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Evangélicos cubanos marcam posição contra casamento gay

Evangélicos cubanos marcam posição contra casamento gay

Matrimônio igualitário pode entrar no texto de reforma constitucional e ir a plebiscito

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 11:19

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Havana é a capital e a maior cidade de Cuba e encontra-se na província Ciudad de La Habana. (Pixabay)

Um pôster na entrada da Igreja Metodista de Havana recebe os fiéis: "Sou a favor do design original." No momento em que Cuba analisa permitir o casamento entre homossexuais, os evangélicos da ilha não cedem: afirmam que essa união deve ser exclusiva entre um homem e uma mulher.

— A proposta do casamento igualitário, produto da ideologia de gênero, é totalmente incompatível com a História, com os valores culturais e o pensamento dos pais de nossa pátria — diz o pastor Lester Fernández, do púlpito.

Os fiéis neste templo no bairro de El Vedado, na capital da ilha, concordam com ele.

— Se não nos unimos homem e mulher, de onde virá a família? Deus diz: "Homem para mulher e mulher para homem." De onde procriação virá então? Seria o fim do mundo — afirma a enfermeira aposentada Juana Rodríguez à AFP.

Sexta-feira passada, líderes de cerca de 20 denominações evangélicas se encontraram em um dos salões do templo. O tema que os atraiu foi a proposta da Assembleia Nacional de alterar a Constituição e incluir como conceito de casamento a união "entre duas pessoas", e não apenas "entre um homem e uma mulher", como diz a versão atual de 1976.

Depois de os homossexuais serem hostilizados durante os primeiros anos após o triunfo da Revolução Cubana, o governo iniciou uma campanha de inclusão há mais de uma década, promovida pela deputada Mariela Castro, filha do ex-presidente Raúl Castro.

— Eu concordo — declara o presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel. — Reconhecer o casamento entre pessoas, sem limitações, responde a um problema para eliminar qualquer tipo de discriminação na sociedade.

As reuniões cidadãs para discutir o esboço da nova Constituição vão até 15 de novembro. Em seguida, um texto final será preparado e submetido a referendo em 24 de fevereiro de 2019.

UM MILHÃO DE EVANGÉLICOS

O presidente da Associação da Convenção Batista do Oeste de Cuba, Dariel Llanes Quintana, alerta que se o conceito de casamento for modificado na Constituição, os evangélicos votarão contra todo o projeto. Segundo ele, há um milhão de fiéis, num país de 11 milhões de pessoas.

Há algumas semanas, a Igreja Católica Cubana rejeitou categoricamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo e pediu "outros meios legais" para proteger essa união. Considerou a mudança como um "colonialismo ideológico" imposto por nações poderosas.

Após o triunfo da revolução de 1959, a educação católica privada foi eliminada e muitas propriedades da Igreja foram confiscadas — mais tarde foram devolvidas pouco a pouco.

Em 1992, após uma reforma constitucional, Cuba deixou de ser um Estado ateu e secular. A relação com a Igreja Católica sempre teve altos e baixos, mas melhorou em 1998, após a visita do Papa João Paulo II.

Agora são as denominações evangélicas que marcam posição.

— O casamento é a união entre homem e mulher — diz Moisés Sánchez, outro pastor evangélico de 24 anos, mas acrescenta: O fato de pensarmos diferente não nos torna homofóbicos ou intolerantes. Amamos homossexuais, lésbicas, só não concordamos com o modo como pensam.

Sánchez acrescenta que "essa não é uma guerra entre cristãos e homossexuais, é sobre os cristãos e uma grande parte dos que não o são, argumentando que o casamento é a união entre um homem e uma mulher.

Para o bispo da Igreja Metodista, Ricardo Pereira, a questão é complexa em um país onde as políticas educacionais — públicas e livres — são elaboradas a partir da perspectiva do Partido Comunista de Cuba (PCC).

Pereira acredita que todas as crianças, independentemente de sua fé, seriam obrigadas a receber uma educação que, em seu julgamento, poderia ameaçar suas crenças religiosas.

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— Em outros países, leis como essas foram aprovadas, mas são países multipartidários, onde, se você não quer que seu filho o mande para a escola pública, você o manda para o colégio católico ou para o evangélico — disse ele. — Isso nos traria um conflito que nos forçaria a viver contra a lei. Os pais não teriam autoridade para educar seus filhos até que atingissem a maioridade.

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