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Certidão de óbito aponta causa 'indeterminada' para morte de irmãos

Certidão de óbito aponta causa "indeterminada" para morte de irmãos

Gazeta Online teve acesso aos documentos referentes às duas crianças

Publicado em 10 de maio de 2018 às 13:17

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As declarações de óbito dos irmãos Kauã Salles Butkovsky, 6 anos, e Joaquim Alves Salles, 3, apontam a causa da morte das crianças como "indeterminada". Os documentos, obtidos com exclusividade pela TV Gazeta Norte e aos quais o Gazeta Online teve acesso, foram feitos após necrópsia dos médicos legistas do Departamento Médico Legal (DML) de Vitória.

As duas declarações afirmam, ainda, que é necessário aguardar outros exames para apontar causas mais específicas. Veja os dois documentos abaixo.

Declaração de óbito dos irmãos mortos em Linhares. (Gazeta Online)

Os dois irmãos morreram no dia 21 de abril no Centro de Linhares, Norte do Estado, por volta das 2 horas da madrugada de sábado. O fogo começou na casa da família, dentro do quarto das crianças. Dentro da casa também estava George Alves, que é pastor da Igreja Vida e Paz. Ele é pai de Joaquim e padrasto de Kauã. Ele permanece preso por, segundo a polícia, atrapalhar as investigações do incêndio.

PROCEDIMENTO PADRÃO 

O médico José Carlos Frasson, que trabalhou como legista no Departamento Médico Legal (DML) por sete anos, explicou para a reportagem do Gazeta Online que o procedimento é padrão em casos em que não é possível indicar a causa da morte imediatamente.

“Quando você não consegue detectar na necropsia a causa, como num tiro, que sabemos que afetou algum órgão, é colocado dessa forma. A declaração serve apenas para a liberação do corpo e para fazer a certidão de óbito no cartório, mas não tem valor jurídico, é apenas protocolar. Só o laudo que sai depois dos exames serve para o processo”, explicou o médico.

Frasson acredita que situações como essa são difíceis de serem analisadas e depende muito de como os corpos foram encontrados, mas acredita que nesse caso os corpos ficaram muito tempo expostos ao fogo.

“Você precisa de alguma quantidade mínima de sangue e urina para analisar se havia alguma substância no corpo, por exemplo, e analisa também a via aérea para saber se a morte foi pelo incêndio ou se a vítima já havia morrido antes por outra causa. Mas se não tem esses elementos, é difícil emitir um laudo mais condizente com a verdade naquele momento”, declara.

O médico explicou que, devido a isso, a investigação pode demorar mais, pois pode ser necessária a opinião de vários profissionais.

ANÁLISE DOS CORPOS

Na última semana, o delegado Danilo Bahiense, responsável pela Superintendência de Polícia Técnico-Científica, informou que médicos legistas fizeram uma análise nos corpos dos irmãos Kauã e Joaquim. O exame é para saber se as crianças foram agredidas ou dopadas antes do incêndio. Esses resultados, no entanto, ainda não foram divulgados.

Os corpos precisaram de autorização judicial para registro tardio de óbito antes de serem liberados para o sepultamento e, por isso, houve um tempo a mais de espera. De acordo com Danilo Bahiense, o motivo do pedido de autorização judicial aconteceu porque o prazo legal para liberação dos corpos no Departamento Médico Legal, que é subordinado à SPTC, foi ultrapassado.

"Quando a liberação dos corpos é superior a 15 dias, deve haver uma autorização do médico legista. Por isso, é preciso solicitar uma autorização judicial ou alvará de registro de óbito para conseguir essa liberação tardia", explicou.

O artigo 78, da lei Nº 6.015 de 1973, estabelece que "nenhum enterramento será feito sem certidão de oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado do médico, se houver no lugar, ou, em caso contrário, de duas pessoas qualificadas, que tiverem presenciado ou verificado a morte".

CRONOLOGIA DOS FATOS

Corpo de Bombeiro fazendo perícia na casa da família em Linhares. (Kaio Henrique | TV Gazeta)

21 DE ABRIL

Tragédia na madrugada

Os irmãos Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Alves Salles, 3, morreram durante um incêndio, no Centro de Linhares, Norte do Estado, por volta das 2 horas da madrugada de sábado. O fogo começou na casa da família, dentro do quarto onde as crianças dormiam, com o ar-condicionado e a babá eletrônica ligados. Dentro da casa também estava George Alves, que é pastor da Igreja Vida e Paz. Ele é pai de Joaquim e padrasto de Kauã.

O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas o quarto já estava tomado pelo fogo. Quando a equipe conseguiu conter as chamas, percebeu que os dois meninos já estavam sem vida.

George contou que, na tentativa de salvar as crianças, ele teve queimaduras nos pés e cílios. A mãe dos meninos, a também pastora Juliana Alves, viajava com o outro filho do casal para um congresso em Teófilo Otoni, em Minas Gerais.

Os corpos foram inicialmente levados para o Serviço Médico Legal de Linhares e depois transferidos para o Serviço Médico Legal de Colatina, devido a ausência de médico legista durante os finais de semana. Uma médica legista examinou os corpos, mas não conseguiu identificar as crianças. Pela manhã, horas após o incêndio, o Corpo de Bombeiros realizou a primeira perícia na casa.

