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As linhas do medo: assalto virou rotina em ônibus de Cariacica

As linhas do medo: assalto virou rotina em ônibus de Cariacica

Três bandidos agem, quase todos os dias, nas mesmas linhas e já são reconhecidos até pelos passageiros

Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 01:02

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Motoristas reclamam de insegurança em frente a ônibus que faz uma das linhas mais perigosas: a 768, que faz o percurso do bairro Prolar ao Terminal de Itacibá. (Carlos Alberto da Silva)

Eles agem sempre da mesma forma. Vão ao terminal de Itacibá, em Cariacica, entre 20 e 22 horas. Escolhem entre quatro linhas do sistema Transcol (701, 702, 768 ou 795). Seguem viagem e anunciam o assalto, armados, ao passarem pelo km 7,5 da Rodovia José Sette.

O crime virou rotina ao ponto de passageiros e rodoviários já reconhecerem os bandidos. No meio disso, eles se perguntam: “Por que esses criminosos ainda não foram presos?”.

Para João Luiz Alves, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Espírito Santo (Sindirodoviários), os assaltantes ainda estão soltos porque a polícia não quis ir atrás.

Ele conta que na última sexta-feira (23) um motorista ligou para a Polícia Militar dizendo que o ônibus da linha 701 (Antônio Ferreira Borges) seria assaltado, pois viu os criminosos entrando no ônibus.

Mesmo passando o trajeto para a PM, ele afirma que nenhuma viatura apareceu. Minutos depois houve um arrastão no veículo.

“Os assaltos são praticamente diários. São sempre os mesmos bandidos, agindo da mesma forma, no mesmo horário e no mesmo lugar. A polícia não pega porque não quer. Os criminosos já são tão conhecidos que passageiros descem dos ônibus quando percebem que eles embarcaram no Terminal de Itacibá”, contou.

Além do 701, os ônibus preferidos pelos criminosos e temidos para quem embarca a noite são 702, que segue para Vila Merlo, 768, que tem Prolar como destino, e 795, que vai para Alice Coutinho.

REGIÃO ESCOLHIDA

João Alves completou que os três criminosos anunciam o assalto no quilômetro 7,5 da Rodovia José Sette, onde o ônibus desce uma ladeira, em Tabajara. A região escolhida é comercial e pouco movimentada à noite.

Quem precisa entrar nesses ônibus todos os dias, sente medo. (Carlos Alberto da Silva)

Armados, os bandidos são agressivos, fazem ameaças e xingam as vítimas enquanto roubam tudo de valor que encontram. No fim da ladeira, ainda na rodovia, eles descem do ônibus e fogem.

“Nós queremos a polícia nos dê mais atenção antes que aconteça alguma tragédia. É preciso mais abordagens a essas linhas que são críticas. O trabalhador sai de casa e não sabe se volta. Sempre orientamos aos a não reagirem, pois esses criminosos andam armados e não possuem nada a perder”, disse o diretor.

MEDO JÁ FAZ PARTE DAS VIAGENS

No Terminal de Itacibá, onde os já conhecidos assaltantes de ônibus costumam embarcar, todos os passageiros e rodoviários que viajam nas linhas que passam pela rodovia José Sette (701, 702, 768 ou 795) possuem uma história para contar sobre assaltos.

A auxiliar de escritório Crislane Negrine, 29, viu o irmão ser assaltado na linha 701 pelos mesmos criminosos duas vezes em dois meses. Caso semelhante aconteceu com o irmão da gestora de recursos humanos Monara Mendonça, de 28 anos.

“Ele foi assaltado na linha 702 duas vezes em 15 dias. Provavelmente os mesmos bandidos, pois agiram da mesma forma e no mesmo local. No segundo assalto o meu irmão já não tinha o que entregar, pois não tinha mais celular e dinheiro”.

Quem precisa entrar nesses ônibus todos os dias, sente medo. “Sou motorista há sete anos e agora estou na linha 768. Os assaltos são tão frequentes, que eu já saio após às 20 horas sabendo que pode acontecer. Sentimos medo, mas temos que trabalhar”.

Ele completou que a linha 795 também é temida. “Quase diariamente tem assalto. A gente já até conhece o rosto dos bandidos”, disse.

PM DIZ QUE ABORDAGENS SÃO DIÁRIAS 

Procurada, a Polícia Militar informou por nota que realiza todos os dias abordagens nas mais diversas linhas de ônibus.

“Em todo o ano de 2017, um percentual de 0,0001% de ocorrências foram registradas no universo de 354.018 viagens por mês, o que soma a média de uma ocorrência registrada a cada 8.466 viagens. A PM ressalta que é de extrema importância que o boletim de ocorrência seja registrado em caso de crimes”, disse a nota.

Já a Polícia Civil, informou por nota que as ocorrências de assaltos a coletivos são investigadas.

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“No dia 20 foram divulgadas imagens de casos ocorridos no município. Quem tiver informações que colaborem com a polícia, deve denunciar pelo Disque-Denúncia 181, o sigilo é garantido”.

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