Tradição cristã, a Quaresma e a Semana Santa costumam ser períodos nos quais pessoas deixam de comer carne vermelha, em alusão ao jejum praticado durante 40 dias por Jesus Cristo, enquanto percorria o deserto. Para os pescadores de Colatina, no Noroeste do Estado, as palavras jejum e deserto, infelizmente, ganharam novas simbologias após o rompimento da barragem em Mariana (MG).
Há quatro anos, aqueles que dependiam do pescado do Rio Doce para sobreviver vivenciavam uma das datas mais prósperas. Nessa época, que também é a safra da sardinha, era a que a gente mais ganhava. Chegava a tirar de R$ 200 a R$ 250 por dia, de lucro. Conseguíamos pegar 80 kg de peixe em uma única jogada de rede. Hoje, não pegamos nem três quilos, lembra o pescador Domingos Ponche.
Assim, a Vila de Pescadores do bairro Maria Ortiz, localizada a 20 km do centro de Colatina, ficava lotada de gente. Aqui ficava muito movimentado. Todo mundo vinha atrás dos nossos peixes. Hoje acabou. Parece que morreu tudo, lamentou o também pescador João Arlindo, em meio ao espaço vazio, onde costumavam ser comercializadas 30 toneladas de peixe durante a Semana Santa.
A escassez de peixe e de compradores gera angústia e revolta. Antigamente, tinha muita quantidade e variedade de pescado. Agora, você não acha peixe; e, se acha, ninguém quer comprar. Ninguém quer saber de consumir peixe do Rio Doce por causa da lama de rejeitos de minério da Samarco, despejada no rio em 2015, após rompimento de barragem. O povo acha que está tudo contaminado, desabafa Elízio Cuzzuol, outro pescador da Vila.
Depois de novembro de 2015, a preferência por carne branca em vez da vermelha nesta época do ano, então, pouco muda a rotina de quem viu o meio de sustento ser tomado por rejeitos de minério. Pescador, Nildo Souza Santos, resumiu a situação atual em uma frase: Hoje não tem peixe, não tem gente, não tem nada.
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