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Polarização, medo e imigração: as eleições legislativas nos EUA

Polarização, medo e imigração: as eleições legislativas nos EUA

O Gazeta Online acompanha, da Califórnia, estas que são consideradas as eleições legislativas mais importantes dos últimos anos

Publicado em 3 de novembro de 2018 às 23:18

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Cabine de votação usada em Los Angeles, nos Estados Unidos. A data oficial das eleições legislativas no país é 6 de novembro. (Vinícius Valfré)

De Los Angeles, Califórnia.

Há alguns clichês frequentes sobre as eleições legislativas dos Estados Unidos marcadas para a próxima terça-feira (06): "São as mais importantes da História do país" e "podem mudar o mundo". E é exatamente isso que está em jogo neste momento, de acordo com jornais, especialistas e políticos americanos consultados pelo Gazeta Online nos últimos dias.

São as chamadas "eleições de meio de mandato", pois acontecem dois anos após Donald Trump ser eleito presidente, em 2016. Todas as 435 cadeiras na Câmara dos Representantes e 35 das 100 que existem no Senado estão em disputa, além de 36 governos estaduais – Assembleias e Senados estaduais também terão pleitos.

O resultado da eleição no Congresso é considerado fundamental para a continuidade da maneira como o outsider lidera o país. Hoje, ele tem maioria na Câmara e no Senado – recentemente, também conseguiu formar uma maioria conservadora na Suprema Corte de Justiça.

Caso perca o controle das duas casas legislativas, poderá se ver obrigado a mudar as características de seu governo na segunda metade dele. Consequentemente, mudar a maneira como se relaciona com o mundo. Além disso, poderá ter problemas na busca pela reeleição em 2020.

Estas eleições servem de termômetro para a retórica e para o jeito de o republicano governar. "A segunda eleição presidencial vai ocorrer no dia 6 de novembro", reconheceu Steve Bannon, um polêmico e importante estrategista de Trump, em recente entrevista à CNN.

Do outro lado, o dos democratas, caso amarguem mais uma derrota, poderão se ver em uma crise ainda mais profunda. Desde 2010, quando perdeu o controle da Câmara, o partido de Barack Obama vem sofrendo reveses. Em 2014, perdeu também o Senado.

"Com relação ao que está direcionando os votos, as pesquisas mostram que Donald Trump é o elefante na sala. As pessoas estão votando contra ou a favor dele", disse Bob Shrum, na última quinta-feira, em conversa com jornalistas estrangeiros.

Shrum é diretor do Instituto de Política Jesse M. Unruh, da Universidade da Califórnia do Sul (USC). É um importante consultor político dos democratas americanos. Inclusive, atuou como estrategista da campanha de Al Gore, em 2000, que acabou derrotado por George W. Bush.

CALIFÓRNIA

Com cerca de 40 milhões de habitantes – sendo boa parte deles de origem latina –, a Califórnia é considerado um estado-chave nestas eleições de meio de mandato. Tradicionalmente "azul", por conta do relativo domínio dos democratas, o Estado da costa Oeste tem, segundo pesquisas, sete potenciais candidatos a deputado aptos cotados como favoritos na disputa por 23 das cadeiras que os democratas precisam tomar na Casa em busca da maioria.

Por conta da população, a Califórnia tem direito a 53 deputados federais.

Geralmente, há um enfraquecimento da Casa Branca após as "midterms". "Os presidentes sempre perdem poder no Congresso nos dois primeiros anos. É a História. Pode ser Regan, Roosevelt... Não importa quem seja, sempre acontece porque os americanos são meio que ‘vamos tentar com esse cara e vamos odiá-lo dois anos depois'", explicou Shawn Steel, uma espécie de representante da Califórnia no diretório nacional republicano.

Steel levantou-se contra Trump quando o empresário decidiu disputar a presidência, em 2015. Hoje, diz, literalmente, amar aquele que duramente criticou. Assim como o líder máximo do país, também acusa a imprensa de ser de esquerda ou de extrema-esquerda para desmerecer as críticas diariamente publicadas nos jornais.

CAMPANHA

Trump não parece estar disposto a aceitar a tradição. Ou pelo menos se esforça para reduzir os efeitos de uma possível derrota. É por isso que o magnata está de cabeça dentro destas eleições, que deixaram de ser focadas em temas locais, relacionados ao desenvolvimento dos Estados, e se voltaram para questões mais nacionais.

Material de campanha em diretório do Partido Democrata. (Vinícius Valfré)

A estratégia do magnata não tem sido nada sutil. Ele tem focado no tema da imigração e explorado o medo dos eleitores com o que está por vir. "Se você não quer que a América seja invadida por massas de estrangeiros ilegais e caravanas gigantes, é melhor votar em republicanos", disse o presidente, na última quinta-feira (01), em Columbia, no Estado do Missouri.

Um dia antes ele havia compartilhado no Twitter uma propaganda eleitoral considerada uma das mais controversas desta campanha. A peça usa o vídeo de um imigrante ilegal que cometeu assassinatos sendo julgado e dizendo que seria capaz de matar mais. Em seguida, termina com imagens da caravana de povos latinos que marcha em direção aos Estados Unidos.

O presidente também usa uma estratégia familiar aos brasileiros. Chegou a dizer que os democratas usam o "socialismo" para "transformar a América em uma Venezuela". Explorando o medo do terrorismo, também declarou que "há pessoas do oriente-médio" na caravana que segue para os EUA. "Os democratas querem convidar caravanas e mais caravanas. Os republicanas não querem drogas, não querem gangues", discursou.

"Todos eles dizem: 'Fale sobre a economia, fale sobre a economia… Bom, nós temos a melhor economia na história do nosso país. Mas às vezes não é atrativo falar sobre economia", disse o presidente, na última sexta-feira (02), em Huntington, West Virginia.

Outra característica marcante desta eleição é o nível de engajamento do ex-presidente Barack Obama. A intensidade dos comícios soa como se ele e Trump estivessem disputando a liderança do país. A rede CNN, inclusive, tem intercalado e comparado os discursos de ambos nos eventos país afora.

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* O repórter viajou a convite do governo dos Estados Unidos. 

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