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Intensidade da tsunami na Indonésia impressiona cientistas

Intensidade da tsunami na Indonésia impressiona cientistas

Estudos no fundo do mar serão cruciais para entender devastação em Palu

Publicado em 1 de outubro de 2018 às 15:33

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Terremoto e tsunami na Indonésia. (Reprodução/YouTube)

Cientistas ficaram surpresos com a intensidade da tsunami que devastou a cidade de Palu, na Indonésia, na última sexta-feira. Segundo os estudiosos, um terremoto como o que antecedeu o desastre na região normalmente não teria a capacidade de formar ondas tão destrutivas. No entanto, o mar varreu milhares de prédios na costa, destruindo casas, estabelecimentos comerciais, hoteis e mesquitas.

"Nós esperávamos que o tremor formasse uma tsunami, mas não nesta potência", diz Jason Patton, um geofísico que trabalha para uma empresa de consultoria, a Temblor, e leciona na universidade de Humboldt, na Califórnia. "Quando eventos assim acontecem, acabamos descobrindo coisas que não teríamos observado antes".

O tremor de 7,5 de magnitude teve epicentro na costa da ilha de Sulawesi, a cerca de 78 quilômetros ao norte de Palu. Pouco após o abalo — aproximadamente 30 minutos depois —, ondas de até seis metros atingiram a cidade, também arrastando carros e matando centenas de pessoas.

Os fatos trazem à tona também a falta de equipamentos avançados para a detecção e prevenção de tsunamis, como afirmaram especialistas. Outras comunidades situadas na ilha também foram atingidas pela tsunami. Há nesses locais, no entanto, menos rastros de destruição do que em Palu.

Tsunamis catastróficas são geralmente o resultado de terremotos ocorridos em zonas de convergência de placas tectônicas, quando grandes partes da crosta terrestre são deformadas, movendo-se verticalmente ao longo de uma falha geológica. Isso repentinamente desloca enormes quantidades de água, criando ondas que podem viajar em alta velocidade através das bacias oceânicas e causar destruição a milhares de quilômetros da origem do terremoto.

Como exemplo disso há a tsunami de 2004, no Oceano Índico, que teve ondas de até 30 metros e matou 230 mil pessoas da Indonésia à África do Sul, como resultado de um terremoto de magnitude 9,1 em Sumatra. Por outro lado, a falha que se rompeu na sexta-feira foi uma na qual o movimento da terra é basicamente horizontal. Esse tipo de movimento normalmente não criaria uma tsunami — porém, sob certas circunstâncias, isso pode acontecer, de acordo com Patton.

Uma falha de deslizamento pode ter uma certa quantidade de movimento vertical que pode deslocar a água do mar. Ou a zona de ruptura da falha pode passar por uma área onde o fundo do mar sobe ou desce, de modo que quando a falha se move durante o terremoto, ela empurra a água do mar para frente.

Outra possibilidade é que a tsunami tenha sido criada indiretamente. A violenta agitação surgida durante o terremoto pode ter causado um deslizamento submarino que teria deslocado a água e, portanto, criado ondas. Tais eventos não são incomuns: ocorreram durante o terremoto do Alasca de 1964 com magnitude 9,2, por exemplo.

Patton explica que uma combinação de fatores pode ter contribuído para a tsunami. Estudos realizados no fundo do mar serão cruciais para entender o evento.

"Nós não sabemos o que causou isso até que uma pesquisa seja feita", diz ele.

PREVENÇÃO DE TERREMOTOS

A tsunami também poderia ter sido potencializado pela localização de Palu, situada no final de uma estreita baía. Seu litoral e os contornos da parte inferior podem ter focado a energia das ondas e as guiado para a baía, aumentando a altura das ondas, à medida que se aproximava da costa.

Tais efeitos também foram vistos antes. Crescent City, na Califórnia, foi atingida por mais de 30 tsunamis, incluindo uma após o terremoto do Alasca, em 1964, no qual 11 pessoas morreram, devido aos contornos do fundo do mar da região e da topografia e localização da cidade.

Independentemente do modo como as ondas foram formadas, não é esperado que um terremoto de magnitude 7,5 seja capaz de criar um evento marítimo em larga escala, mas sim um mais localizado, como o de sexta-feira. Com a tsunami gerada tão perto de Palu, havia pouco tempo para as pessoas escaparem. Um alerta de tsunami foi emitido pelo governo e suspenso logo em seguida, cerca de meia hora após o terremoto, aparentemente depois que a tsunami atingiu Palu.

Atualmente, a Indonésia usa apenas sismógrafos, dispositivos de posicionamento global e medidores de maré para detectar tsunamis, cuja eficácia é limitada, ressalta Louise Comfort, professora da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, que esteve envolvida em um projeto para trazer novos sensores de tsunami para a Indonésia.

Nos Estados Unidos, a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) possui uma sofisticada rede de 39 sensores localizados no fundo do oceano capazes de detectar pequenas mudanças de pressão que possam indicar a possibilidade de uma tsunami. A informação é então enviada via satélite e posteriormente analisada, gerando um alerta à população caso seja necessário.

Segundo Louise, a Indonésia possuía uma rede parecida com 22 sensores, mas eles não estão em uso no momento por alguns estarem defeituosos e outros terem sido vandalizados. No momento, ela trabalha na concepção de um novo projeto no qual usaria comunicação submarina como alternativa ao uso de bóias de superfície que são destruídas facilmente ou até mesmo atingidas por navios. Planos para instalar um protótipo do sistema no oeste de Sumatra foram adiados este mês.

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"Eles não conseguiam encontrar uma maneira de trabalhar juntos", disse ela. "É doloroso quando você sabe que a tecnologia está lá. A Indonésia está no Anel de Fogo, e as tsunamis acontecerão novamente".

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