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Cheia da Lagoa Juparanã chega a Linhares e deixa desalojados

Cheia da Lagoa Juparanã chega a Linhares e deixa desalojados

De acordo com os moradores atingidos, o motivo da cheia é a barragem construída no Rio Pequeno, em Linhares, para evitar que os rejeitos de minério atingissem o Rio Doce

Publicado em 16 de março de 2018 às 19:01

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A água chegou até a entrada de casa em Linhares. (Reprodução | TV Gazeta Norte)

O nível da Lagoa Juparanã não para de subir e a cheia, que afetou inicialmente os moradores da comunidade de Patrimônio da Lagoa, em Sooretama, Norte do Espírito Santo, onde duas famílias estão desalojadas, já atinge Linhares. No município, também são duas famílias desalojadas e outras três monitoradas pela Defesa Civil. De acordo com moradores, o motivo da inundação é a barragem da Samarco construída no Rio Pequeno, em Linhares, para evitar que os rejeitos de minério da barragem que se rompeu em Minas Gerais atingissem o Rio Doce. A obra acaba impedindo o escoamento da água da lagoa.

"Nós tivemos a informação na última terça-feira que o Rio São José estava subindo a média de 2 centímetros por dia. Talvez tenha até aumentado um pouco agora devido às chuvas da cabeceira e parece que o volume de água do Rio São José aumentou bastante a vazão. E, se aumentou, com certeza nós podemos estar um pouco a mais desses 2 centímetros por dia", informou o coordenador da Defesa Civil de Linhares, Antônio Carlos dos Santos.

A dona de casa Elizângela da Silva abandonou a casa onde mora, em Linhares, por causa da cheia da Lagoa Juparanã. (Reprodução | TV Gazeta Norte)

As famílias atingidas residem numa região próxima ao bairro Colina. No último sábado (10), a água invadiu a varanda da casa da faxineira Joelma Viana e, na manhã desta sexta (16), ela já se preparava para deixar o imóvel. "A gente já está se preparando para poder sair. Assim a gente não pode ficar", afirmou.

Já a dona de casa Elizângela da Silva abandonou a casa onde mora. "Já saí de dentro da minha casa para pagar aluguel sem condições nenhuma. Marido desempregado, só com a renda de uma pessoa deficiente, que é minha irmã. A gente já foi atrás dos órgãos públicos e até agora ninguém deu resposta nenhuma para nós", reclamou.

A Defesa Civil disse que as pessoas atingidas vão para o aluguel social, mas o município vai responsabilizar a Samarco pelo pagamento. "O município, em momento algum, vai se eximir de suas responsabilidades, que é retirar essas famílias, aluguel social ou levar para casa de parentes, disponibilizar veículos para estar levando, mas a responsabilidade de arcar com esses custos é toda da Renova", disse Antônio Carlos.

PECUÁRIA

A água invadiu fazendas do município e o gado precisou ser retirado. (Reprodução | TV Gazeta Norte)

Parecida com a enchente que afetou o Espírito Santo em 2013. É dessa forma que trabalhadores rurais de Linhares veem a cheia da Lagoa Juparanã. A água invadiu fazendas do município e o gado precisou ser retirado. A inundação também trouxe prejuízos para produtores.

O gerente agropecuário João Paulo Mariz tinha acabado de fazer investimentos na área. "Plantio de capim, toda a parte de maquinário, correção de solo, e eu perdi tudo". Ele tem 280 animais e precisou arrumar áreas emprestadas para abrigar o gado.

O pecuarista Joaquim Calmon Neto também precisou retirar os 300 animais da fazenda às pressas. Tudo ficou coberto pela água. "Em cima, a gente tem uma pastagem boa. Eu remanejei o gado para lá, mas até quando essa pastagem vai aguentar? E quando eu precisar trazer o gado para cá? Como eu vou trazer com um alagamento desse?".

Para recuperar a área atingida, os produtores rurais terão que ter paciência. De acordo com o técnico em pecuária Domiciano Ferreira Assis, assim que a água baixar, ainda será preciso pelo menos um ano para o capim começar a crescer de novo. "Vai levar uma faixa de 18 meses. Sem contar o custo para formar um hectare de capim, que gira hoje na ordem de R$ 1,4 mil".

BARRAGEM IMPEDE ESCOAMENTO DA ÁGUA

De acordo com moradores atingidos pela cheia da Lagoa Juparanã, o motivo da inundação é a barragem da Samarco construída no Rio Pequeno, em Linhares, para evitar que os rejeitos de minério da barragem que se rompeu em Minas Gerais atingissem o Rio Doce. A obra acaba impedindo o escoamento da água da lagoa.

Em novembro do ano passado, a Justiça determinou a construção de comportas para controlar a saída de água em períodos de enchente. No entanto, numa audiência na quarta-feira (14), a Fundação Renova, responsável pelos prejuízos causados pela Samarco, apresentou outro projeto: a abertura de um canal no local da barragem. Para fazer o serviço, a Fundação pediu 25 dias de prazo.

"A principal preocupação é: temos que dar uma vazão. Todas as equipes presentes, não é uma decisão do juiz, é uma decisão técnica dos órgãos ambientais, decidiram que é preciso fazer uma obra que vai durar cerca de 25 dias para que tenha uma vazão aproximada do que sai do Rio Pequeno para o Rio Doce perto do que chega também na Lagoa Juparanã para que essa água possa começar a ser escoada e possa então descer o seu nível, diminuindo essa enchente", explicou o juiz Thiago Albani.

Mesmo com a conclusão do serviço, os moradores e produtores rurais atingidos precisarão esperar mais. Segundo o secretário de Meio Ambiente de Linhares, Lucas Scaramussa, "a perspectiva é que, após a abertura, leve ainda de 40 a 45 dias para ela tomar o leito normal, para o rio tomar o seu leito regular, o que é muito tempo e causa transtornos e prejuízos para o município de Linhares e de Sooretama".

A Fundação Renova chegou a instalar equipamentos para bombear a água represada. Scaramussa disse que não resolvem o problema. "O que foi instalado aqui foi um maquinário que transporta do Rio Pequeno, da Lagoa Juparanã para o Rio Doce 600 litros de água por segundo, porém a Lagoa Juparanã está recebendo 10 mil litros de água por segundo. Já chegou a receber 80 mil litros de água por segundo, ou seja, a gente teria que ter hoje 20 vezes essa estrutura para sair toda essa água que está recebendo a Juparanã", explicou.

FUNDAÇÃO RENOVA

A Fundação Renova esclareceu que as obras para escoamento da água excedente da Lagoa Juparanã já tiveram início. Desde a quinta-feira (15), está transportando todo material que será utilizado na obra para um local mais próximo ao barramento, já que a água cobriu a via de acesso, impedindo o trânsito de máquinas pesadas. 

Essas máquinas que serão utilizadas na obra, segundo a Renova, já estão à disposição para dar sequência aos trabalhos, "executando a ensecadeira, que é uma espécie de tapume estanque provisório, usado para manter em seco construção abaixo do nível da água, depois que esta é esgotada de seu interior. Adequação de acesso e área no seu entorno estão em andamento".

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Em relação ao atendimento às duas famílias que tiveram que deixar suas casas em Linhares, a Fundação Renova informou que também já havia se colocado à disposição para dar o suporte necessário, tão logo houvesse o trabalho inicial da Defesa Civil do município.

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