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Síria fez ataques com armas químicas mesmo depois de assinar tratado

Síria fez ataques com armas químicas mesmo depois de assinar tratado

Levantamento da BBC mostra que uso de agentes nervosos na guerra civil pode ter deixado centenas de mortos

Publicado em 15 de outubro de 2018 às 12:25

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Tanque das forças rebeldes em Idlib, uma das áreas mais afetadas pelas armas químicas na guerra civil . ( OMAR HAJ KADOUR )

Um levantamento feito pela BBC sobre a guerra civil na Síria — que já deixou mais de 350 mil mortos desde 2011 — mostrou que, até chegar perto da vitória, o presidente sírio Bashar al-Assad, fez uso maciço de armas químicas no conflito.

Segundo o levantamento, pelo menos 106 ataques com armamentos químicos foram levados a cabo desde setembro de 2013, quando Assad assinou um pacto para eliminá-los do país (a Convenção contra Armas Químicas).

Cidade com mais de 80 mortos

As províncias mais atingidas pelos ataques foram Idlib, Hama, Aleppo e a região de Damasco, embora não se tenha estabelecido uma relação direta entre todas as centenas de mortes nesses locais e as armas químicas. Um dos episódios mais letais ocorreu na cidade de Khan Sheikoun, em Idlib, onde morreram mais de 80 pessoas, informaram fontes dos serviços de saúde das forças anti-Assad.

Quase metade dos ataques químicos foi feito por aviões, embora forças terrestres também tenham recorrido a esse tipo de arma.

— Os ataques químicos são apavorantes — contou à BBC Abu Jaafar, que estava em Alepo em 2016 quando a parte da cidade controlada pelos rebeldes foi retomada pelas forças de Assad. — Uma bomba ou míssil mata as pessoas instantaneamente, mas as substâncias químicas asfixiam. É como morrer afogado, ficando sem oxigênio. É horripilante.

Família toda perdida

Uma cena de filme de terror é descrita em outro depoimento, o de Abdul Youssef, que conta ter perdido num ataque químico com gás sarin — cerca de 20 vezes mais letal que cianureto, dizem especialistas — seus dois irmãos, sua mulher, seus filhos gêmeos de 11 meses de idade, um primo e vários vizinhos. Foi num ataque em Khan Sheikoun em abril do ano passado.

— De repente, minha família e vizinhos caíram todos no chão — lembrou Youssef. — Eles tremiam, e saía espuma de suas bocas. Foi quando percebi que era um ataque com armas químicas.

Ele ficou inconsciente e acordou depois no hospital, perguntando pela mulher e pelos bebês.

— Alguns minutos depois, eles os trouxeram para mim, mortos. Eu tinha perdido as pessoas mais preciosas da minha vida.

Assad nega

A Síria ratificou o pacto contra os armamentos químicos depois de um grande ataque aos subúrbios de Damasco controlados pelos rebeldes. Também usou sarin, o que deixou centenas de mortos. As imagens das vítimas em convulsão chocaram o mundo, e países do Ocidente afirmaram que só o governo Assad poderia ter feito tal ataque. O presidente sírio, porém, culpou a oposição ao regime.

Os Estados Unidos ameaçaram a Síria com ações militares, mas recuaram quando a Rússia, aliada de Assad, o convenceu a assinar o tratado. Entretanto, mesmo depois que a ONU e a Organização para Proibição de Armas Químicas (OPCW) destruíram as 1.300 toneladas de armamentos declarados pelo governo sírio, o uso do recurso continuou.

Assad, porém, continua a negar que utiliza armas químicas.

— Não temos mais um arsenal químico desde que abrimos mão dele em 2013 — afirmou neste ano. — A OPCW investigou esse assunto, e ficou claro que não o temos mais.

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O levantamento da BBC examinou 164 relatos sobre ataques químicos desde aquele ano, tendo concluído que os 106 de fato ocorreram.

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