> >
Central Carapina: entenda o que acontece no bairro mais violento do ES

Central Carapina: entenda o que acontece no bairro mais violento do ES

São sete mil moradores em Central Carapina no meio dessa guerrilha

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 19:40

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Pedreiro morto a pauladas: crime entrou para estatísticas de homicídios. (Bernardo Coutinho )

Aos 10 anos, não são as histórias dos contos de fadas que marcam as lembranças de Ana (nome fictício). O barulho dos tiros e a imagem de corpos ensanguentados não saem da memória da menina, que assistiu às execuções de duas pessoas enquanto brincava na porta de casa, em Central Carapina, na Serra.

Ana viveu esse terror em março do ano passado, quando ela, os irmãos mais novos e a mãe ainda moravam no bairro que é, hoje, o mais violento do Espírito Santo, segundo dados de homicídios registrados na região em 2017.

Só nos sete primeiros meses de 2017, 20 pessoas foram assassinadas na região. O dado assusta ainda mais quando comparado com todo o ano de 2016, quando foram seis mortos. O número de Central Carapina é maior do que o registrado em todo o município de Viana, que até o final de setembro registrou 17 mortes.

Violência

Nos três primeiros meses de 2017, Central Carapina parecia uma terra sem lei, segundo a impressão de quem convive com a insegurança no local. O bangue-bangue entre traficantes resultou em 15 mortes. Em abril, a Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra iniciou uma ação na região, levando 36 pessoas para a cadeia.

“Entre as vítimas, há os que integravam as gangues, assim como há quem morreu devido às regras próprias do poder paralelo desses bandos”, explicou o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da DCCV da Serra.

Após as desarticulações das quadrilhas, Central Carapina ficou três meses sem registrar assassinatos. Mas, em setembro, três pessoas foram mortas. Em uma semana, os assassinos foram presos. E, no meio dessa guerrilha, ainda há uma população de quase sete mil moradores que tenta manter a rotina: ir para a escola, ter lazer, sair e voltar para o trabalho em paz.

PRISÕES

Se quem atira e mata são os que provocam o terror entre os moradores, foi levando esses indivíduos para trás das grades que a Polícia Civil conseguiu reduzir os indícios de homicídios de Central Carapina. Foram 36 pessoas colocadas na cadeia por participarem dos assassinatos. Os 20 homicídios do ano foram solucionados. 

Em diversas operações, a Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra retirou das ruas os principais “cabeças” das três gangues que disputavam o poder no bairro. Segundo o delegado Rodrigo Sandi Mori, a agilidade das investigações, da Justiça e do Ministério Público foi fundamental para as prisões.

Um grupo desarticulado foi a Gangue da Vala. Com quatro bocas de fumo, o chefe da quadrilha, Evandro Cardoso dos Santos, o Dará, 28 anos, liderava o esquema de dentro da cadeia. Segundo a polícia, ele chegou a dar aval para a execução de um dos “sócios” dele, Diego Monstro, que pretendia desfazer o negócio entre eles.

Outro “cabeça”, segundo a polícia, era Fábio de Aguiar, o Fabinho Cerol, 43, que após sair da cadeia, reuniu aliados para tentar voltar a atuar no tráfico de drogas. A terceira gangue, a Favelinha, é a que menos lucra com o tráfico, por ter pontos de vendas no final do bairro. Os dois últimos assassinatos da região foram praticados por integrantes do grupo.

DENÚNCIAS ANÔNIMAS

As primeiras operações da equipe da DCCV de Serra estimularam a coragem em muitos moradores em quebrar a lei do silêncio. “A medida que cumpríamos os mandados de prisão, denúncias anônimas começaram a surgir e testemunhas confiaram em prestar depoimento na delegacia”, pontuou o delegado Rodrigo Sandi Mori.

Os levantamentos detalhados dos investigadores resultaram não apenas nas prisões, mas também em apreensões de uma submetralhadora e outras armas de calibres diversos. As armas foram encaminhadas para exames de balísticas. Por exemplo, a pistola .45 apreendida com Henrique Silva de Souza, o Tchutchucão, que foi comprovadamente usada em três assassinatos.

Este vídeo pode te interessar

Responsável pelo policiamento preventivo para conter a criminalidade, incluindo, portanto, os homicídios, a Polícia Militar afirmou que já realizou 900 ações preventivas em Central Carapina. Dos envolvidos nas quadrilhas, a PM deteve Bleiby Consuelo de Souza, responsável por uma boca de fumo.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais