Alface, cebolinha, abóbora, cenoura A plantação começou pequena e servia apenas de terapia para presidiários de idade avançada. Agora, quatro anos depois, a horta cultivada por detentos da Penitenciária de Segurança Média de Colatina alimenta pessoas de três instituições filantrópicas da cidade, localizada na Região Noroeste do Espírito Santo.
A boa qualidade da terra, que fica entre as estruturas e celas da unidade, foi descoberta pelos próprios detentos em 2015. Naquela época, toda a produção era doada para os familiares dos presidiários, que saiam com sacolas cheias de alimentos fresquinhos, após as visitas feitas durante os finais de semana.
Graças à ajuda de produtores capixabas que doam adubo, mudas e sementes além, é claro, do trabalho dos detentos a horta cresceu e produz um ótimo exemplo de solidariedade. É bom para os presos que aprendem valores importantes; para nós enquanto entidade ressocializadora; e para quem recebe os alimentos, resumiu o diretor da unidade, Mário Giuizatto.
EDÍLSON, HIGOR, THIAGO E RUBENS
Atualmente, são as mãos destes quatro homens que mexem na terra e fazem crescer as hortaliças, verduras e legumes da Penitenciária de Segurança Média de Colatina. Em comum, eles tem o sentimento de gratidão por poderem estar na horta e, por consequência, a esperança de voltarem logo para casa, já que o trabalho traz redução à pena.
Eu conto os dias até a data que poderei voltar para perto da minha família. Faltam 18 meses. Trabalhando, esse tempo passa mais rápido, revelou Rubens Chiabai, que aprendeu a trabalhar na cadeia. Isso mudou a minha vida, abriu a minha mente. De manhã estou na horta e à tarde trabalho na nossa lavanderia, contou.
Além do fato de que três dias trabalhados representam um a menos na cadeia, estar ao ar livre também contribui para bons sentimentos. Aqui eu me sinto em liberdade, cumprindo regras e trabalhando. Sou muito agradecido por ter esse espaço, pois sinto que sou útil. É muito melhor do que ficar trancado na cela, resumiu Thiago Stange.
Antes desta oportunidade na horta da penitenciária, Higor Bragatto nunca havia trabalhado. Sempre fiz coisa errada e fui preso com 18 anos. Hoje, estou com 23. Nunca imaginei que pudesse ter uma perspectiva de vida melhor ao vir para a cadeia. É uma nova chance para fazer tudo diferente. Quando sair, topo qualquer trabalho honesto, disse.
PROJETO EM EXPANSÃO
Apesar de já estar em ação, Edílson de Souza representa, como nenhum outro presidiário, a próxima etapa do projeto: a produção de tomate. Já trabalhei 20 anos com isso. Agora vou ensinar aos outros colegas como produzir. A terra aqui é excelente. Com certeza vamos ter uma ótima colheita, garantiu.
Diretor da penitenciária, Mário Giuizatto explicou como acontecerá o crescimento. O tomate que for produzido aqui será vendido pelo CEASA de Colatina e o valor arrecadado irá para uma conta bancária criada pelo Estado. Uma parte desse dinheiro vai para a família dos detentos, e outra poderá ser usada por eles próprios quando estiverem livres.
A SOCIEDADE AGRADECE
Já que a alimentação dos 540 detentos da penitenciária é feita por meio de uma empresa terceirizada, quem ganha com a expansão da horta é a própria sociedade que, assim como a família dos presos, passou a receber os alimentos frescos e sem agrotóxicos, produzidos artesanalmente, na contramão do mundo.
A doação começou em março deste ano e tem como destino três endereços: a Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Germano Naumann Filho, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Colatina e o Asilo Vovô Simeão. Ou seja, pessoas de todas as idades acabam beneficiadas.
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