No mesmo dia da morte dos meninos, o casal esteve na Igreja Batista Vida e Paz, de Linhares, e recebeu o carinho dos amigos. Com os pés enfaixados, o pastor disse para os membros da congregação: “Deus vai restaurar os nossos corações. Deus vai restaurar os nossos corações”.

George Alves com o filho Joaquim, 3 anos, e o enteado Kauã, de 6 anos. (Facebook | George Alves)

22 DE ABRIL

Testemunho de fé

No dia seguinte à tragédia, o pastor George escreveu uma mensagem de agradecimento. “Quero agradecer a todos a solidariedade e as orações. Quero dizer que só há um caminho, e esse caminho não acaba na cruz, mas na ressurreição. Gere expectativa. Logo mais nosso culto sobrenatural #EU DISSE SIM VOU ATE O FIM# *estarei ministrando, espero vcs”, publicou.

Após o culto, os membros da igreja usaram a internet para reforçar o testemunho de fé dos pastores diante da tragédia. “Maior demostração de fé que já vi em toda minha vida. Perderam 2 filhos ontem em um incêndio e há um ano perderam uma filha... hoje está pregando o evangelho”, escreveu o internauta.

23 DE ABRIL

Exames e testemunho

Na segunda-feira, George e Juliana saíram de Linhares e foram até o Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, local para onde os corpos das crianças foram levados e passaram por exames para identificação, através do DNA. Muito abalada, Juliana ficou o tempo todo ao lado do marido, mas preferiu não dar declarações à imprensa.

George Alves e Juliana Salles em frente ao DML de Vitória. (Marcelo Prest | GZ)

Na saída do DML, o pastor George relembrou os últimos minutos ao lado das crianças e o desespero na tentativa de socorrê-las.

O comerciante Rainy Butkovsky, 31, pai de Kauã, também esteve no DML para realizar a coleta de material biológico. Em entrevista, ele saiu em defesa do pastor George. “Peço àqueles que estão apontando o dedo para o pastor, que estava na hora e tentou salvar as crianças, que tenham respeito pela família, pelo momento que estamos vivendo”, disse.

24 DE ABRIL

Polícia volta à casa

Uma equipe de engenheiros da Polícia Civil realizou, por duas horas, uma segunda perícia na casa onde os irmãos morreram. O pastor George Alves foi ao local para acompanhar o trabalho. Uma equipe do Corpo de Bombeiros também esteve na casa. A polícia também recolheu câmeras de segurança da rua.

Equipes do Corpo de Bombeiros de da Polícia Civil voltam a periciar a casa em Linhares. (TV Gazeta)

Após a perícia, o pastor foi levado, em uma viatura descaracterizada, para a 16ª Delegacia Regional de Linhares. Lá ele foi ouvido e prestou depoimento durante quatro horas pelo titular da Delegacia de Divisões Penais e outros (Dipo), Romel Pio de Abreu Júnior, e pela delegada Suzana Garcia, da Delegacia da Mulher de Linhares.

25 DE ABRIL

Mãe e testemunhas são ouvidas

O pastor George Alves e a esposa Juliana Sales foram à delegacia de Linhares, durante a tarde, acompanhados de amigos. O casal chegou à delegacia às 14h30 e, após uma hora e meia, saíram do local em silêncio. Pela manhã, Juliana foi à delegacia para depor e só saiu cerca de quatro horas depois.

Duas testemunhas que tentaram ajudar o pastor George Alves durante o incêndio também prestaram depoimento à polícia.

Morando em hotéis com a ajuda de outros pastores, George e Juliana se afastaram dos ministérios que exercem na igreja.

26 DE ABRIL

Mulheres moravam na casa

Duas mulheres que moravam em um quarto da casa incendiada prestaram depoimento na 16ª Delegacia Regional de Linhares. Elas não estavam no imóvel no momento do incêndio, mas, como são amigas da mãe das crianças, e moravam na residência, estão sendo ouvidas como testemunhas. O depoimento de outras cinco pessoas foi adiado.

O portão da casa onde os irmãos morreram carbonizados recebeu flores em homenagens a Kauã e Joaquim.

27 DE ABRIL

Terceira perícia e revelações

Uma terceira perícia foi realizada na casa. Os peritos utilizaram a substância luminol, um produto usado para detectar vestígios de sangue. Os trabalhos foram encerrados às 20h30 de sexta.

Imagens mostram terceira perícia em casa incendiada. (Samira Ferreira)

Nesse dia, duas informações vieram à tona. Uma é que a polícia tem certeza que o pastor estava em casa quando o fogo começou. A hipótese de as crianças estarem sozinhas foi descartada. A segunda é que o exame de lesão corporal feito em George Alves apontou uma pequena bolha de queimadura no pé, do tamanho de uma moeda.

28 DE ABRIL

A prisão

O pastor George Alves foi preso na manhã de ontem, após a Justiça expedir um mandado de prisão temporária por 30 dias. Há indícios de que o pastor estava atrapalhando as investigações do incêndio que matou as crianças, na casa em que moravam, e modificou a cena dentro do imóvel.

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