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O que pescadores do ES fizeram para sobreviver após dias perdidos no mar

O que pescadores do ES fizeram para sobreviver após dias perdidos no mar

Célio Oliveira dos Santos narra os momentos de desespero que passou ao lado dos amigos Alexsandro Silva e Gelson Éfeso da Silva. Saíram para pescar no Espírito Santo e foram resgatados na Bahia

Publicado em 9 de julho de 2019 às 16:56

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Foram 10 dias de muito desespero em alto-mar. Quando chegou a segunda-feira (08), o pescador Célio Oliveira dos Santos pensou que não iria sobreviver. “Achei que era o nosso último dia”, contou o morador de Conceição da Barra, Norte do Espírito Santo.

Ele saiu para pescar com mais dois amigos, com previsão de ficar apenas três dias, mas o barco apresentou um problema no motor e eles ficaram à deriva por 12 dias, até serem resgatados no Estado da Bahia.

Momento em que pescadores são avistados na Bahia. (Internauta)

Em entrevista para o Gazeta Online, Célio narra os momentos de angústia que passou ao lado de Alexsandro Silva e Gelson Éfeso da Silva. Os peixes pescados estragaram, a água acabou e, para não morrer de sede, chegaram a beber a água do motor da embarcação.

O pescador também lembra quando foram resgatados, em Costa Dourada, na Bahia. “São anjos que Deus mandou para a gente”, diz, emocionado.

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É tudo ou nada. Hoje é nosso último dia. Se não vier socorro, a gente pula na água. Ou a gente pulava e tentava nadar até a praia ou morria. Como avistamos as pessoas sinalizando na praia, tivemos nova esperança

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A ENTREVISTA

Célio Oliveira dos Santos, um dos pescadores sobreviventes. (TV Gazeta Norte)

Célio, como vocês estão depois de tudo o que passaram?

Mais ou menos. Estou com uma infecção no sangue porque tivemos que beber a água do motor do barco. A a água que a gente levou tinha acabado. O médico receitou um remédio, mas estou preocupado porque não tenho dinheiro para comprar.

Foi o motor do barco que deu problema, por isso que vocês ficaram à deriva?

Já no primeiro dia o motor deu problema. Ficamos três dias ancorados, pescando, tinha muito peixe. Como não pudemos pescar mais porque não tinha mais gelo, ficamos à deriva na expectativa de chegar em terra. Mas a gente estava a 19 milhas, é muito longe, e ventava muito. O mar fez a gente de peteca, levando a gente para Guriri, Conceição da Barra e Itaúnas, nunca para a terra. Nossa esperança era chegar na praia, porque aí dava para pular na água. Mas não aconteceu.

Depois o mar levou vocês até a Bahia?

Isso, no dia 8 de julho a gente foi resgatado pela população de Costa Dourada. A gente via as pessoas na praia, mas estava muito longe, parecia um monte de formiguinha. Mas depois veio uma multidão que começou a abanar umas toalhas vermelhas, sinalizando que tinham visto a gente. Foi em um momento que eu já tinha colocado o colete salva-vidas para pular na água, era nossa última esperança, mas aí sinalizaram para a gente não sair do barco.

Momento em que pescadores foram resgatados na Bahia. (TV Gazeta Norte)

Como estava a situação de vocês naquele momento?

A maré estava correndo muito, tinha acabado tudo, os peixes estragaram. Quando ia pular, vimos as pessoas, são anjos que Deus mandou para a gente. Foi aquela correria, comecei a apitar, balancei uma bandeira também.

Por que tinham decidido pular no mar?

Foi muito desespero. Quando não tinha mais o que comer, falei para a gente esperar até de tarde, se ninguém nos salvasse tinha que pular. Mas pouco depois já pegaram uma lancha e nos ajudaram. Eu falei: ‘É tudo ou nada, hoje é nosso último dia, se não vier socorro a gente pula na água’. O peixe estragou, não tinha mais nada, a água para beber já tinha acabado, a gente tinha bebido água do motor para não morrer de sede. Ou a gente pulava e tentava nadar até a praia ou morria. Como avistamos as pessoas sinalizando na praia, pudemos segurar mais um pouco. Quando chegamos em terra, o rapaz de uma pousada já nos esperava com o almoço pronto.

O que você pensava nesses dias em alto-mar?

Eu estava nervoso, preocupado com a minha família, minha mãe, meus três filhos. A gente sai para o mar assim porque é nossa sobrevivência, deixei os armários em casa vazios, sem comida, não tinha mais gás. Pesco para sustentar minha família, fiquei desesperado pensando em como eles iam viver sem mim.

A previsão era ficar três dias no mar pescando, a gente levou o rancho de três dias e no terceiro dia acabou tudo. Até o óleo de cozinha acabou, então nos outros sete dias a gente estava cozinhando peixe com óleo da pimenta. Comi tanto peixe que não quero ver peixe tão cedo no meu prato.

Como é a sensação de ser resgatado e estar vivo após estes dias de incerteza?

A sensação é de agradecer a Deus e às pessoas que nos resgataram. Depois que fomos salvos, o barco acabou partindo e afundou. E se a gente estivesse lá ainda? Fomos salvos na hora certa.

Pescadores sobreviventes com suas famílias em Conceição da Barra. (TV Gazeta Norte)

Quando chegaram em terra, foram levados a um hospital da Bahia?

Não, uma ambulância buscou a gente e no caminho já fomos medicados. Levaram a gente para um hospital aqui em Conceição da Barra mesmo.

E como vai fazer para melhorar da infecção, se você não pode comprar o remédio que o médico passou?

Falei para o médico que não tenho dinheiro, mas ele disse que não tem o remédio no posto. Custa R$ 70. Não é muito dinheiro, mas a gente aqui é muito humilde, não tenho esse dinheiro.

 

SOLIDARIEDADE

Para ajudar o Célio, a conta bancária está em nome da esposa dele:

Nome: Cintia Ponciano Oliveira

CPF: 077.914.246-22

Conta Poupança: 00027809-1

Agência: 1113

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