investidores temem que as reformas propostas pelo governo acabem afetando a produção agrícola, o que terá impacto negativo na economia, embora Ramaphosa já tenha afirmado mais de uma vez que as mudanças não vão comprometer o crescimento econômico nem o abastecimento de comida. Ele diz que apenas as terras sem uso são alvo do governo.

A questão da terra, muito sensível no país, já havia provocado uma polêmica diplomática em março entre África do Sul e Austrália, cujo governo se ofereceu para receber os agricultores sul-africanos brancos "perseguidos".

O ministro das Comunicações da África do Sul, Nomvula Mokonyane, tentou pôr panos quentes na controvérsia no Twitter, afirmando que o tuíte de Trump não afetaria as relações entre os dois países.

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— O tuíte não determina nossa abordagem quanto aos EUA, nem nossas relações presentes e futuras — disse Mokonyane ao sair de uma reunião ministerial.

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