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Falas de Bolsonaro constrangem agenda de chanceler do Chile no Brasil

Falas de Bolsonaro constrangem agenda de chanceler do Chile no Brasil

As falas sobre Bachelet de defender "direitos humanos de vagabundos" e ataque ao pai da ex-mandatária, morto pela ditadura de Pinochet- geraram forte repercussão

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 22:18

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Falas de Bolsonaro sobre Bachelet constrangem agenda de chanceler do Chile no Brasil. (Antonio Cruz/ Agência Brasil | Arquivo)

Os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PSL) à ex-presidente do Chile Michelle Bachelet criaram um constrangimento para o chanceler do país sul-americano, Teodoro Ribera, que realiza nesta quinta-feira (5) uma agenda oficial em Brasília.

O ministro das Relações Exteriores do Chile encontrará o chanceler Ernesto Araújo, no Palácio do Itamaraty.

No dia seguinte, o chileno se reúne com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

As falas de Bolsonaro -que acusou Bachelet de defender "direitos humanos de vagabundos" e atacou o pai da ex-mandatária, morto pela ditadura de Augusto Pinochet- geraram forte repercussão negativa no meio político e na imprensa do Chile.

O presidente do Senado chileno, Jaime Quintana, exigiu publicamente uma "resposta contundente" do presidente Sebastián Piñera e da sua chancelaria.

Diante das cobranças, o presidente chileno declarou que não compactua com as falas de Bolsonaro.

Interlocutores que acompanham o tema afirmaram que Ribera estava em voo com destino ao Brasil enquanto ocorriam as manifestações de repúdio, no Chile, às declarações de Bolsonaro.

O desconforto gerado foi tamanho que, ao chegar ao Brasil, ele divulgou um vídeo com um desagravo a Bachelet. Nele, o chanceler chileno diz que a ex-presidente do seu país "teve um papel determinante" na construção do Chile atual.

"Na construção do Chile atual, Michelle Bachelet, como os demais ex-presidentes da República, teve um papel determinante. E a República do Chile reconhece e valoriza sua contribuição para o país", disse Ribera.

Apesar disso, o diplomata chileno afirma no vídeo que as declarações de Bachelet enquanto alta comissária da ONU são um "assunto próprio" da organização internacional.

"O Chile e o Brasil têm interesses comuns e uma relação história que transcende conjunturas e governos", afirmou.

Um interlocutor disse à Folha de S.Paulo, sob condição de anonimato, que é preciso colocar "panos frios" no tema, principalmente diante da repercussão que o caso ganhou no Chile.

Diplomatas ouvidos pela Folha afirmaram que os ataques de Bolsonaro criaram um ambiente ruim para a realização da agenda oficial.

Bolsonaro reagiu nesta quarta a uma entrevista de Bachelet, alta comissária da ONU para os direitos humanos, que disse que o Brasil sofre uma "redução do espaço democrático", especialmente com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.

"Michelle Bachelet, seguindo a linha do [presidente francês Emmanuel] Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares", escreveu o presidente em uma rede social.

"Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece de que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à epoca", prosseguiu Bolsonaro.

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Alberto Bachelet, pai de Michelle, era general de brigada da Força Aérea e se opôs ao golpe militar dado por Pinochet em setembro de 1973. Ele foi preso e torturado pelo regime e morreu sob custódia, em fevereiro de 1974.

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