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Tragédia em Linhares: caso é tratado pela polícia como 'complexo'

Tragédia em Linhares: caso é tratado pela polícia como 'complexo'

Irmãos morreram abraçados durante incêndio que atingiu o quarto em que dormiam; tragédia deixou a cidade em luto

Publicado em 25 de abril de 2018 às 23:53

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Os irmãos Kauã e Joaqui. (Facebook)

O caso do incêndio que matou dois irmãos carbonizados em Linhares, região Norte do Espírito Santo, é tratado pela polícia como "complexo". Ao Gazeta Online, fontes da Polícia Civil afirmaram que atribuem à complexidade o aprofundamento das investigações. Tudo que é colhido, sejam provas testemunhais ou materiais, é mantido sob sigilo.

Acionado pela reportagem, o delegado Romel Pio Júnior, que comanda a investigação, reforçou que detalhes não serão passados, mas garantiu que a Polícia Civil está buscando todas as informações necessárias para que o caso seja concluído.

O INCÊNDIO

Os irmãos Kauã, 6 anos, e Joaquim, 3 anos, morreram carbonizados, na madrugada do último sábado (21), durante incêndio no quarto em que dormiam. Na residência, localizada no Centro de Linhares, morava a família dos meninos: o pastor George Alves, que é pai de Joaquim e padrasto de Kauã; a pastora Juliana Salles, que é mãe das vítimas, e uma terceira criança, que é o filho mais novo do casal.

No dia da tragédia, a mãe das crianças e o filho mais novo estavam em um congresso em Minas Gerais. Segundo o pastor George Alves, ele estava apenas com as crianças Kauã e Joaquim na residência. 

Casa em que irmãos morreram carbonizados. (Raphael Verly | TV Gazeta )

"Minha esposa tinha ido viajar para um congresso de mulheres. Fui na sorveteria com eles, na rua da minha casa, depois fomos à casa de um membro da igreja da qual eu sou pastor. Fomos para casa, dei banho nos dois. Tenho escritório do lado do quarto deles, eles estavam comigo lá vendo filme. Me pediram leite com achocolatado, eu fiz. O Joaquim dormiu primeiro. Fui até o quarto, liguei o ar-condicionado, coloquei ele na cama e liguei a babá eletrônica. Retornei para o escritório, onde eu continuei com o Kauã até mais ou menos meia-noite. Pedi para que ele fosse dormir, ele foi. Coloquei a mão sobre a cabeça dele, nós oramos juntos, eu orei por ele (pausa). Pedi para que Deus o guardasse e protegesse. Nesse momento eu o cobri, saí e fui até o meu quarto. Tomei banho, liguei a babá eletrônica no meu quarto, e dormi. Eu apaguei", relembrou, antes de continuar:

"Por volta de umas 2 horas da manhã eu escutei na babá eletrônica os gritos deles. Eu vi o fogo muito grande e corri desesperado. A casa já não tinha energia, não tinha luz mais, e eu empurrei a porta do quarto deles, que estava entreaberta. Eu só havia encostado por causa do ar-condicionado. Quando eu entrei, escutei o choro deles, a gritaria. Eles gritavam 'pai, pai, pai'. Só que coloquei a mão na cama e não consegui pegar. Eu creio que Kauã desceu para a cama de baixo, era uma beliche, para tentar salvar o irmão. Eles se abraçaram e eu não consegui (chora muito). Estava muito quente, queimei meus pés e minhas mãos. Saí, estava só de cueca gritando, comecei a me desesperar. Duas pessoas que estavam passando vieram e me tiraram da casa. Eu tentei umas três vezes entrar para salvar, mas eu já não ouvia a voz deles", contou.

PAIS E TESTEMUNHAS CHAMADOS PARA DEPOR

Duas testemunhas que tentaram ajudar o pastor George Alves durante o incêndio prestaram depoimento à polícia na tarde desta quarta-feira (25). Os dois homens, que não tiveram os nomes divulgados, chegaram à delegacia por volta das 17 horas para serem ouvidos pelo delegado Romel Pio Júnior, que está à frente do caso.

George Alves e Juliana Salles em frente ao DML de Vitória. (Marcelo Prest | GZ | Arquivo)

Antes disso, na manhã desta quarta, a mãe das crianças Juliana Salles chegou por volta de 9 horas à delegacia e só saiu cerca de quatro horas depois. Este foi o mesmo tempo que durou o depoimento do pastor George Alves, na tarde de terça-feira (24).

Depois, às 14h30 da tarde, o casal George e Juliana foram pela segunda vez à delegacia acompanhados de amigos.

