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'Ele nunca foi pastor e nunca foi pai', diz avó de Kauã

"Ele nunca foi pastor e nunca foi pai", diz avó de Kauã

Um protesto para pedir Justiça foi realizado neste domingo (08) em Linhares. O grupo de manifestantes se reuniu na frente da casa onde os irmãos Kauã e Joaquim morreram

Publicado em 9 de julho de 2018 às 00:27

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Marlúcia Butkovsky, avó paterna do Kauã. (Loreta Fagionato)

"Ele nunca foi pastor e nunca foi pai porque ele não é um ser humano". Essa é a afirmação da avó de Kauã Salles, Marlúcia Butkovsky, que lembra com tristeza sobre o que o neto passou com o pastor George. Na tarde deste domingo (08), amigos e familiares dos irmãos Kauã e Joaquim Alves, que foram mortos no dia 21 de abril, em Linhares, realizaram um protesto pedindo Justiça.

O grupo de manifestantes se reuniu em frente a casa onde Kauã, de 6 anos, e Joaquim, 3, morreram após um incêndio. O protesto começou por volta das 15h30, assim que a van com a família paterna de Kauã chegou à casa onde aconteceu o incêndio. Com cartazes que pediam Justiça “para os anjos de Linhares” e prisão perpétua, os manifestantes ficaram por cerca de meia hora em frente ao local do crime.

“É muito triste saber que aqui foram feitas as coisas mais tristes com duas crianças. Principalmente por saber que aquele monstro se passava por um pastor.”, afirmou Marlúcia, chorando muito.

Depois, os manifestantes andaram pelas ruas do Centro gritando por Justiça e chegaram a atravessar pelo outro lado da cidade. Mais tarde, as pessoas retornaram para a frente da casa, fizeram uma roda e rezaram um pai-nosso. Todos bateram palmas e pediram, mais uma vez, por Justiça. O ato acabou às 19 horas. 

No ato, as pessoas pediam leis mais duras e também a transferência para o Espírito Santo da mãe dos meninos, a pastora Juliana Salles, que está presa em Minas Gerais.

A família paterna do menino mora em Vitória e alugou uma van com outras pessoas que moram na cidade para marcar presença no ato.

A mãe da menina Thayná Andresa, Clemilda Aparecida de Jesus, que teve a filha estuprada e morta em outubro do ano passado, também esteve em Linhares.

PROTEÇÃO

De acordo com a organizadora da manifestação, a funcionária pública Carla Pereira, o objetivo do ato é pedir mais proteção para crianças e adolescentes.

“Eu espero que não aconteça mais essa brutalidade como aconteceu com essas duas crianças aqui na cidade. Eu, como mãe e avó, tenho que pensar não apenas nos meus, mas em todas as crianças. Elas precisam de apoio, de segurança”, disse.

"É DIFÍCIL ESTAR AQUI"

Com a voz baixa e emocionado por estar em frente à casa onde seu filho Kauã morreu, o empresário Rainy Butkovsky contou que acreditou que tudo havia sido um acidente, mas assim que o o pastor George Alves foi preso, ele passou a desconfiar tanto do padrasto do filho quanto da pastora Juliana Alves, com quem foi casado e teve Kauã.

Rainy Butkovsky, pai do Kauã. (Loreta Fagionato)

Como é estar de volta ao lugar onde aconteceu o crime?

É difícil estar aqui. Mas é gratificante ver as pessoas que vieram para a manifestação, a nossa causa é por todas as crianças. O nome é Justiça para Kauã e Joaquim, mas é por todas as crianças, contra a pedofilia, estamos aqui para dar um grito de Justiça e pedir prisão perpétua para esses criminosos que cometem crimes contra crianças.

O que você espera que aconteça daqui pra frente?

Nossa causa que estamos lutando é pela prisão perpétua, espero que a Justiça possa dar notoriedade nacional a esse caso e a sociedade lute com a gente. Não podemos deixar o tempo passar e deixar as coisas da maneira que estão. Estamos também aqui para pedir a transferência da Juliana, acho que tem que trazer ela o mais rápido possível para cá.

Depois de saber tudo o que aconteceu no dia do crime, você consegue imaginar a Juliana tendo essa participação?

Hoje em dia eu tenho certeza da participação dela. Pelo relato dos fatos pela Promotoria, ela tinha a intenção juntamente a ele de estar se promovendo na igreja e aumentando a arrecadação de fiéis. E dá continuidade a isso os relatos de abusos que já tinham sido feitos.

Baseado no que você teve de convivência com ela, dá para imaginar uma situação como essa?

Não, não dá para imaginar, tanto que no início eu acreditava realmente que tinha sido uma tragédia, que seria um acidente. Mas depois que a Justiça prendeu ele eu já comecei a ter a certeza que foi ele e comecei a ter um pensamento direcionado à Juliana. Porque ter uma convivência de seis anos com a pessoa no dia a dia e não ter algum rastro que a pessoa tenha deixado é bem difícil. Eu já tinha pra mim que ela tinha envolvimento, até fiquei ‘meio assim’ quando falaram que a Juliana não tinha envolvimento. Mas eu tinha essa certeza que a Juliana estava juntamente com ele, que o intuito relatado era matar as crianças.

Quando o Kauã ia para sua casa, ele nunca chegou a falar nada sobre os abusos?

O Kauã nunca mencionou nada. Meu filho nunca apresentou uma queixa, um sinal.

O CRIME

Segundo o inquérito policial, Georgeval Alves Gonçalves, mais conhecido como pastor George, teria estuprado, agredido e queimado vivo o enteado Kauã e o filho Joaquim. Ele foi preso uma semana após o crime, em 28 de abril, e está no Centro de Detenção Provisória de Viana.

Já Juliana foi denunciada pelo Ministério Público Estadual, que acredita que a mãe dos meninos teve uma “conduta omissa” em relação aos filhos. Juliana está detida no presídio feminino de Teófilo Otoni desde o dia 20 de junho. O casal é acusado de duplo estupro de vulneráveis, duplo homicídio e fralde processual. Além disso, o pastor vai responder pelo crime de tortura.

Os advogados de defesa de George e Juliana foram procurados pela reportagem, mas não atenderam às ligações e nem responderam as mensagens.

LUTA PELAS CRIANÇAS

Dona Clemilda, mãe da Thayná. (Loreta Fagionato)

Lutar pelos filhos de outros pais. Esse é o objetivo de Clemilda Aparecida de Jesus, mãe da

. Clemilda esteve na tarde deste domingo (08) em Linhares para participar de uma manifestação que pediu Justiça no caso dos irmãos Kauã e Joaquim que, segundo a polícia e o Ministério Público, foram violentados, agredidos e mortos pelo pastor George Alves, com a anuência da mãe deles, Juliana Salles.

Thayná foi estuprada e morta em outubro do ano passado. O acusado pelo crime, Ademir Lúcio Araújo Ferreira, só foi identificado e preso graças a Clemilda, que conseguiu imagens de câmeras de segurança que mostraram a filha entrando no carro do suspeito. Agora, a mãe da menina faz questão de participar de protestos que peçam leis mais duras contra criminosos sexuais.

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“Eu acredito que se as leis fossem mais duras, teria evitado o que aconteceu com a Thayná. Quando a pessoa comete um crime desse ela tem antecedentes, tem passado, não é a primeira vez. A pessoa não acorda de manhã e fala assim ‘Hoje eu vou virar monstro’. Não é assim. Em 2016, ele (Ademir) estava preso. Depois eu escuto uma pessoa da Justiça falar para mim que ele não estava apto para conviver em sociedade. Mas, mesmo assim, colocaram ele de volta à sociedade. Sabe porque eles comentem crimes cada vez piores? Por causa da certeza da impunidade”, afirmou Clemilda.

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