Sobre o que foi falado pelo casal em depoimento, o delegado Romel Pio Júnior preferiu não gravar entrevista. Ele informou que detalhes não serão passados para não atrapalhar as investigações, mas garantiu que a Polícia Civil está buscando todas as informações necessárias para que o caso seja concluído.

IMAGENS DE CÂMERAS RECOLHIDAS

Três dias depois da tragédia, nesta terça-feira (24), uma equipe da Polícia Civil recolheu imagens das câmeras de segurança da rua onde as crianças moravam para ajudar nas investigações sobre as circunstâncias do incêndio e entender a cronologia dos fatos. Os detalhes sobre essa nova perícia ainda não foram divulgados.

DUAS PERÍCIAS

Segundo a Polícia Civil, uma perícia foi feita pela equipe de Linhares no dia da tragédia, ocorrida na madrugada do último sábado (21). Nesta terça (24), foi realizada a perícia da equipe de engenharia da PC que foi denominada, anteriormente, como "complementar", embora não tenham sido divulgados detalhes do que contemplou essa nova perícia.

O pastor George Alves acompanhou o trabalho dos peritos . (Raphael Verly | TV Gazeta)

CORPOS AINDA NÃO FORAM SEPULTADOS

Um pastor amigo da família contou ao Gazeta Online que as crianças foram encontradas mortas pelo Corpo de Bombeiros em um canto do quarto. "Eles estavam abraçados e isso impactou muito quem estava lá porque os dois meninos foram recolhidos em um único saco". 

Os corpos somente poderão ser identificados após resultado de exames de DNA. Os materiais genéticos foram colhidos na última segunda-feira (23). O resultado deve sair em, no máximo, 15 dias.

CIDADE DE LUTO 

Creche Chapeuzinho Vermelho, onde Joaquim Alves estudava. (TV Gazeta)

O município de Linhares amanheceu de luto, nesta segunda-feira (23), após a morte trágica dos irmãos. Nas escolas em que os pequenos Kauã, 6 anos, e Joaquim, 3 anos, estudavam o clima não poderia ser diferente: dor e tristeza.

Kauã Salles estudava o primeiro ano do ensino fundamental na Escola Marilia De Rezende Scarton Coutinho, no bairro Interlagos. Nesta segunda, no portão da unidade, a palavra "luto" simbolizava o que professores e alunos sentiam.

A professora Mara Sena leu mensagem que os amigos de Kauã escreveram. (TV Gazeta)

A professora de Kauã Salles, Mara Sena, lembra como foi entrar na sala e ver o lugar do menino vazio. “Cheguei antes que eles entrassem na sala e bateu uma tristeza. Eu como mãe, avó, imagino a dor que essa mãe está passando”, disse.

A professora leu algumas mensagens que coleguinhas de Kauã fizeram para a pastora Juliana Salles, a mãe das crianças mortas. “Querida Juliana, vou sentir muita saudade do Kauã Salles. Você foi muito legal, Kauã”, escreveram.

O clima de tristeza também na creche que o irmão mais novo, Joaquim Alves, de 3 anos frequentava. A professora Keila Augusto Ferreira Agrizzi disse que não consegue acreditar na tragédia. “Até agora nós estamos tentando acreditar porque para mim parece um pesadelo. Todos estão muito tristes”, disse.

Escola onde Kauã Salles estudava amanheceu de luto. (TV Gazeta)

MORTE DE OUTRO FILHO

Pastores Juliana e George com os dois filhos mortos no incêndio e a filha, que já tinham perdido antes da tragédia deste fim de semana. (Reprodução/Facebook)

O casal de pastores George Alves e Juliana Salles tiveram que lidar recentemente com a morte da filha pequena, há aproximadamente 1 ano e meio, por causa de uma enfermidade, revelou o pastor Eufrásio Marques, amigo da família. "Agora, com essa fatalidade, a gente está pedindo que o Espírito Santo possa estar nos sustentando. Nós estamos muito abalados com essa informação", afirmou Eufrásio.

'DEUS VAI RESTAURAR NOSSOS CORAÇÕES'

Exemplos de fé. Com esta frase, fiéis da Igreja Batista Vida e Paz, de Linhares, descrevem os pastores George Alves e Juliana Salles depois de perderem os filhos Joaquim e Kauã. No mesmo dia da morte dos meninos, o casal esteve na igreja e recebeu o carinho dos amigos.

Em um vídeo é possível ouvir o pastor dizendo para os membros da congregação: "Deus vai restaurar os nossos corações. Deus vai restaurar os nossos corações". As imagens foram publicadas no Facebook na noite de sábado (21). O casal recebeu abraços demorados dos fiéis que se reuniram em volta deles na parte da frente da igreja. 

VEJA FALA DO PASTOR

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